MARIA E SUA MISSÃO NA TERRA

PERGUNTA: —Por que motivos os Mestres Siderais escolheram o espírito de Maria, para ser mãe de Jesus?
RAMATíS: — O Alto escolheu Maria para essa missão porque se tratava de um espírito de absoluta humildade, terno e resignado, que não iria interferir na missão de Jesus. Ela seria a mãe ideal para ele, amorosa e paciente, sem as exigências despóticas dos caprichos pessoais; deixando-o, en­fim, manifestar seus pensamentos em toda sua espontanei­dade original. Aliás, ainda no Espaço, antes de Maria baixar à Terra, fora combinado que as inspirações e orientações na infância de Jesus seriam exercitadas diretamente do mundo invisível pelos seus próprios Anjos Tutelares.
Embora Jesus fosse um espírito sideralmente emanci­pado e impermeável a qualquer sugestão alheia capaz de desviá-lo do seu compromisso messiânico, é evidente que ele poderia ser afetado, em sua infância, por uma influência materna demasiadamente viril, dominadora egocêntrica, com sérios prejuízos para sua obra.
Muitos escritores, cientistas, líderes religiosos, poetas, pin­tores, músicos ou filósofos célebres tiveram sua vida bastante influenciada pelo domínio tirânico dos seus genitores, pre­judicando de certo modo as qualidades extraordinárias de seus filhos.
Jesus teria de desempenhar um trabalho de sentido es­pecífico e de interesse comum a toda humanidade; seu tempo precioso não poderia ser desperdiçado no cultivo de quali­dades artísticas, científicas ou em abstrações filosóficas do mundo profano. A sua obra seria prejudicada, caso seus pais tentassem impor-lhe rumos profissionais que alterassem os objetivos fundamentais da sua missão. Jesus precisaria cres­cer completamente livre e desenvolver suas forças espirituais de modo espontâneo, a fim de estruturar o seu ideal messiâ­nico sem quaisquer deformações, desvios ou caprichos do mundo.
Jesus era um espírito de graduação angélica, distinto de todos os seus contemporâneos; e sua autoridade espiri­tual dava-lhe o direito de contrapor-se à própria família, des­de que ela teimasse em afastá-lo do seu empreendimento mes­siânico! Eis, portanto, o motivo por que o Alto preferiu o espírito dócil e passivo de Maria, para a missão sublime de ser mãe do Messias, protegê-lo em sua infância e não turbar-lhe a missão de amplitude coletiva.
PERGUNTA: — Como entenderíamos melhor essa con­dição passiva de Maria em não intervir ou influir na formação psicológica de Jesus durante sua infância, sendo ela sua genitora?
RAMATÍS: — Maria era todo coração e pouco intelecto; um ser amorável, cujo sentimento se desenvolvera até à ple­nitude angélica. No entanto, ainda precisaria aprimorar a mente em encarnações futuras para completar o binômio "Razão-sentimento", que liberta definitivamente a alma do ciclo das encarnações humanas. Ademais, além de participar do programa messiânico de Jesus, ela também resolvera aco­lher sob o seu amor maternal algumas almas a que se ligara no passado, a fim de ajudá-las a melhorarem o seu padrão espiritual. Embora muito jovem e recém-casada, não se ne­gou a criar os filhos do primeiro casamento de José, viúvo de Débora, e que trouxera para o novo lar cinco filhos me­nores: Matias, Cleofas, Eleazar, Jacó e Judas, estes dois úl­timos falecidos bem cedo. A exceção de Jesus, que era um missionário eleito, os demais filhos de José e Maria eram espíritos comprometidos por mútuas responsabilidades cármicas do passado, cuja existência em comum serviu para amenizar-lhes as obrigações espirituais recíprocas.
Maria era um espírito amoroso, terno e paciente, com­pletamente liberta do personalismo tão próprio das almas primárias e sem se escravizar à ancestralidade da carne. Possuía virtudes excelsas oriundas do seu elevado grau espi­ritual. Cumpria seus deveres domésticos e se devotava heroi­camente à criação da prole numerosa, tão despreocupada de sua própria ventura como o bom aluno que aceita as lições de alfabetização, mas não se escraviza à materialidade da escola. Oferecia de si toda ternura, paciência, resignação e humildade, sem quaisquer exigências pessoais.
