Quinta-feira, 21 De Janeiro,2010

JESUS NÃO É DEUS?

 

                Entre vários atributos que caracterizam a divindade, encontramos a imutabilidade, o que significa que Deus não muda nunca. Entendimento fácil de assimilar, uma vez que se Deus mudar de atitude ou algo que tenha feito, Ele não teria agido com perfeição, o que seria contrário a essa sua natureza. O fato de Deus ter poder para mudar não implica que irá agir dessa forma, pois acima disso está a sua perfeição e só muda quem não fez o que queria ou o que fez não tenha ficado a contento.
Atribuem a Jesus o status de ser o próprio Deus encarnado aqui na Terra, apesar Dele, segundo Davi, não caber no templo (1Rs 8,27), coube dentro de um corpo humano, mas deixemos à vontade os que acreditam nisso.
Segundo uma passagem do Evangelho Jesus teria dito “não vim destruir a Lei, mas cumpri-la” (Mt 5,17), mas será que agiu mesmo dessa forma? Vejamos que em Lv 20,10 se ordena que sejam punidos com a morte os que cometessem adultério, mas ao apresentarem a Jesus uma mulher surpreendida em adultério questionando-O se deveriam apedrejá-la como manda essa Lei, responde: “aquele que estive sem pecado atire a primeira pedra” (Jo 8,7), numa evidente sugestão que não se deveria cumprir a Lei. Mas se antes havia dito que teria vindo para cumprir a Lei, como é que ficamos diante dessa contradição?
Pior ainda quando aceitamos que Jesus seja mesmo o próprio Deus, pois aí Ele está mudando de atitude apesar de que teria sido dito que “... eu, o Senhor, não mudo” (Ml 3,6). Sem falar que Jesus, em várias oportunidades, se colocou com vindo para cumprir a vontade daquele que o enviou, deixando bem claro sua completa submissão à vontade de Deus, sempre se colocou com um enviado, demonstrando uma subordinação a alguém que Lhe era superior.
Mas para explicar essa questão temos que nos debruçar nos registros históricos para percebermos que a divinização de Jesus foi uma necessidade teológica, uma vez que, copiando dos povos pagãos, decidiram que Deus também teria que ser representado por uma trindade. Absurdo teológico que, por mais que queiram, não conseguem dar a isso uma única explicação lógica e razoável, partindo para o “mistério”, como a famosa “saída pela tangente”.
Não estamos aqui para “destronar” a Jesus, mas para restabelecer o lugar em que Ele sempre se colocou, pois assim é mais fácil ou melhor é possível seguirmos seu exemplo, caso contrário, ficaremos numa situação insustentável de não termos as mínimas condições de fazer o que Ele mesmo afirma podermos fazer: “tudo o que eu fiz vós podeis fazer e até maiores” (Jo 14,12).
Meu Pai e vosso Pai”, “meu Deus e vosso Deus” são expressões que usou o tempo todo, o que significa que nos têm no mesmo plano que Ele, ou seja, somos irmãos. A Ele devemos recorrer, como o nosso irmão maior, quando as dificuldades da vida nos pesam nos ombros. “Vinde a mim, vós que estais cansados e sobrecarregados, pois eu vos aliviarei” (Mt 11,28) é sua promessa a todos nós, espíritos em evolução, independente de qual rótulo religioso possamos estar abrigados.
Aos que acreditam nas inúmeras profecias a respeito de Jesus, contidas no Antigo Testamento, fica mais difícil argumentar, pois elas dão conta que Deus enviaria um mensageiro, não que viria pessoalmente à Terra.
Obviamente esses nossos argumentos podem não convencer a todos, mas os que, porventura, não vierem a aceitá-los, que, então, nos demonstrem com boa lógica que isso não é absurdo: Deus desce do céu, se encarna como Jesus, que morre na cruz como vítima oferecida a Ele mesmo para expiação de nossos pecados (sic).
 
