PRIORIDADE DE MADALENA

“E Jesus, tendo ressuscitado na manhã do primei­ro dia da semana, apareceu primeiramente a Maria Madalena, da qual tinha expulsado sete demônios”. (Marcos, 16:9)
Os quatro evangelistas são unânimes na afirmação de que Jesus, após a sua crucificação, apareceu, em espírito, primeiramente a Maria Madalena, antes mesmo de tornar-se visível aos apóstolos.
Qual a razão dessa prioridade de Maria Madalena, quando seria de se esperar que Ele desse preferência em aparecer primeiramente à sua própria mãe ou a algum dos seus irmãos?
O que teria levado o Mestre a não procurar, em primeiro lugar, Pedro, João ou Tiago, os três apóstolos que, invariavelmente, o seguiam nos episódios mais importantes de sua vida?
Porque o Mestre não se manifestou com primazia a qualquer outro discípulo —dentre os quais Natanael, que merecera o elogio de ser “um verdadeiro israelita em quem não havia dolo”?
Podemos afirmar, contudo, que a escolha do Messias foi das mais acertadas, pois, se perlustrarmos as páginas dos Evangelhos — de João Batista ao Apocalipse — talvez não encontremos uma personalidade que tenha, em tão curto prazo, triunfado em batalha tão difícil de ser vencida.
Pedro lutou contra a indecisão, a falta de fé e o apego às tradições inócuas;
Paulo travou gigantesca ba­talha contra os preconceitos das leis religiosas e contra o fanatismo;
Judas Escariotes, embora fracassado, deve ter, lógica­mente, lutado contra a tentação da riqueza; o publicano Zaqueu venceu a batalha contra o enriqueci­mento ilícito; entretanto, Maria Madalena venceu o maior conflito, lutando contra inúmeros vícios, entre os quais alguns dos mais degradantes, saindo plenamente vitoriosa da peleja. E ninguém desconhece os percalços de uma luta sem quartel contra o império dos vícios.
Madalena, dentre todos aqueles que conviveram com o Mestre, foi quem dispendeu maior soma de esforços em favor da própria reforma moral, conseguindo, com sua fé inabalável remover as montanhas de vícios que jaziam no recesso do seu ser.
Após ter Jesus expelido dela uma legião de sete espíritos obsessores, Madalena se converteu incondicionalmente à Boa-Nova, transmudando-se numa das mais equilibradas assessoras do Mestre, ao ponto de deixar para trás todas as vantagens transitórias que o mundo lhe oferecia.
Amando o Cristo na verdadeira acepção do termo e dedicando-se com abnegação à portentosa obra reformista da qual Ele era o porta-voz, Madalena se enquadrou nos ensinos evangélicos do “amor que cobre a multidão de pecados”, segundo Paulo, e do “muito será perdoado a quem muito amou”, segundo Jesus. Maria Madalena tornara-se a mulher compenetrada dos seus deveres e plenamente cônscia das imensas responsabilidades da criatura perante o Criador
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O Espiritismo nos ensina que a alma humana, em seu interminável processo evolutivo, é submetida às mais variadas provas, imprescindíveis para se ascender aos pá­ramos mais elevados da espiritualidade.
No decurso desses processos probatórios, através dos quais a alma burila-se e adquire virtude e sabedoria, é imperioso ser-se suficiente­mente forte para não falir. A falta de vigilância, a desídia, a prática de atos iníquos, são portas abertas pa­ra a queda da alma, e essa queda, inapelavelmente, acarreta os agudos e inevitáveis ciclos expiatórios, que se processam pelas vidas sucessivas do espírito na carne.
Na quase absoluta totalidade, a expiação é o caminho fatal para a reabilitação e soerguimento da alma. Entretanto, existe outra senda: a prática do amor, senda essa que muito dificilmente é escolhida por alguém.
Madalena havia pecado muito, mas, o seu arrependi­mento sincero, seu amor à causa cristã que havia esposado e sua eficiente colaboração no Messiado de Jesus Cristo, certamente fizeram com que se apresentasse aos olhos do Mestre como aquela que melhor havia assimilado e posto em prática os seus ensinamentos, daí a prioridade que gozou ao ser a primeira criatura encarna­da a receber a visita do Espírito de Jesus, após a consumação do hediondo sacrifício do Calvário.
Paulo Alves De Godoy
Fonte: Correio Fraterno – dezembro, 1967
publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 20:06
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