Na época de Jesus, as escolas se multiplicavam em Je­rusalém e mesmo pelas cidades adjacentes, pois ensinava-se em casa, nas ruas e nas sinagogas. No entanto o ensino se particularizava por uma imposição religiosa, pois tanto as crianças como os adultos, assim que aprendiam a ler devo­tavam-se a interpretar tudo o que se reportava à religião judaica. Eram estudos do culto, das concepções religiosas quanto às profecias e aos salmos, que transformavam cada alfabetizado em um novo cooperador intelectual e pessoal para o Templo. Sem dúvida, existiam estabelecimentos su­periores, tais como as escolas rabínicas, na maioria filiadas à Escola de Hilel e preferida pelos fariseus, que ensinavam botânica, medicina, agricultura, higiene, direito, arquite­tura etc. Mas as mulheres, afora o conhecimento primário para um entendimento razoável, eram destituídas de cul­tura geral. Maria, no entanto, era muitíssimo considerada em Nazaré, por ser exímia em bordados, costuras, tecela­gem de tapetes de lã e cordas, cujo ofício aprendera du­rante sua estada entre as virgens de Sião, no Templo de Jerusalém. Ela aproveitava todos os instantes disponíveis para contribuir com suas prendas e confecções no orçamento da família, que era precário em face do trabalho modesto de José, na oficina de carpintaria.
Embora mulher meiga e amorosa, anjo exilado na Terra, em face de sua modesta cultura e falta de conhecimentos profundos da psicologia humana. Maria vivia o imediatismo das reações emotivas e sem as complexidades do intelecto. Mas era tão dadivosa ao próximo, assim como a fonte de água pura renova-se à medida que a esgotam; como a rosa que doa incondicionalmente o seu perfume, ela jamais se preocupava em saber qual o mecanismo que transforma o adubo do solo em fragrância tão odorante!
PERGUNTA: — Quereis dizer que devido ao seu tempe­ramento meigo e generoso, Maria pôde viver longe dos con­flitos tão comuns entre a vizinhança, mantendo-se imune aos problemas sentimentais da família? Não é assim?
RAMATíS: — Se o amor doado por uma só criatura fosse suficiente para eliminar as manifestações agressivas e desagradáveis do mundo tão primário, como é a Terra, é evidente que Jesus não seria crucificado, mas entusiasticamente consagrado pelos seus contemporâneos. Assim tam­bém acontecia com Maria, pois embora o seu amor intenso, incondicional e puro pudesse abrigar toda a família, os ami­gos, a vizinhança e até os estranhos, nem por isso pôde livrar-se de certa inveja, intriga, mesquinharia e ciúme de algumas almas de quilate inferior, que também viviam na­quele mundículo de Nazaré.
E' certo que nas imediações do seu lar vivia o povo nazareno, tradicionalmente hospitaleiro, religioso e serviçal; mas esse ouro da alma ainda se achava impregnado da ganga inferior das paixões e dos interesses mesquinhos do inundo. A cupidez, inveja, falsidade e avareza e as murmurações malévolas às vezes também estendiam seus ten­táculos, procurando turbar a paz do lar tranqüilo de Maria e José. Isso os obrigava a estóicas renúncias e abdicação do amor próprio, amenizando os mexericos da vizinhança, in­quieta e rixenta. Só a ternura, a humildade, o amor e a paciência de Maria puderam transformar a intriga e o falatório tempestuoso de alguns, na brisa inofensiva da cor­dialidade. O seu sorriso angélico desfazia o ressentimento mais duro e abrandava o coração mais tirânico. Ela con­tornava com tal doçura os enredos de inveja e de ciúmes, a lhe rondarem o aconchego do lar amigo, que conseguia desarmar os intrigantes mais capciosos e renitentes.
A Galiléia não era um mundo de criaturas santificadas, só porque ali vivia Jesus, o Messias, pois não é o tipo de raça, a latitude geográfica ou a tradição histórica de um povo o que imprime na alma humana o selo da espiritua­lidade. Isso é obra da transformação, do apuro de senti­mentos e da maturidade espiritual, efetuado no seio da alma, e não de acordo com a mudança do ambiente. A alma vil e inferior tanto é própria do povo chinês, polaco ou judeu, como do egípcio ou hindu! E o povo judeu, na época, a par de suas virtudes tradicionais e fé religiosa, era cúpido, fanático, avaro e rixento. Às vezes, o animal ou a ave ino­cente pagava com a vida o fim da discussão violenta que os seus donos empreendiam por "cima da cerca". Doutra feita, a rixa entre as crianças assumia tal dramaticidade, que mobilizava os pais para a troca de imprecações e insultos na defesa das tradições e dos preconceitos da família. E à semelhança do que ainda hoje acontece nos cortiços, às ve­zes, motivos sem importância terminavam em violento pu-gilato.