 
 
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Quarta-feira, 20 De Janeiro,2010

PRESERVAÇAO DOS PRICÍPIOS DOUTRINÁRIOS

 

Em seu livro História Eclesiástica, os primeiros quatro séculos da Igreja Cristã, Eusébio de Cesaréia – que viveu de 260 a 340 d.C. – relata que, desde o seu início, o Cristianismo correu o risco de sofrer distorções na sua prática, devido às heresias que foram surgindo. Algumas provocaram prolongadas polêmicas; outras, verdadeiras cisões em alguns núcleos cristãos.
A partir do ano 325, quando passou a ser a religião oficial do Império Romano, o Cristianismo não conseguiu manter a sua pureza original e acabou sofrendo significativos desvios na interpretação dos ensinamentos e na prática.
A situação agravou-se a partir do ano 553 – Concílio de Constantinopla II –, quando a tese da preexistência da alma, de Orígenes, foi condenada. Isso significou a exclusão do princípio da reencarnação.
Na nova roupagem, o Cristianismo não conseguiu mais explicar as desigualdes de oportunidades entre os seres humanos, a lei de causa e efeito, a compatibilização entre a lei de justiça e a misericórdia divina. Em conseqüência, perdeu a sua força como doutrina que foi legada aos homens para esclarecê-los, promover a sua transformação moral e trazer-lhes a esperança por uma vida melhor.
O Espiritismo completa 150 anos. É muito jovem ainda. Surgiu numa época bastante favorável, com a Humanidade bem mais desenvolvida. Os seus ensinamentos não são apresentados sob forma alegórica, são claros, podem ser entendidos tanto pelas pessoas mais cultas, quanto pelas menos letradas.
Além disso, há grande número de livros de autoria dos Espíritos e de escritores encarnados que explicava os seus princípios; assim, praticamente não ficam dúvidas.
Enquanto a redação definitiva dos evangelhos só foi feita mais de doze anos depois da volta de Jesus à Pátria Espiritual – manuscrita, em papiro –, os ensinamentos espíritas já foram lançados em livros, escritos e revisados por Kardec, sob a supervisão dos Espíritos superiores; por isso o Espiritismo corre risco bem menor de ser alterado no conteúdo doutrinário, especialmente o que está exposto nas obras básicas. O mesmo não se pode dizer com relação à prática: nesta há certo risco.
Os desvios podem ocorrer pela introdução de práticas estranhas à Doutrina, por priorizarem o fenômeno mediúnico, ou por iniciá-las e mantê-las sem o conhecimento seguro da teoria; ou ainda pela presunção de pessoas ou grupos de terem competência para reformar a base doutrinária, ou mesmo de elaborar outra teoria. Em todos esses casos, costuma haver a participação de Espíritos, adversários do Espiritismo, que agem orientando grupos crédulos, ou insuflando idéias em desacordo com os princípios espíritas e cristãos a pessoas dominadas pelo orgulho, pela presunção.
Para evitar que isso aconteça, é fundamental preservar-se os princípios doutrinários tanto na teoria como na prática. Para se atingir esse objetivo, são indispensáveis: estudo contínuo, para se ter orientação adequada e segurança nas atividades, e humildade, para nunca se afastar desse caminho seguro.
Assim, o Espiritismo – que restaura o Cristianismo na sua pureza – não sofrerá alterações, nem desvios; será preservado em toda a sua integridade.
Reformador Janeiro2008
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publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 15:58
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REENCARNAÇÃO

Reencarnação é o processo pelo qual o espírito, estruturando um corpo físico, retorna, periodicamente, ao polissistema material. Esse processo tem como objetivo, ao propiciar vivência de conhecimentos, auxiliar o espírito reencarnante a evoluir.

O reencarne obedece a um princípio de identidade de freqüências, ou seja, o espírito reencarna em um determinado continente, em um determinado país, em uma determinada região desse país, em uma determinada localidade dessa região, com determinadas características culturais (idioma, usos, costumes, valores, tradições, história etc.), bem como em uma determinada família, de acordo com a sintonia que a freqüência do seu pensamento consiga estabelecer em relação a cada um desses elementos.

O espírito realiza a reencarnação conscientemente, inclusive traçando o seu próprio plano geral para a existência material que está se iniciando. O espírito reencarnante, de acordo com suas limitações, será mais ou menos auxiliado por espíritos com mais conhecimento e com os quais tenha afinidade. No entanto, se não estiver suficientemente equilibrado ou consciente, será orientado no planejamento de sua passagem pelo polissistema material.

Todavia, reencarnado o espírito, inicia-se o processo de existência corporal no polissistema material. É um processo aberto, pois a trajetória pessoal do encarnado segue o exercício do seu livre-arbítrio. Portanto, não há que se falar em destino, em caminhos previamente traçados.

