Segunda-feira, 18 De Janeiro,2010

ASPECTO RELIGIOSO DA DOUTRINA ESPÍRITA

 

Divaldo Pereira Franco

O homem, herdeiro dos seus próprios atos, chega à atualidade, assinalado pela decepção, pela amargura e vencido pelo egoísmo.

Os séculos que varreram povos e edificaram civilizações foram, também, responsáveis pela quedas das suas construções, que hoje remanescem como escombros desolados, documentando a fragilidade das conquistas de natureza material.

Os avanços tecnológicos dos últimos tempos não se fizeram acompanhar pelas realizações de natureza moral, decorrendo disto os descalabros e desatinos que se observam em toda parte.

Ao lado das imensas conquistas da Ciência aliada à Tecnologia permanecem as indiferenças pelo homem, em si mesmo, mergulhando nas ambições desmedidas e na caça ao poder exacerbado, que respondem pela miséria social e econômica, que domina o Planeta em todas as direções. Centenas de milhões de vidas se estiolam ao abandono e os índices de crimes, de violência e de loucura parecem informar que o homem se perdeu a si mesmo...

Tal ocorrência resulta do fracasso do materialismo, que acenou à criatura a ilusão de mundo de mentira e propôs-lhe uma felicidade imediata, não maior do que uma quimera

As guerras sucessivas e os desajustes humanos provaram que as realizações não estavam dispostas a conduzir o individuo para o bem. Equipadas com dogmas e cerimônias complexas, nas quais, igualmente se fizeram vítimas dos seus pastores desalmados, mais interessados nos valores terrestres do que nos bens espirituais ou na felicidade das ovelhas.

Fomentadoras de interesses servis, lançaram-se, umas contra as outras, promovendo mais aflições do que consolos, e desligando de Deus, ao largo do tempo, as mentes humanas.

Neste báratro, surgiu a Doutrina Espírita, desde 1857, com propostas novas, alicerçadas nos fatos demonstrados em laboratório, e portadora de uma filosofia comportamental excelente, tendo como apoio o Cristianismo primitivo, que revive em toda a sua potencialidade.

Ciência que investiga, filosofia que esclarece e religião que conduz, o Espiritismo vem, no momento próprio, quando a cultura o pode assimilar e do homem vivê-lo, a fim de resgatar o Espírito do Cristo das Igrejas ortodoxas apaixonadas, cujos fieis, com raras e justas exceções, não O vivem nem O amam...

Momento este, altamente significativo e decisivo para o homem, de retorno ao Cristianismo, que o Espiritismo explica e desvela, abrindo as portas ao amor e à caridade, como propostas libertadoras para a consciência e o coração, até este momento ergastulados nos calabouços das paixões primitivas, destruidoras.

Atraindo milhões de pessoas, aos seus postulados, "Consolador" ilumina a mente e arranca, pelas raízes, os males que geram aflições, evitando que futuras lágrimas de dor venham aljofrar os olhos dos homens.

Fixando a atenção na sua feição religiosa, exaltamos a sabedoria do mestre Allan Kardec que no-lo ofereceu, escoimado de superstições e místicas, fórmulas e sacerdócios organizados, muito comuns a outras religiões, o que, todavia,não o exonera de ser vivido religiosamente, face às possibilidades de mudar os rumos atuais pelos quais segue a Humanidade, na busca da plenitude.

Nas sua grandeza, a Doutrina Espírita abarca o conhecimento gera, que nela jaz, em síntese, esplendendo na lição da Caridade, fora da qual, não há salvação.

Podemos, assim, constatar que em toda a Codificação está presente o espírito religioso, completando os conteúdos científicos e filosóficos, nos quais se apóia toda a Revelação.

Ao iniciar o colossal trabalho de interrogação aos Espíritos, a primeira questão apresentada por Allan Kardec é a respeito de Deus, e a última, prosseguindo em torno das indevassadas proposições do Infinito, defrontando-se, na problemática, a criatura e o seu Criador, para concluir, magistralmente, a Obra, com uma análise sobre o reino do Cristo nos corações e a predominância do bem no relacionamento social. Assim, ressalta a tese da destinação humana, cuja etapa final é a sua plenitude, a perfeição relativa que lhe está reservada. ("O Livro dos Espíritos" – Questões 1 e 1018/19.).

Nesse processo de evolução, conforme acentuam os Espíritos, tudo marcha na direção de Deus. "desde o átomo até o arcanjo" (Questão 540 – "O Livro dos Espíritos"), apresentando o mecanismo da "Progressão dos Espíritos", a todos facultando, a Soberana Lei, a oportunidade de desenvolver as potencialidades que lhes jazem inatas e alcançarem a felicidade, conforme as promessas de Jesus.

Deus, no Espiritismo,deixa de ser o Criador antropomórfico, para tornar-se a "inteligência suprema e causa primeira do Universo" (Questão 1 – "O Livro dos Espíritos") acessível à compreensão relativa dos homens, que lhe penetram a justiça, segundo as lições apresentadas pelo Nazareno.

O Evangelho, nessa obra fundamental, ressurge com toda a sua pujança, a partir do debate sobre os "anjos e demônios", que se inicia na Questão nº 128 e prosseguem em diversas outras.

Exalando, no seu texto, o odor religioso, na sua mais elevada qualidade, Kardec enfrenta o materialismo e o combate com lógica, apoiado pelos reveladores Espirituais, culminando com a questão a respeito do ser mais perfeito que Deus ofereceu ao homem para servir-lhe de modelo e guia, e que obteve a resposta, sintética e insuperável: Jesus. (Questão 625, de "O Livro dos Espíritos").

Na análise das "Leis Morais", a de adoração se apresenta como aquele que propicia ao homem a perfeita compreensão da sua pequenez diante da Majestade do seu Criador, elucidando que a verdadeira adoração é do coração (Questão 653 de "O Livro dos Espíritos"), anulando qualquer tipo de culto exterior e cerimonial que descaracterizaria a grandeza e o valor do seu compromisso com a razão e a lógica.

Aprofundando o assunto, explica, Allan Kardec, posteriormente: "Demolindo nas religiões o que é obra dos homens e fruto de sua ignorância das leis da Natureza... Afastando os acessórios, ela prepara as vias para a unidade." ("A Gênese" – Cap. XVII, item 32.).

Por essência, o homem é um ser religioso. O seu atavismo antropológico-sociológico indu-lo ao culto religioso, à adoração natural a Deus, aos elementos essenciais da fé e, depois, da razão, na busca da conscientização da sua imortalidade. Este sentimento ressalta na prece, na ação da caridade, no exercício das virtudes, na superação da sua animalidade, no sacrifício para superar os próprios limites humanos.