Felizmente, José, embora homem severo e intransigente, sabia amainar essas tempestades emotivas, aliando-se à mei-guice de Maria para sobrepairar acima dos mexericos peri­gosos. Malgrado tratar-se de uma família numerosa, aquele lar pobre, mas honesto, sustentou o clima psíquico adequado à eclosão das forças espirituais do Menino-Luz. Isto evitou desperdício de tempo e qualquer desvio na marcha messiânica do Mestre Amado.
Enquanto José se assemelhava ao carvalho vigoroso, sob cuja sombra protetora Jesus pôde crescer tranqüilo, Maria era como o sândalo a perfumar o machado da maledicência, intriga e mesquinharia humana, que às vezes tentava ferir-lhe o lar.
PERGUNTA: — Naturalmente, a passividade materna de Maria não só ajudou Jesus a crescer emancipado pelas suas próprias idéias, como também a desvencilhar-se mais cedo dos laços afetivos e sentimentalismos da parentela do mun­do. Não é assim?
RAMATÍS: — Realmente, havia sido combinado no Es­paço, entre os participantes mais íntimos da missão de Jesus, que ele teria de despertar suas próprias forças espirituais e sentimentos angélicos na carne, livre de quaisquer influên­cias educativas alheias. Todavia, ser-lhe-ia proporcionado um ambiente familiar pacífico, compreensivo e seguro, para não lhe perturbar a infância. Em face da contextura espi­ritual superior de Jesus, os apóstolos e cooperadores de sua obra messiânica ainda eram incapacitados para traçar-lhe diretrizes melhores das que ele já planejara no imo de sua alma. Por isso, dispensou qualquer método disciplinador ou guia humano, que devesse orientá-lo no mundo durante os 33 anos de sua vida física. Os seus Anjos Tutelares sempre o desviaram de quaisquer empreendimentos ou gloriosas profanas, embora dignas e meritórias, mas capazes de algemá-lo às preocupações escravizantes da vida humana!
PERGUNTA: — Embora considerando-se a modéstia in­telectual de Maria e o senso prático de José, não lhes teria sido possível perceberem a diferença da natureza espiritual incomum de Jesus, sobre os demais filhos? E isso não os faria se considerar mais venturosos?
RAMATÍS: — Nem sempre os rasgos de genialidade e os arroubos extraordinários dos filhos incomuns são motivos de ventura para os pais. Às vezes confundem arrebatamen-tos de sabedoria com excentricidades inexplicáveis. O certo é que Jesus, embora fosse um menino dócil, respeitoso e algo tímido, era um Espírito de estirpe sideral muito acima do mais alto índice de inteligência e capacidade do homem terreno. Por isso, mesmo ao período de sua infância, ele não se submetia aos padrões e preconceitos comuns da época, porque suas reações mentais e emotivas ultrapassavam as convenções comuns e o provincianismo do povo judeu. Ele não só causava espanto, mas até constrangimento entre os próprios companheiros de folguedos e as pessoas adultas, pois expunha idéias e conceitos bem mais avançados que o co­mum em seu tempo.
Em sua maneira pessoal de interpretar ou julgar as coi­sas de sua terra e de seu povo, o menino Jesus tinha res­postas agudas e inteligentes, porém, honesto no seu falar e jamais contemporizando com a malícia, capciosidade, hipo­crisia ou perversidade. Não era ofensivo, nem petulante; res­pondia a todos com singeleza, respeito e até com timidez; mas ninguém conseguia modificar-lhe o modo franco e sincero de dizer as coisas, pois ira inimigo de evasivas, rodeios ou acomodações interesseiras. Obediente ao seu incon­fundível espírito de justiça, ele até seria contra a família e em favor do adversário, caso este tivesse razão! Afeiçoava-se facilmente a todos os seres e criaturas e os servia com o mesmo espírito de fraternidade e amor, pouco lhe importando a situação social ou humana. No entanto, suas atitudes fran­cas e corajosas punham em choque até o espírito compreen­sivo de seus pais e semeavam indecisões entre os rabinos da Sinagoga. Muitas vezes, os adultos ficavam confusos ante a solução inesperada, de um nível de justiça acima do en­tendimento comum, que o menino Jesus expunha em suas dissertações vivas e eloqüentes.
Semelhante situação confundia os seus familiares mais íntimos, ainda imaturos e incapazes de entenderem a fala do anjo e do sábio sideral, que não se disfarça sob as suti­lezas capciosas e próprias dos homens empenhados na luta pelos interesses humanos! O menino Jesus, genial e franco, jamais podia enquadrar-se no esquema prosaico da criança comum, cujas emoções e pensamentos são um reflexo dos costumes e preconceitos da sua época. Evidentemente, Ma­ria e José não podiam entrever naquele filho singular o fulgor e a tempera do Messias, quando ele causava críticas e despertava censuras alheias pelos seus modos excêntricos ou estranhos! Ambos ainda não estavam capacitados para compreenderem uma conceituação moral tão-pura e tão impes­soal do ser humano, contrária às tradições seculares da vida do povo judeu!