O espírito encarnado, fundamentando-se em seu existente (a bagagem de conhecimentos e experiências adquiridos ao longo de toda a sua história, seja encarnado, seja desencarnado), passa a exercitar sua capacidade, a constatar e desenvolver suas potencialidades, enfim, passa a construir seu momento presente e seu momento futuro. Vai enfrentando contradições, dificuldades, obstáculos, facilidades, administrando encontros e desencontros, permanecendo no seu plano geral ou se desviando em função de algumas variáveis do processo, mas sempre de acordo com sua vontade.

No exercício do livre-arbítrio, o espírito encarnado vai construindo seu equilíbrio ou seu desequilíbrio, de acordo com a maneira pela qual enfrenta as situações e a vida. Vai, por assim dizer, determinando-se, segundo a natureza de seus pensamentos e atos. Por menos que faça, ou por mais que se desequilibre, o espírito sempre alcança progressos em um ou outro aspecto do seu ser.

A evolução não está necessariamente vinculada ao tempo de vida material, mas à intensidade com que ela é vivida. A quantidade de experiências e o aproveitamento que é feito delas é fundamental para o crescimento do espírito, não importando se as experiências estão sendo vivenciadas no polissistema material ou espiritual.

É de se ressaltar que, entre uma encarnação e outra, o espírito continua trabalhando, continua aprendendo, continua evoluindo, de modo que ele não reencarna no mesmo estágio em que desencarnou.

A Doutrina Espírita trabalha, atualmente, com a hipótese de que o processo reencarnatório envolve os conceitos de missão, provação, expiação e carma.

Vale ressaltar que no entendimento atual da Doutrina, os processos reeencarnatórios apresentam facetas desses quatro conceitos, mas que algumas reencarnações podem apresentar o predomínio de algumas dessas características. Eles não são conseqüência de uma interferência ou controle externo ao espírito reencarnante, descartando-se portanto qualquer idéia de castigo, punição ou recompensa. Eles são decorrentes da lei de causa e efeito e das condições de equilíbrio e harmonia do espírito.

Missão é a situação na qual o espírito reencarnante aplica conhecimentos internalizados a favor de uma pessoa ou do grupo de sua convivência.

Provação é a situação na qual o conhecimento em processo de acomodação e internalização deve ser vivenciado; é a situação na qual o espírito é desafiado ao limite de seu conhecimento.

Expiação não se refere à aplicação de conhecimento, mas, sim, a uma conseqüência de um conhecimento aplicado, que provocou conseqüências difíceis, desagradáveis, muitas vezes dolorosas, que o seu responsável deverá enfrentar.

Carma ainda é um conceito útil dentro da concepção da Doutrina, desde que se esteja atento para o seu significado, diverso do de outras Doutrinas. Para o Espiritismo, carma caracteriza a situação na qual o espírito está enfrentando as conseqüências de atos seus que lhe provocaram um desequilíbrio muito intenso, tanto em qualidade como em quantidade, e que, pela sua intensidade, o espírito poderá levar toda uma encarnação, ou mais de uma, para recuperar seu equilíbrio.

A pessoa em desequilíbrio estará sempre em recuperação tanto pela sua reação própria como pela ajuda de outras pessoas ( curar, aliviar, consolar; conhecimento técnico, moral e afetivo). O que varia é apenas o tempo necessário para que o equilíbrio seja novamente retomado. É importante frisar que as dificuldades que o espírito encarnado encontra em seu cotidiano muitas vezes não são explicadas pela reencarnação. Reencarnação não explica tudo. Há muitas situações de desequilíbrio causadas em sua encarnação atual.

Em resumo, rencarnação não serve para explicar tragédias e desgraças; não serve para esconder a ignorância, não serve como desculpa ao imobilismo; não serve como consolo para aquelas situações que deveriam ser modificadas e não o são; não serve para destacar o passado e paralisar o presente. Reencarnação é oportunidade de aprendizado, é oportunidade de se aplicar o que se sabe e superar as limitações através de vivências sucessivas no polissistema material. Reencarnação é afirmação da unidade e da continuidade da vida.