A prece é-lhe de vital importância, a fim de se sintonizar com Deus, louvando-O, pedindo-Lhe e agradecendo-Lhe, em uma submissão racional e em uma libertação plena, ao entender as Leis que governam a vida.

Em "O Livro dos Espíritos", Parte Terceira (Das Leis Morais), Allan Kardec encara os desafios morais que esperam pelo indivíduo e analisa as grandezas e misérias humanas,suas paixões e ideais, seus vícios e virtudes em um formoso caleidoscópio de informações lúcidas quão atuais.

Em toda a metodologia de "O Livro dos Médiuns", encontramos a preocupação dos Espíritos e de Kardec, no que diz respeito à conduta moral dos intermediários e à sua responsabilidade em torno da vida futura que a todos nos aguarda.

Após a análise profunda das questões pertinentes ao intercâmbio entre os Espíritos e os homens, as conseqüências do bom ou mau uso da mediunidade, dos perigos da obsessão, são apresentadas comunicações que facultam uma melhor compreensão na natureza das criaturas após a desencarnação, que a ninguém modifica de golpe, e, por fim, as excelentes advertências e orientações das Entidades Venerandas, entre as quais, as oportunas palavras de Santo Agostinho: Confiai na bondade de Deus e sede bastante clarividentes para perceberdes os preparativos da vida nova que ele vos destina."

"O Evangelho segundo o Espiritismo", no seu Prefácio, abre as suas páginas com a extraordinária mensagem do Espírito de Verdade:

"Os Espíritos do Senhor, que são as virtudes dos Céus, qual imenso exército que se movimenta ao receber as ordens do seu comando, espalham-se por toda a superfície da Terra e, semelhantes a estrelas cadentes, vêm iluminar os caminhos e abrir os olhos aos cegos.

"Eu vos digo, em verdade, que são chegados em que todas as coisas hão de ser restabelecidas no seu verdadeiro sentido, para dissipar as trevas, confundir os orgulhosos e glorificar os justos.

"As grandes vozes do Céu ressoam como sons de trombetas, e os cânticos dos anjos se lhes associam. Nós vos convidamos, a vós homens, para o divino concerto. Tomai da lira, fazei uníssonas vossas vozes, e que, num hino sagrado, elas se estendam e repercutam de um extremo a outro do Universo.

"Homens, irmãos a quem amamos, aqui estamos juntos de vós. Amai-vos, também, uns aos outros e dizei do fundo do coração, fazendo as vontades do Pai, que está no Céu: Senhor! Senhor!... e podereis entrar no reino dos Céus."

Fundamentando-se nas mesmas questões abordadas por todas as religiões, e a que Kardec se referirá, posteriormente: "A Ciência e a Religião são as duas alavancas da inteligência humana: uma revela as leis do mundo material e a outra as do mundo moral..." ("O Evangelho segundo o Espiritismo", Cap. I, nº 8.) E, logo depois, no Capítulo XXIV, item 16, da obra referida, volta a dizer: "Pois que a doutrina que professam (os adeptos do Espiritismo) mais não é do que o desenvolvimento e a aplicação da do Evangelho, também a eles se dirigem as palavras do Cristo."

Detendo-se em uma análise mais profunda a respeito dos vínculos entre a Ciência e a Religião, no livro acima referido (Cap. 1), assevera o Codificador, ainda, no Item 8:

"A Ciência e Religião são as duas alavancas da inteligência humana: uma revela as leis do mundo material e outra as do mundo moral. Tendo, no entanto, essas leis o mesmo princípio, que é Deus, não podem se contradizer. Se fossem a negação uma da outra, uma necessariamente estaria em erro e a outra com a verdade, porquanto Deus não pode pretender a destruição de sua própria obra. A incompatibilidade que se julgou existir entre essas duas ordens de idéias provêm apenas de uma observação defeituosa e de excesso de exclusivismo, de um lado e de outro. Daí um conflito que deu origem à incredulidade e à intolerância.

São chegados os tempos em que os ensinamentos do Cristo têm que ser completados; em que o véu intencionalmente lançado sobre algumas partes desse ensino tem de ser levantado; em que a Ciência, deixando de ser exclusivamente materialista, tem de levar em conta o elemento espiritual e em que a Religião, deixando de ignorar as leis orgânicas e imutáveis da matéria, como duas forças que são, apoiando-se uma na outra e marchando combinadas, se prestarão mútuo concurso. Então, não mais desmentida pela Ciência, a Religião adquirirá inabalável poder, porque estará de acordo com a razão, já se lhe não podendo mais opor a irresistível lógica dos fatos."

No Capítulo IX, Item 8, do mesmo livro,explica o Codificador: "A doutrina de Jesus ensina, em todos os seus pontos, a obediência e a resignação, duas virtudes companheiras da doçura e muito ativas, se bem os homens erradamente as confundam com a negação do sentimento e da vontade. A obediência é o consentimento da razão; a resignação é o consentimento do coração, forças ativas ambas (...) O pusilânime não pode ser resignado, do mesmo modo que o orgulhoso e o egoísta não podem ser obedientes."

A seguir, no Capítulo XV, Itens 8 e 9, considera.

(...) "Fora da caridade não há salvação – assenta num princípio universal e abre a todos os filhos de Deus acesso à suprema felicidade (...) consagra o princípio da igualdade perante Deus e da liberdade de consciência (...) os homens são irmãos e, qualquer que seja a maneira por que adorem o Criador, eles se estendem as mãos e oram uns pelos outros."

Fora da Verdade

Ainda no Capítulo I, da referida obra, no item 6, Kardec assevera: "O Espiritismo é a terceira revelação da lei de Deus" e prossegue no de número 7: "Assim como o Cristo disse: "Não vim destruir a lei, porém cumpri-la, também o Espiritismo diz: "Não venho destruir a lei cristã; mas dar-lhe execução." Nada ensina em contrário ao que ensinou o Cristo; mas desenvolve, completa e explica, em termos claros e para toda gente, o que foi dito apenas sob forma alegórica. Vem cumprir, nos tempos preditos, o que o Cristo anunciou e preparar a realização das coisas futuras. Ele é, pois, obra do Cristo, que preside, conforme igualmente o anunciou, à regeneração que se opera e prepara o reino de Deus na Terra."