PERGUNTA: — Maria jamais acreditou na missão de seu filho Jesus, ou chegou a pressenti-la próximo de sua morte?
RAMATÍS: — Graças à sua natureza mediúnica, Maria recebeu inúmeros avisos e advertências do seu guia espi­ritual, o qual insistia em informá-la da estirpe angélica de seu filho. Mas em face de suas obrigações cotidianas junto à família numerosa, ela esqueceu, pouco a pouco, as mensagens mediúnicas que lhe foram transmitidas nas vésperas de casar e antes de nascer Jesus. Mais tarde, em alguns raros momentos, sentia-se dominada por essa reminiscência, quando uma voz oculta lhe parecia confabular quanto à na­tureza incomum de seu filho.
Quando Jesus deixou a família, decidindo-se pelas suas peregrinações através das estradas da Judéia e de outros lu­gares próximos, Maria esqueceu os últimos resquícios de lem­branças que ainda pudessem avivar-lhe a crença dele ser um missionário. Após a morte de José, quando Jesus havia completado vinte e três anos, agravou-se o orçamento do lar e ela viu-se obrigada a mobilizar todos os esforços para superintender os gastos da família. Felizmente, meses de­pois, soube que Jesus chefiava um grupo de discípulos cons­tituído por pescadores, camponeses, homens do povo e al­gumas mulheres devotas que o seguiam incendidas por um entusiasmo religioso contagiante! Maria não se surpreendeu com tais notícias e sentiu-se tranqüila por ver seu filho de­votado à tarefa pacífica de rabi itinerante e participando da inspiração religiosa do seu povo. Isso o ajudaria a sua­vizar aquela inquietação estranha, o misticismo exagerado e a rebeldia aos costumes e tradições comuns.
Maria sentiu-se grata ao Senhor pelo ensejo de seu fi­lho preferir a profissão liberal e religiosa de interpretar en­tre os seus conterrâneos as regras e o repositório da sabe­doria de Moisés. Mas os irmãos de Jesus, afora Eleazar, filho de José e Débora, e mais tarde Tiago, o menor, não lhe apreciaram devidamente a tarefa de rabi das estradas, pois isso não contribuía de modo algum para o orçamento precário da família. Acoimavam-no de chefe de uma corte de malandros e curiosos, que sonhavam entusiasticamente com um reino cômodo e próspero sem ficar devendo obriga­ções. Matias, Cleofas, conhecido por Simão, Eleazar e Elisabete já haviam casado e cooperavam na receita financeira e ajudavam Maria, já com 47 anos de idade, mas ainda se mostrava sadia e moça. No entanto, ela não escondia a sua afeição incondicional por Jesus, Espírito a que se sentia afeiçoada no imo da alma há muitos milênios. Por isso o desculpava e o defendia, malgrado as intrigas e a maledicência geradas pelos despeitados, a seu respeito.
Mas, à medida que se aproximava o término da missão de Jesus, embora ela ignorasse isso em vigília, uma estra­nha melancolia e esquisito sofrimento lhe invadia a alma. Súbito, sua alegria se transformava em temor; uma incontida dor lhe tomava o peito e desejaria espantar de si uma visão oculta que receava enfrentar na realidade. Incons­cientemente, Maria se preparava para testemunhar os qua­dros mais dolorosos de sua vida, que seriam o martírio e á crucificação do seu querido filho, isento de culpa e de mal­dade! Alguns o chamavam de profeta de Israel, outros de Libertador do povo judeu; porém, havia os que o diziam um louco ou imbecil, enquanto o Sinedrio espionava, ten­tando conhecer-lhe os projetos aparentemente sediciosos. Era, pois, um santo para uns ou perigoso anarquista para outros! obviamente, não havia razões plausíveis e justificações capazes de convencer Maria quanto à gloriosa missão espi­ritual de seu extremado filho, assim como a família do prín­cipe Sáquia-Múni jamais previu que o seu descendente seria Buda, o Iluminado Instrutor moral da Ásia! Enfim, Jesus talvez não passasse de um modesto Rabi da Galiléia, entu­siasmado pela obstinação de salvar os homens e redimir os pecados do mundo, conduzindo-os para um fantasioso reino semelhante à pátria de Israel! No entanto, quando ele, hu­milde e dócil como um cordeiro, aceitou o seu destino cruento sem mover os lábios, na mais silenciosa queixa, Maria, então, pôde reconhecer ali no sacrifício da cruz o Messias — o Salvador dos homens!
RAMATÍS
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publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 16:29
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