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Terça-feira, 19 De Janeiro,2010

A BÍBLIA NÃO É A PALAVRA DE DEUS

 

     A palavra de Deus não está na Bíblia, mas na natureza, traduzida em suas leis. A Bíblia é simplesmente uma coletânea de livros hebraicos, que nos dão um panorama histórico do judaísmo primitivo. Os cinco livros iniciais da Bíblia, que constituem o Pentateuco mosaico, referem-se à formação e organização do povo judeu, após a libertação do Egito e a conquista de Canaã. Atribuídos a Moisés, esses livros não foram escritos por ele, pois relatam, inclusive, a sua própria morte.
     As pesquisas históricas revelam que os livros da Bíblia têm origem na literatura oral do povo judeu. Só depois do exílio na Babilônia foi que Esdras conseguiu reunir e compilar os livros orais (guardados na memória) e proclamá-los em praça pública como a lei do judaísmo, ditada por Deus
     Os relatos históricos da Bíblia são ao mesmo tempo ingênuos e terríveis. Leia o estudante, por exemplo, o Deuteronômio, especialmente os capítulos 23 e 28 desse livro, e veja se Deus podia ditar aquelas regras de higiene simplória, aquelas impiedosas leis de guerra total, aquelas maldições horríveis contra os que não crêem na “sua palavra”. Essas maldições, até hoje, apavoram as criaturas simples que têm medo de duvidar da Bíblia. Muitos espertalhões se servem disso e do prestígio da Bíblia como “palavra de Deus”, para arregimentar o tosquiar gostosamente vastos rebanhos.
     As leis morais da Bíblia podem ser resumidas nos Dez Mandamentos. Mas esses mandamentos nada têm de transcendentes. São regras normais de vida para um povo de pastores e agricultores, com pormenores que fazem rir o homem de hoje. Por isso, os mandamentos são hoje apresentados em resumo. O Espírito que ditou essas leis a Moisés, no Sinai, era o guia espiritual da família de Abraão, Isaac e Jacob, mais tarde transformado no Deus de Israel. Desempenhando uma elevada missão, esse Espírito preparava o povo judeu para o monoteísmo, a crença num só Deus, pois os deuses da antigüidade eram muitos.
     O Espiritismo reconhece a ação de Deus na Bíblia, mas não pode admiti-la como a “palavra de Deus”. Na verdade, como ensinou o apóstolo Paulo, foram os mensageiros de Deus, os Espíritos, que guiaram o povo de Israel, através dos médiuns, então chamados profetas. O próprio Moisés era um médium, em constante ligação com Iavé ou Jeová, o deus bíblico, violento e irascível, tão diferente do deus-pai do Evangelho. Devemos respeitar a Bíblia no seu exato valor, mas nunca fazer dela um mito, um novo bezerro de ouro. Deus não ditou nem dita livros aos homens.  (José Herculano Pires - Obra escrita em vida: Visão Espírita da Bíblia -
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DÊ UMA CHANCE A VOCÊ MESMO.

Talvez você já tenha feito perguntas como estas:
De onde vim ao nascer? Para onde irei depois da morte?

O que há depois dela?

 

Por que uns sofrem mais do que outros?

Por que uns têm determinada aptidão e outros não?

 

Por que alguns nascem ricos e outros pobres?

Alguns cegos, aleijados, débeis mentais, enquanto outros nascem inteligentes e saudáveis?

Por que Deus permite tamanha desigualdade entre seus filhos?

 

Por que uns, que são maus, sofrem menos que outros, que são bons?

 

No entanto, a maioria das pessoas, vivendo a vida atribulada de hoje, não está interessada nos problemas fundamentais da existência. Antes se preocupam com seus negócios, com seus prazeres, com seus problemas particulares. Acham que questões como "a existência de Deus" e "a imortalidade da alma" são da competência de sacerdotes, de ministros religiosos, de filósofos e teólogos. Quando tudo vai bem em suas vidas, elas nem se lembram de Deus e, quando se lembram, é apenas para fazer uma oração, ir a um templo, como se tais atitudes fossem simples obrigações das quais todas têm que se desincumbir de uma maneira ou de outra. A religião para elas é mera formalidade social, alguma coisa que as pessoas devem ter, e nada mais; no máximo será um desencargo de consciência, para estar bem com Deus. Tanto assim, que muitos nem sequer alimentam firme convicção naquilo que professam, carregando sérias dúvidas a respeito de Deus e da continuidade da vida após a morte.