Ao estudar O Cristo Consolador, no Capítulo VI, de "O Evangelho segundo o Espiritismo", toda a floração evangélica estende o perfume da esperança, fazendo-se ouvir novamente o conteúdo sublime da palavra de Jesus, qual ocorreu nos memoráveis dias da Sua jornada terrestre. E, ao final do item 5, deste notável Capítulo, o Espírito de Verdade orienta: "Espíritas! Amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo."

No Capítulo XXVI, de "O Evangelho segundo o Espiritismo", no Item 10, com imensa propriedade, escreve o Codificador: "A mediunidade é coisa santa, que deve ser praticada santamente, religiosamente." Estudava o mestre a questão da Mediunidade gratuita, objetivando o sentido superior do seu ministério e o faz de forma elevada, que a torna uma bênção a ser repartida religiosamente, desinteressadamente.

"O Céu e o Inferno", de Allan Kardec, é toda uma obra religiosa, na qual o extraordinário pensador propõe um Código penal da vida futura – 1a. Parte – Cap. VII, 33 itens extraordinários, dignos de figurar em qualquer legislação que dignifique a criatura humana. Ademais, as comunicações repetem os estados dos Espíritos, nos diferentes estágios do processo depurador, esclarecendo os velhos conceitos sobre o inferno, o purgatório e o céu, afirmando a justiça e a bondade de Deus em todos os seus transcendentes aspectos.

Nos dezoito capítulos de "A Gênese", uma terça parte deles aborda questões palpitantes e sempre oportunas da lições e ensinamentos de Jesus, fazendo ressaltar a tarefa do Espiritismo, na sua condição de "O Consolador" (João: 14: 16 e seguintes), elucidando, com as luzes que o projeta, as passagens obscuras e traçando um roteiro formoso a respeito da sociedade do futuro e da criatura humana regenerada, antecipando a Era Nova que dominará a Terra.

Em um momento extraordinário, ("A Gênese", Cap. 1, 42) afirma Kardec: "(...) reconhece-se que o Espiritismo realiza todas as promessas do Cristo a respeito do Consolador anunciado. Ora, como é o Espírito de Verdade que preside ao grande movimento da regeneração, a promessa da sua vinda se acha por essa forma cumprida, porque, de fato, é ele o verdadeiro Consolador."

No mesmo Capítulo, Item 12, elucida: "O Espiritismo, dando-nos a conhecer o mundo invisível que nos cerca e no meio do qual vivíamos sem o suspeitarmos, assim como as leis que o regem, sua relações com o mundo visível, a natureza e o estado dos seres que o habitam e, por conseguinte, o destino do homem depois da morte, é uma verdadeira revelação, na acepção cientifica da palavra."

No Item 13, informa: "Por sua natureza, a revelação espírita tem duplo caráter: participa ao mesmo tempo da revelação divina e da revelação científica", prosseguindo, no de número 55: "As descobertas que a Ciência realiza, longe de o rebaixarem, glorificam a Deus; unicamente destroem o que os homens edificaram sobre as falsas idéias que formaram de Deus", acrescentando que: "Caminhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrassem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificaria nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará".

Anteriormente, afirmara o mestre, na Questão número 24 de "O Livro dos Médiuns": O Espiritismo repousa sobre as bases fundamentais da religião...", naturalmente confirmando o que se encontra exposto em "O Livro do Espíritos", na conclusão V: "O Espiritismo é forte porque assenta sobre as próprias bases da Religião: Deus, a alma, as penas e as recompensas futuras"; concluindo: " ... O Espiritismo não traz moral diferente da de Jesus."(-Idem, Conclusão VIII)".

Estes argumentos já foram explicitados em "O que é o Espiritismo", quando o Codificador com segurança expõe: "O Espiritismo possui, porém, uma outra utilidade, mais positiva: é a natural influencia moral que exerce. Ele é a prova patente da existência da alma, da sua individualidade depois da morte, da sua imortalidade, da sua sorte futura; é, pois, a destruição do materialismo..." (Segundo Diálogo – O Cético – Utilidade prática das manifestações – pág. 71.) E mais adiante: " O Espiritismo tem por fim combater a incredulidade e suas funestas conseqüências, fornecendo provas patentes da existência da alma e da vida futura. (...) os que têm uma fé religiosa e a quem esta fé satisfaz, dele não têm necessidade." (Terceiro Diálogo – O Padre – pág.84)

Na singela e bem elaborada obra "O Espiritismo na sua expressão mais simples" (Ed. FEB, 1921, pág. 14), afirma Kardec: Do ponto de vista religioso, o Espiritismo tem por base as verdades fundamentais de todas as religiões: Deus, a alma, a imortalidade, as penas e recompensas futuras; mas independe de qualquer culto particular." (Pág. 15)

E, na "Revista Espírita", de janeiro de 1863, à pág. 18, assevera: "Pelas provas patentes que ele (O Espiritismo) dá da existência da alma e da vida futura, base de todas as religiões, é a negação do materialismo..."

Ainda na Revista Espírita de 1860, pág. 308, na Resposta do Sr. Allan Kardec ao Sr. Redator da Gazeta de Lyon, afirma o Codificador: "O Espiritismo é inteiramente baseado no dogma da existência da alma, sua sobrevivência ao corpo, sua individualidade após a morte, sua imortalidade, as penas e as recompensas futuras. Não só sanciona estas verdades pela teoria; sua essência é de lhes dar provas patentes. Eis por que tanta gente que em nada acreditava foi reconduzida às idéias religiosas. Toda a sua moral é apenas o desenvolvimento das máximas do Cristo (...) Romperam eles com toda crença religiosa, eles que se apóiam na base mesma da religião?" E dando prosseguimento aos seus notáveis argumentos, esclarece: "Entre eles (os operários), muitos maldiziam seu trabalho penoso; hoje, o aceitam com a resignação do cristão, como uma prova..."

Em "Obras Póstumas" (Manifestação dos Espíritos, Item 7 – pág. 39), confirma: "O Espiritismo, que se funda no conhecimento de leis até agora incompreendidas não vem destruir os fatos religiosos, porem sancioná-los, dando-lhes uma explicação racional." E acrescenta (pág. 235 da mesma obra): "O Espiritismo é uma doutrina filosófica de efeitos religiosos, como qualquer filosofia espiritualista, pelo que forçosamente vai ter às bases fundamentais de todas as religiões: Deus, a alma e a vida futura. Mas, não é uma religião constituída, visto que não tem culto, nem rito, nem templos e que, entre seus adeptos, nenhum tomou, nem recebeu o título de sacerdote ou de sumo sacerdote." (Ligeira resposta aos detratores do Espiritismo.)

Não havendo culto no Espiritismo, como se expressam os Espíritas? Através da comunhão mental e interior com Deus, com Jesus, com os Espíritos Superiores, sem a utilização de quaisquer utensílios materiais, indumentárias ou cerimônias. É, conforme a expressão de Bérgson, a "Religião psíquica", consoante a denominou A. Conan Doyle (Herculano Pires – Introdução à sua tradução de "O Livro dos Espíritos" pág. 24 – Edicel). Ainda, Herculano Pires ("Boletim Informativo" da União Municipal Espírita de Bauru, - SP – Edição Especial – O Caráter Religioso do Espiritismo) acentua:

"A partir desse momento (quando Kardec indaga "Que é Deus?") não temos apenas a Religião Espírita, mas também a sua Teologia. O Estudo da Natureza de Deus iniciado em "O Livro dos Espíritos" traz a solução dos problemas que aturdem neste momento os teólogos do Mundo. Os teólogos foram confundidos por Deus e já criaram até mesmo a Teologia da Morte de Deus. Mas a Teologia Espírita surge no horizonte em sua nova luz. São chegados os tempos em que todas as coisas devem ser restabelecidas no seu verdadeiro sentido, como diz o prefácio mediúnico de "O Evangelho segundo o Espiritismo".

"Como vemos, a tese religiosa é fundamental no Espiritismo. Negar a existência da Religião Espírita é negar a lei de adoração e suas manifestações objetivas em todo o Mundo, em todas as épocas. Negar a existência de uma teologia Espírita é negar auxílio, o indispensável auxílio do Espírito de Verdade aos teólogos atormentados do nosso tempo. A Terra, dizia Pitágoras, é a morada da opinião. É muito fácil opinar sobre as coisas e não faltam opiniões pessoais sobre os mais graves problemas do Espiritismo. Mas não são as opiniões pessoais que resolvem. Temos que enfrentar cada tema Espírita nos textos da Codificação. Só eles nos dão a verdade que buscamos."

Magistralmente, Kardec reportou-se aos verdadeiros espíritas, ao enunciar: "Os que não se contentam com admirar a moral espírita, que a praticam e lhe aceitam todas as conseqüências." (...) "A caridade é, em tudo, a regra de proceder a que obedecem. São os verdadeiros espíritas, ou melhor, os espíritas cristãos." (os destaques são de Allan Kardec.) (... Ce sont là les vrais spirites ou mieux les spirites chrétiens.") ("O Livro dos Médiuns", Primeira Parte, Cap. III – Do Método – Item 28, 3..) ("Reformador", 10/1977 – Ed. FEB.)

Posteriormente, Kardec volta a comentar: "Não empaneis esse clarão por sentimento e atos indignos dos verdadeiros Espíritas, de espíritas cristãos." (... "n’em termissez pás l’éclat par des sentiments et des actes indignes do vrais Spirites, de Spirites Chrétiens." ("Viagem Espírita em 1862" – O Clarin, 1º edição, 1968, pág 92; edição francesa da Union Spirite Kardeciste Belge, s/d, p. 63.) Idem, idem, pág.10.)

Mais tarde, ele anota: "Aproxima-se a hora em que te será necessário apresentar o Espiritismo qual ele é, mostrando a todos onde se encontra a verdadeira doutrina ensinada pelo Cristo. Aproxima-se a hora em que, à face do céu e da Terra, terás de proclamar que o Espiritismo é a única tradição verdadeiramente cristã e a única instituição verdadeiramente divina e humana." – ("Obras Póstumas" – Segunda Parte – Livro da Previsões Concernentes ao Espiritismo, comunicação obtida em Ségur, aos 9/8/1863, a propósito da elaboração de "O Evangelho segundo o Espiritismo".) (Idem, Idem.)

Igualmente significativo é o conceito: "... a Doutrina que professam (os adeptos do Espiritismo) mais não é do que o desenvolvimento e a aplicação da do Evangelho, também a eles se dirigem as palavras do Cristo. Eles semeiam na Terra o que colherão na vida espiritual." ("O Evangelho segundo o Espiritismo", Cap. XXIV, Item 16.)

Por fim, na tese É o Espiritismo uma Religião?, extraímos do discurso de Allan Kardec, em 1º de novembro de 1868, na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, estampado na "Revue Spirite", de dezembro do mesmo ano, págs. 353 a 362 e traduzido por Júlio Abreu Filho, Edicel, págs. 356/360, ano XI, nº 12:

"Dissemos que o verdadeiro objetivo das assembléias religiosas deve ser a comunhão de pensamentos; é que, com efeito, a palavra religião quer dizer laço. Uma religião, em sua acepção nata e verdadeira, é um laço que religa os homens numa comunidade de sentimentos, de princípios e de crenças. Consecutivamente, esse nome foi dado a esses mesmos princípios codificados e formulados em dogmas ou artigo de fé. É nesse sentido que se diz: a religião política; entretanto, mesmo nesta acepção, a palavra religião não é sinônimo de opinião; implica uma idéia particular; a de fé conscienciosa; eis por que se diz também: a fé política."

"O laço estabelecido por uma religião, seja qual for o seu objetivo, é, pois, um laço essencialmente moral, que liga os corações, que identifica os pensamentos, as aspirações, e não somente o fato de compromissos materiais, que se rompem à vontade, ou da realização de fórmulas que falam mais aos olhos do que ao espírito. O efeito desse laço moral é o de estabelecer entre os que ele une, como conseqüência da comunidade de vistas e sentimentos, a fraternidade e a solidariedade, a indulgência e a benevolência mútuas. É nesse sentido que também se diz: a religião da amizade, a religião da família.

Se assim é, perguntarão, então o Espiritismo é uma religião? Ora, sim, sem dúvidas senhores. No sentido filosófico, o Espiritismo é uma religião, e nós no glorificamos por isto, porque é a doutrina que funda os elos da fraternidade e da comunhão de pensamentos, não sobre uma simples convenção, mas sobre bases mais sólidas: as mesmas leis da Natureza.

Por que, então, declaramos que o Espiritismo não é uma religião? Porque não há uma palavra para exprimir duas idéias diferentes, e que, na opinião geral, a palavra religião é inseparável da de culto; desperta exclusivamente uma idéia de forma, que o Espiritismo não tem. Se o Espiritismo se dissesse uma religião, o público não veria aí senão uma nova edição, uma variante, se quiser, dos princípios absolutos em matéria de fé; uma casta sacerdotal com o seu cortejo de hierarquias, de cerimônias e privilégios; não o separaria das idéias de misticismo e dos abusos contra os quais tantas vezes se levantou a opinião pública.