 

Quando, porém, tais pessoas são surpreendidas por um grande problema, a perda de um ente querido, uma doença incurável, uma queda financeira desastrosa - fatos que podem acontecer na vida de qualquer pessoa - não encontram em si mesmas a fé necessária, nem a compreensão para enfrentar o problema com coragem e resignação, caindo, invariavelmente, no desespero.

 

Onde se encontra a solução?

 

Há uma doutrina que atende a todos estes questionamentos. É o Espiritismo.

 

O conhecimento espírita abre-nos uma visão ampla e racional da vida, explicando-a de maneira convincente e permitindo-nos iniciar uma transformação íntima, para melhor.

 

Mas, o que é o Espiritismo?

 

O Espiritismo é a doutrina revelada pelos Espíritos Superiores, através de médiuns, e organizada (codificada), no século XIX, por um educador francês, conhecido por Allan Kardec.

 

O Espiritismo é, ao mesmo tempo filosofia, ciência e religião.

 

Filosofia, porque dá uma interpretação da vida, respondendo questões como "de onde eu vim", "o que faço no mundo", "para onde irei depois da morte". Toda doutrina que dá uma interpretação da vida, uma concepção própria do mundo, é uma filosofia.

 

Ciência, porque estuda, à luz da razão e dentro de critérios científicos, os fenômenos mediúnicos, isto é, fenômenos provocados pelos espíritos e que não passam de fatos naturais. Todos os fenômenos, mesmo os mais estranhos, têm explicação científica. Não existe o sobrenatural no Espiritismo.

 

Religião, porque tem por objetivo a transformação moral do homem, revivendo os ensinamentos de Jesus Cristo, na sua verdadeira expressão de simplicidade, pureza e amor. Uma religião simples sem sacerdotes, cerimoniais e nem sacramentos de espécie alguma. Sem rituais, culto a imagens, velas, vestes especiais, nem manifestações exteriores.

 

E quais são os fundamentos básicos do Espiritismo?

 

A existência de Deus que é o Criador, causa primária de todas as coisas. A Suprema Inteligência. É eterno, imutável, imaterial, onipotente, soberanamente justo e bom.

 

A imortalidade da alma ou espírito. O espírito é o princípio inteligente do Universo, criado por Deus, para evoluir e realizar-se individualmente pelos seus próprios esforços. Como espíritos já existíamos antes do nascimento e continuaremos a existir depois da morte do corpo.

 

A reencarnação. Criado simples e sem nenhum conhecimento, o espírito é quem decide e cria o seu próprio destino. Para isso, ele é dotado de livre-arbítrio, ou seja, capacidade de escolher entre o bem e o mal. Tem a possibilidade de se desenvolver, evoluir, aperfeiçoar-se, de tornar-se cada vez melhor, mais perfeito, como um aluno na escola, passando de uma série para outra, através dos diversos cursos. Essa evolução requer aprendizado, e o espírito só pode alcançá-la encarnando no mundo e reencarnando, quantas vezes necessárias, para adquirir mais conhecimento, através das múltiplas experiências de vida. O progresso adquirido pelo espírito não é somente intelectual, mas, sobretudo, o progresso moral.

 

Não nos lembramos das existências passadas e nisso também se manifesta a sabedoria de Deus. Se lembrássemos do mal que fizemos ou dos sofrimentos que passamos, dos inimigos que nos prejudicaram ou daqueles a quem prejudicamos, não teríamos condições de viver entre eles atualmente. Pois, muitas vezes, os inimigos do passado hoje são nossos filhos, nossos irmãos, nossos pais, nossos amigos que, presentemente, se encontram junto de nós para a reconciliação. A reencarnação, desta forma, é a oportunidade de reparação, assim como é, também, oportunidade de devotarmos nossos esforços pelo bem dos outros, apressando nossa evolução espiritual. Pelo mecanismo da reencarnação vemos que Deus não castiga. Somos nós os causadores dos próprios sofrimentos, pela lei de "ação e reação".

 

A comunicabilidade dos espíritos. Os espíritos são seres humanos desencarnados e continuam sendo como eram quando encarnados: bons ou maus, sérios ou brincalhões, trabalhadores ou preguiçosos, cultos ou medíocres, verdadeiros ou mentirosos. Eles estão por toda parte. Não estão ociosos. Pelo contrário, eles têm as suas ocupações. Através dos denominados médiuns, o espírito pode se comunicar conosco, se puder e se quiser.