Não tendo o Espiritismo nenhum dos caracteres de uma religião, na acepção usual do vocábulo, não podia nem devia enfeitar-se com um título sobre cujo valor inevitavelmente se teria equivocado. Eis por que simplesmente se diz: doutrina filosófica e moral."

"Crer num Deus todo-poderoso soberanamente justo e bom; crer na alma e em sua imortalidade; na preexistência da alma como única justificativa do presente; na pluralidade das existências como meio de expiação, de reparação e de adiantamento moral e felicidade crescente com à perfeição; na perfectibilidade dos seres mais imperfeitos; na do bem e do mal conforme o princípio: a cada um segundo as suas obras; na igualdade da justiça para todos, sem exceções, favores nem privilégios para nenhuma criatura; na duração da expiação limitada pela imperfeição; no livre-arbítrio do homem, que lhe deixa sempre a escolha entre o bem e o mal; crer na continuidade que religa todos os seres passados, presentes e futuros, encarnados e desencarnados; considerar a vida terrestre como transitória e uma das fases da vida do Espírito, que é eterna; aceitar corajosamente as provações, em vista do futuro mais invejável que o presente; praticar a caridade de pensamentos, palavras e obras na mais larga acepção da palavra; esforçar-se cada dia para ser melhor que na véspera, extirpando alguma imperfeição de sua alma; submeter todas as crenças ao controle do livre exame e da razão e nada aceitar pela fé cega; respeitar todas as crenças sinceras, por mais irracionais que nos pareçam e não violentar a consciência de ninguém; ver enfim nas descobertas da Ciência a revelação das leis da Natureza, que são as leis de Deus: eis o credo, a religião do Espiritismo, religião que pode conciliar com todos os cultos, isto é com todas as maneiras de adorar a Deus. É o laço que deve unir todos os espíritas numa santa comunhão de pensamentos, esperando que ligue todos os homens sob a bandeira da fraternidade universal."

"Religião – É palavra de origem latina: a) vem de relegere, recolher, tratar com cuidado (oposto de neglegere, deixar de lado, descuidar), porque o homem religioso zela, com máximo empenho e profundo respeito, pelas coisas referentes ao culto de Deus. É a etimologia que dá Cícero; b) outros autores, como Lactâncio, S. Jerônimo, S. Agostinho pensam que vem de religare, ligar, porque a religião tem, como base, os laços que unem o homem a Deus.

" A etimologia, aliás, pouco influi. Usamos a palavra religião com diversas acepções: Doutrina. Professar a religião cristã é admitir a doutrina, os ensinos de Nosso Senhor Jesus-Cristo: é crer nas verdades que nos revelou e observar os mandamentos que nos deu." – Boulanger – "A Doutrina Católica".

Após comentar o conceito apresentado por Boulanger, expondo os pontos básicos do Espiritismo, perfeitamente concordes com o Cristianismo, concluiu o erudito escritor Carlos Imbassahy:

"Pelas leis morais do Cristo, que segue; pela parte do Cristianismo, que representa; pela obrigação que se impôs de divulgar o Evangelho; pelo dever, que mantém, de colocar as leis divinas acima de tudo, como a fonte do progresso humano, o Espiritismo reivindica a parte que lhe cabe no seio das religiões." ("Religião" – págs. 91 a 105 – O Cristianismo.)

Voltando a "A Gênese", diz Allan Kardec (cap. 1):

"21. Moisés, como profeta, revelou aos homens a existência de Deus único...

22. O Cristo, tomando da antiga lei o que é eterno e divino e rejeitando o que era transitório, puramente disciplinar e de concepção humana...

"30. O Espiritismo, partindo das próprias palavras do Cristo, como este partiu das de Moisés, é conseqüência direta da sua doutrina." – (Págs. 23 e 30.)

O "Petit Larousse – Illustré", edição de 1975, define Religião como: "a culto prestado à Divindade; doutrina religiosa; religião cristã". (Salvador Gentile – Espiritismo e Religião – "Reformador", Ed. FEB, 1986m págs 20 e 21.)

O "Dicionário Escolar do Professor", organizado por Francisco da Silva Bueno, edição 1962, elucida que Religião significa: conjunto de práticas e princípios que regem as relações entre o homem e a divindade; doutrina religiosa. (Idem, Idem.)

O Diccionário de la Lengua Española, de la Real Academia Espanõla, 1970, informa: Religião significa: conjunto de crenças e dogmas acerca da divindade, de sentimentos de veneração e temor para com ela, de normas morais para a conduta individual e social e de práticas rituais, principalmente a oração e o sacrifício para prestar-lhe culto. (Idem, Idem.)

"A Grande Enciclopédia Delta Larousse" edição de 1978, define Religião: "Culto praticado a uma divindade; crença na existência de um ente supremo como causa, fim ou lei universal. Conjunto de dogmas e práticas próprias de uma confissão religiosa. Crença, devoção, piedade. Reverência às coisas sagradas."

Igualmente, a "Enciclopédia Brasileira Mérito", edição de 1967, assinala: Religião – Lat. Religio. Culto a uma divindade; crença na existência de um ente supremo como causa, fim ou lei universal; doutrina, crença ou sistema religioso; reverência ou acatamento às coisas sagradas; fé, crença, devoção, piedade; estado de pessoas reunidas por voto para seguirem prontamente certa regra da Igreja; ordem ou congregação religiosa; ordem de cavalaria; tudo aquilo que se considera dever sagrado ou obrigação indeclinável; reunião de princípios de moral comuns às nações civilizadas e independentes de revelação; escrúpulos; santidade ou virtude que se atribui a alguma coisa e pela qual se lhe presta reverência."

Diz Humberto Mariotti: "O Espiritismo, ao ser a ciência espiritual mais positiva da imortalidade da alma dentro do processo histórico, abarca, como é lógico, todas as necessidades da evolução humana; por conseguinte, não somente oferece ao homem a religião universal, mas, também, a Sabedoria Divina integral já que suas bases se desenvolvem sobre os três grandes instrumentos do saber. A Ciência – A Filosofia e A Religião. ("Codificação Espírita superada?" Federação Espírita do Paraná editora, 1964.)

Na sua obra "O Espiritismo e as doutrinas espiritualistas" afirma Deolindo Amorim: "A adoração exterior pode ser útil, se não consistir num vão simulacro, se houver sinceridade, mas o Espiritismo faz sentir que o homem, quanto mais espiritualizado, menos necessidade de exteriorização ou de posturas convencionais para render culto a Deus. É a Religião pura e simples, a religião da consciência."

Por sua vez, González Soriano, in "El Espiritismo es la filosofia", acentua: "O Espiritismo – Ciência, Filosofia e Religião – faculta ao homem, neste atribulado fim de século, percorrer todo o caminho a que alude o filósofo na citação inicial deste artigo; porque é, sem dúvida, "a síntese essencial dos conhecimentos humanos aplicados à investigação da verdade".

Fazendo-se uma análise insuspeita quão impessoal da questão, conclui-se com nítida claridade mental que o Espiritismo é religião cuja tarefa essencial foi confirmar, à luz da Ciência contemporânea, a legitimidade dos princípios nos quais se fundamentam todas as religiões: Deus, a alma, a justiça divina, a pluralidade dos mundos habitados, os deveres morais para consigo mesmo e para com o próximo, de cuja conduta deflui uma filosofia otimista, encarregada de ensejar ao homem a compreensão dos acontecimentos da vida e lutar, apoiado em uma ética moral superior, qual aquela que Jesus viveu e pregou, pelo auto- aprimoramento, libertando-se das paixões que o escravizam e infelicitam.

O Espiritismo é a Religião do amor em todas as suas dimensões e da caridade nas suas mais variadas expressões, dignificando a criatura e harmonizando-a em relação às Leis Soberanas que regem a vida.

O Espiritismo é a Religião dinâmica, sem dogmas, sem rituais, sem sacerdócio, sem limites, sem misticismo, sem superstição, encarregada de preparar a Era Nova da Humanidade ideal conforme preconizada por Jesus e referendada por São Luís, ao terminar a Questão de número 1019, de "O Livro dos Espíritos".

"Todos vós, homens de fé e de boa vontade, trabalhai, portanto, com ânimo e zelo na grande obra da regeneração, que colhereis pelo cêntuplo o grão que houverdes semeado. Ai dos que fecham os olhos à luz! Preparam para si mesmos longos séculos de trevas e decepções! Ai dos que fazem dos bens deste mundo a fonte de todas as suas alegrias! Terão que sofrer privações muito mais numerosas do que os gozos de que desfrutaram! Ai, sobretudo, dos egoístas! Não acharão quem os ajude a carregar o fardo de suas misérias."

E Santo Agostinho, na Conclusão, Item IX do grandioso "O Livro dos Espíritos", estabelece: "O Espiritismo é o laço que um dia os (aos homens) unirá, porque lhes mostrará onde está a verdade,onde o erro. Durante muito tempo, porém, ainda haverá escribas e fariseus que o negarão, como negaram o Cristo. Quereis saber sob a influência de que Espíritos estão as diversas seitas que entre si fizeram partilha do Mundo? Julgai-o pelas suas obras e pelos seus princípios. Jamais os bons Espíritos foram os instigadores do mal; jamais aconselharam ou legitimaram o assassínio e a violência; jamais estimularam os ódios dos partidos, nem a sede das riquezas e das honras, nem a avidez dos bens da Terra. Os que são bons, humanitários e benevolentes para com todos, esses os seus prediletos e prediletos de Jesus, porque seguem a estrada que este lhes indicou para chegarem até Ele."

Conquanto as dificuldades existentes no Mundo terrestres e a persistência do homem, na preservação dos seus "instintos agressivos", mantendo o desequilíbrio, promovendo a guerra, a Religião Espírita propicia-lhe a renovação dos valores íntimos e convida-o a uma reativação de interesses em favor do bem, do belo, do nobre, abrindo-lhe espaço para a conquista de si mesmo, prenúncio da aquisição da felicidade que aguarda.

Bibliografia:

  • "O Espiritismo na sua expressão mais simples", de Allan Kardec – Edição da FEB, 1912.
  • "O que é o Espiritismo", de Allan Kardec – 8ª Edição da FEB, 1939.
  • "Obras Póstumas", de Allan Kardec – 8ª Edição da FEB, 1939.
  • "O Livro dos Espíritos", de Allan Kardec – 29ª Edição da FEB.
  • "O Livro dos Médiuns", de Allan Kardec – 28ª Edição da FEB, 1964.
  • "O Evangelho segundo o Espiritismo", de Allan Kardec – 52ª Edição da FEB.
  • "O Céu e o Inferno", de Allan Kardec – 19ª Edição da FEB, 1963.
  • "A Gênese", de Allan Kardec – 14ª Edição da FEB, 1962
  • "O Livro dos Espíritos", de Allan Kardec – Edição da LAKE – tradução de Herculano Pires – Ed. 47ª - 1988.
  • "Religião", de Carlos Imbassahy – 3ª Edição da FEB, 1981.
  • "Revista Espírita", de Allan Kardec – janeiro de 1868 e outubro de 1860 – EDICEL, 1965.

(Extraído da Revista Reformador, maio,1990, pgs; 30-31-32-33-34 e 35, Digitação, Otto – Sociedade Espírita Fraternidade).

(...) equivaleria ao Fora da Igreja (...) e seria igualmente exclusivo, porquanto nenhuma seita existe que não pretenda ter o privilégio da verdade (...) O Espiritismo, de acordo com o Evangelho, admitindo a salvação para todos, independe de qualquer crença, contanto que a lei de Deus seja observada, não diz: Fora do Espiritismo não há salvação; e, como não pretende ensinar ainda toda a verdade, também não diz: Fora da Verdade... pois que esta máxima separaria em lugar de unir e perpetuaria os antagonismos."

 

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O CONSOLADOR PROMETIDO

 

 
 
 
 
"O Evangelho Segundo o Espiritismo"
Consolador Prometido
3. Se me amais, guardai os meus mandamentos. E eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro consolador, para que fique eternamente convosco, o Espírito da Verdade, a quem o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o conhece. Mas vós o conhecereis, por que ele ficará convosco e estará em vós. _ Mas o Consolador, que é o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito. (João, XIV: 15 a 17; 26).
4. Jesus promete outro consolador: é o Espírito da Verdade, que o mundo ainda não conhece, pois que não está suficientemente maduro para compreendê-lo, e que o Pai enviará para ensinar todas as coisas e para fazer lembrar o que Cristo disse. Se, pois, o Espírito da Verdade deve vir mais tarde, ensinar todas as coisas, é que o Cristo não pôde dizer tudo. Se ele vem fazer lembrar o que o Cristo disse, é que o seu ensino foi esquecido ou mal compreendido.
O Espiritismo vem, no tempo assinalado, cumprir a promessa do Cristo. O Espírito da Verdade preside ao seu estabelecimento. Ele chama os homens à observância da lei; ensina todas as coisas, fazendo compreender o que o Cristo só disse em parábolas. O Cristo disse: "que ouçam os que têm ouvidos para ouvir". O Espiritismo vem abrir os olhos e os ouvidos, porque ele fala sem figuras e alegorias. Levanta o véu propositalmente lançado sobre certos mistérios, e vem, por fim, trazer uma suprema consolação aos deserdados da Terra e a todos os que sofrem, ao dar uma causa justa e um objetivo útil a todas as dores.
Disse o Cristo: "Bem-aventurados os aflitos, porque eles serão consolados". Mas como se pode ser feliz por sofrer, se não se sabe por que se sofre?
O Espiritismo revela que a causa está nas existências anteriores e na própria destinação da Terra, onde o homem expia o seu passado. Revela também o objetivo, mostrando que os sofrimentos são como crises salutares que levam à cura, são purificação que assegura a felicidade nas existências futuras. O homem compreende que mereceu sofrer, e acha justo o sofrimento. Sabe que esse sofrimento auxilia o seu adiantamento, e o aceita sem queixas, como o trabalhador aceita o serviço que lhe assegura o salário. O Espiritismo lhe dá uma fé inabalável no futuro, e a dúvida pungente não tem mais lugar na sua alma. Fazendo-o ver as coisas do alto, a importância das vicissitudes terrenas se perde no vasto e esplêndido horizonte que ele abarca, e a perspectiva da felicidade que o espera lhe dá a paciência, a resignação e a coragem para ir até o fim do caminho.
Assim realiza o Espiritismo o que Jesus disse do consolador prometido: conhecimento das coisas, que faz o homem saber de onde vem, para onde vai e porque está na Terra, lembrança dos verdadeiros princípios da lei de Deus, e consolação pela fé e pela esperança.
 
 
"O Evangelho Segundo o Espiritismo"
Não Vim Trazer a Paz, Mas a Espada.
 
 
16. Quando Jesus disse: Não penseis que vim trazer a paz, mas a divisão _ seu pensamento era o seguinte:
“Não penseis que a minha doutrina se estabeleça pacificamente”. Ela trará lutas sangrentas, para as quais o meu nome servirá de pretexto. Porque os homens não me haverão compreendido, ou não terão querido compreender-me. Os irmãos, separados pelas suas crenças, lançarão a espada um contra o outro, e a divisão se fará entre os membros de uma mesma família, que não terão a mesma fé. Vim lançar o fogo na terra, para consumir os erros e os preconceitos, como se põe fogo num campo para destruir as ervas daninhas, e anseio porque se acenda, para que a depuração se faça mais rapidamente, pois dela sairá triunfante a verdade. À guerra sucederá a paz; ao ódio dos partidos, a fraternidade universal; às trevas do fanatismo, a luz da fé esclarecida.
Então, quando o campo estiver preparado, eu vos enviarei o Consolador, o Espírito da Verdade, que virá restabelecer todas as coisas, ou seja, que dando a conhecer o verdadeiro sentido das minhas palavras, que os homens mais esclarecidos poderão enfim compreender porá termo à luta fratricida que divide os filhos de um mesmo Deus. Cansados, afinal, de um combate sem solução, que só carreta desolação e leva o distúrbio até mesmo ao seio das famílias, os homens reconhecerão onde se encontram os seus verdadeiros interesses, no tocante a este e ao outro mundo, e verão de que lado se acham os amigos e os inimigos da sua tranqüilidade. “Nesse momento, todos virão abrigar-se sob a mesma bandeira: a da caridade, e as coisas serão restabelecidas na Terra, segundo a verdade e os princípios que vos ensinei”.
 
"A Gênese"
Capítulo I
Caracteres da Revelação Espírita
26. Entretanto, o Cristo acrescenta: "Muitas das coisas que vos digo, vós não as podeis ainda compreender, e eu tenho muitas outras a vos dizer, que não compreenderíeis; por isso é que vos falo em parábolas; mais tarde, porém, enviar-vos-ei o Consolador, o Espírito da Verdade, que restabelecerá todas as coisas e vo-las explicará" (Jo 14.16; Mt 17).
Se o Cristo não disse tudo quanto poderia dizer, é que ele acreditava deveria deixar certas verdades na sombra até que os homens estivessem em estado de compreendê-las. Ele mesmo disse que o seu ensinamento era incompleto, pois anunciou a vinda daquele que deveria completá-lo; previa, assim, que a suas palavras não seriam bem interpretadas, que o seu ensino seria desviado; numa palavra, que seria desfeito o que ele fizera, desde que todas as coisas deveriam ser restabelecidas; ora, não se restabelece senão aquilo que foi desfeito.
27. Por que denomina ele Consolador ao novo Messias? Este nome significativo e sem ambigüidades é toda uma revelação. Assim, ele previa que os homens teriam necessidade de consolo, o que implica a insuficiência das consolações que encontrariam na crença que estavam formulando. Jamais o Cristo poderia ser mais claro e mais explícito como nestas últimas palavras, às quais poucos deram a atenção necessária, talvez porque evitaram mesmo esclarecê-las e aprofundar-lhes o sentido profético.
28. Se o Cristo não pode desenvolver o seu ensino de maneira completa, é porque faltava aos homens o conhecimento que eles não poderiam adquirir senão com o tempo e sem o qual não o poderiam compreender; há coisas que teriam parecido sem sentido, de acordo com os conhecimentos de então. Completar o seu ensinamento deve ser interpretado no sentido de explicar e de desenvolver e não o de adicionar verdades novas, porque ali tudo se encontra em germe; somente faltava a chave para abrir o sentido de suas palavras.
"A Gênese"
Anunciação do Consolador
35. Se vós me amais, guardai meus mandamentos _ e pedirei a meu Pai, e ele vos enviará um outro Consolador, a fim de que fique eternamente convosco: _ o Espírito de Verdade, que este mundo não pode receber, pois não o vê; mas vós o conhecereis, pois ficará convosco, e estará em vós. _ Mas o Consolador, que é o Espírito Santo, que meu Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas, e vos fará recordar de tudo quanto vos tenho dito. (S. João, cap. XIV, vers. 15, 16, 17 e 26. _ O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. VI).
36. Entretanto, digo-vos a verdade: Convém que eu vá; pois se eu não me for, o Consolador não virá a vós; porém eu vou, e eu vo-lo enviarei, _ e quando ele vier, convencerá o mundo no que respeita ao pecado, à justiça e ao julgamento: _ no que respeita ao pecado, porque eles não terão acreditado em mim; _ no que respeita à justiça, porque eu vou a meu Pai e vós não me vereis mais; no que respeita ao julgamento, porque o príncipe deste mundo já está julgado.
Tenho ainda muitas coisas a vos dizer, mas não as podeis suportar agora.
Quando este Espírito de Verdade vier, ele vos ensinará toda a verdade, pois não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará as coisas vindouras.
Ele me glorificará, porque receberá do que está em mim e vo-lo anunciará. (S. João, cap. XVI, vers. 7 a 14).
37. Esta predição, sem contradita, é uma das mais importantes do ponto de vista religioso, pois ela prova de maneira inequívoca que Jesus não disse tudo aquilo que tinha a dizer, pois não o compreenderiam mesmo seus apóstolos, pois era a estes que ele se dirigia. Se lhes houvesse dado instruções secretas, eles teriam mencionado isso no Evangelho. Então, desde que ele não disse tudo a seus apóstolos, os sucessores destes não poderiam ter sabido mais que aqueles; poderiam, pois, ter-se enganado sobre o sentido das suas palavras, dar uma falsa interpretação a seus pensamentos, freqüentemente velados sob forma simbólica. As religiões fundadas sobre o Evangelho não podem, pois, dizer que estão na posse de toda a verdade, pois que ele se reservou o direito de completar ulteriormente suas instruções. O princípio de imutabilidade das religiões está, pois, desmentido pelas próprias palavras de Jesus.
Ele anuncia sob o nome de Consolador e de Espírito de Verdade, aquele que deve ensinar todas as coisas e fazer recordar o que ele dissera; de onde se diz que seu ensinamento não estava completo; além disso, ele previa que haviam de esquecer o que ele dissera, e que haviam de desnaturar seu ensinamento, pois o Espírito de Verdade lhes devia fazer recordar, e de acordo com Elias, restabelecer todas as coisas, isto é, segundo o verdadeiro pensamento de Jesus.
38. Quando deverá vir este novo revelador? É bem evidente que, se na época em que Jesus falava os homens não estavam em estado de compreender aquilo que lhe restava dizer, não seria em alguns anos que poderiam adquirir as luzes necessárias. Para compreensão de certa parte do Evangelho, excetuados os preceitos da moral, seriam necessários conhecimentos que unicamente o progresso da ciência poderia dar, e que deviam ser a obra do tempo e de diversas gerações. Se, portanto, o novo Messias tivesse vindo pouco tempo depois do Cristo, teria encontrado o terreno também pouco propício, e não teria feito mais que ele. Ora, desde Cristo até os nossos dias, não se produziu nenhuma grande revelação que haja completado o Evangelho, e haja elucidado suas partes obscuras, o que constitui índice seguro de que o Enviado ainda não aparecera.
39. Qual deverá ser esse Enviado? Ao dizer Jesus: "Orarei a meu Pai e ele vos enviará um outro Consolador," isto indica claramente que não se trata dele mesmo, senão teria dito: "Voltarei a completar o que vos tenho ensinado." Depois, ele acrescenta: "A fim de que permaneça eternamente convosco, e estará em vós." Isto não poderia dizer respeito a uma individualidade encarnada que não pode permanecer eternamente conosco, e ainda menos estar em nós; compreende-se bem que pode ser uma doutrina a qual, com efeito, desde que tenha sido assimilada, pode estar eternamente em nós. O Consolador é, pois, no pensamento de Jesus, a personificação de uma doutrina soberanamente consoladora, cujo inspirador deve ser o Espírito de Verdade.
40. O Espiritismo realiza, conforme foi já demonstrado (Cap. I, nº. 30), todas as condições do Consolador prometido por Jesus. Não é uma doutrina individual, uma concepção humana; ninguém pode dizer que foi seu criador. É o produto do ensinamento coletivo dos Espíritos, ensino ao qual preside o Espírito de Verdade. Nada suprime do Evangelho: ele o completa e elucida; com o auxílio das novas leis que revela juntas às da ciência, faz compreender o que era ininteligível, admitir a possibilidade do que a incredulidade considerava como inadmissível. Teve seus precursores e seus profetas, que lhe pressentiram a vinda. Por seu poder moralizador, prepara o reino do bem sobre a Terra.
A doutrina de Moisés, incompleta, permaneceu circunscrita ao povo judeu; a de Jesus, mais completa, espalhou-se por toda a Terra, pelo cristianismo, porém não converteu todo o mundo; o Espiritismo, mais completo ainda, tendo raízes em todas as crenças, converterá a humanidade. (1)
41. Quando Jesus dizia a seus apóstolos: "Um outro virá mais tarde, que vos ensinará aquilo que não posso vos dizer agora," proclamava por isso mesmo, a necessidade da reencarnação. Como poderiam estes homens aproveitar o ensinamento mais completo que deveria ser dado ulteriormente? Como seriam eles mais aptos a compreendê-lo, se não deviam reviver? Jesus teria dito uma inconseqüência, se os homens futuros devessem, segundo a doutrina vulgar, ser homens novos, almas saídas do nada no seu nascimento. Admita-se, ao contrário, que os apóstolos e os homens de seu tempo tenham vivido depois; que eles revivem ainda hoje; então, a promessa de Jesus se encontra justificada; sua inteligência, que deve ter-se desenvolvido ao contato do progresso social, pode suportar agora aquilo que então não o poderia. Sem a reencarnação, a promessa de Jesus teria sido ilusória.
42. Se se dissesse que essa promessa foi realizada no dia de Pentecostes pela descida do Espírito Santo, a resposta seria de que o Espírito Santo os inspirou que ele pode abrir sua inteligência, desenvolver neles às aptidões mediúnicas que deviam facilitar suas missões, mas que nada lhes ensinou além do que Jesus ensinara, pois nenhum traço se encontra, de um ensinamento especial. O Espírito Santo, pois, não realizou o que Jesus anunciara, do Consolador: de outro modo os apóstolos teriam elucidado, enquanto viviam, tudo quanto permaneceu obscuro no Evangelho, até nossos dias, e cuja interpretação contraditória deu lugar às inúmeras seitas que dividiram o cristianismo desde os primeiros séculos.
(1) Todas as doutrinas filosóficas e religiosas trazem o nome da individualidade fundadora; o mosaísmo, o cristianismo, o maometismo, o budismo, o cartesianismo, o furierismo, san-simonismo, etc. A palavra Espiritismo, ao contrário, não lembra nenhuma personalidade; ela encerra uma idéia geral, que indica, ao mesmo tempo, o caráter e a fonte múltipla da doutrina.
Bibliografia:
KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap.6 e 23
KARDEC, A. Gênese. Cap. 1 e 17
 
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