 

A pluralidade dos mundos habitados. Os diferentes mundos, disseminados pelo espaço infinito, constituem as inúmeras moradas aos Espíritos que neles encarnam. As condições desses mundos diferem quanto ao grau de adiantamento ou de inferioridades dos seus habitantes.

 

Como o Espiritismo interpreta o Céu e o Inferno?

 

Não há céu nem inferno. Existem, sim, estados de alma que podem ser descritos como celestiais ou infernais. Não existem também anjos ou demônios, mas apenas espíritos superiores e espíritos inferiores, que também estão a caminho da perfeição - os bons se tornando melhores e os maus se regenerando.

 

Deus não se esquece de nenhum de seus filhos, deixando a cada um o mérito das suas obras. Somente desta forma podemos entender a Suprema Justiça Divina.

 

Por que o Espiritismo realça a Caridade?

 

Porque fora dos preceitos da verdadeira caridade, o espírito não poderá atingir a perfeição para a qual foi destinado. Tendo-a por norma, todos os homens são irmãos e qualquer que seja a forma pela qual adorem o Criador, eles se estendem as mãos, se entendem e se ajudam mutuamente.

 

Por que fé raciocinada?

 

A fé sem raciocínio não passa de uma crendice ou mesmo de uma superstição. Antes de aceitarmos alguma coisa como verdade, devemos analisá-la bem. "Fé inabalável é aquela que pode encarar a razão, face a face, em todas as épocas da humanidade."- Allan Kardec.

 

E onde podemos encontrar mais esclarecimentos sobre o Espiritismo?

 

Começando pela leitura dos livros de Allan Kardec:

 

O LIVRO DOS ESPÍRITOS. O livro básico da Doutrina Espírita. Contém os princípios do Espiritismo sobre a imortalidade da alma, a natureza dos espíritos e suas relações com os homens, as leis morais, a vida futura e o porvir da humanidade.

 

O LIVRO DOS MÉDIUNS. Reúne as explicações sobre todos os gêneros de manifestações mediúnicas, os meios de comunicação e relação com os espíritos, a educação da mediunidade e as dificuldades que eventualmente possam surgir na sua prática.

 

O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO. É o livro dedicado à explicação das máximas de Jesus, de acordo com o Espiritismo e sua aplicação às diversas situações da vida.

 

O CÉU E O INFERNO, ou "A Justiça Divina Segundo o Espiritismo". Oferece o exame comparado das doutrinas sobre a passagem da vida corporal à vida espiritual. Coloca ao alcance de todos o conhecimento do mecanismo pelo qual se processa a Justiça Divina.

 

A GÊNESE. Destacam-se os temas: Existência de Deus, origem do bem e do mal, explicações sobre as leis naturais, a criação e a vida no Universo, a formação da Terra, a formação primária dos seres vivos, o homem corpóreo e a união do princípio espiritual à matéria.

 

Você poderá ler, ainda, os livros psicografados por Francisco Cândido Xavier, Divaldo Pereira Franco, Yvonne Pereira, José Raul Teixeira, etc. e os livros de Léon Denis, Gabriel Delanne e de tantos outros autores, encontrando-se entre eles estudos doutrinários, romances, poesias, histórias e mensagens de alento. Depois desta simples leitura, você poderá ter dúvidas e perguntas a fazer. Se tiver, é bom sinal. Sinal que você está procurando explicações racionais para a vida. Você as encontrará lendo os livros indicados acima e procurando um Centro Espírita seguramente doutrinário e indiscutivelmente Espírita.

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publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 03:52
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ESPIRITISMO, COISA DE DEMÔNIO ?

 

Sou espírita. Respeito todas as religiões que têm Deus como o Pai maior. Vejo os integrantes das demais religiões como diletos irmãos. Nem poderia ser diferente. Se somos filhos do mesmo Deus por que o fato de professarmos diferentes religiões impediria vermo-nos como irmãos?

E como irmão do caro leitor, aproveito desta oportunidade para trazer à tona alguns conceitos - ou preconceitos - equivocados em relação ao espiritismo.

Caro irmão-leitor, não tenho o intuito de convertê-lo ao espiritismo. Se você se encontrou no catolicismo ou no protestantismo para que mudar de religião?

Nós, espíritas, muito valorizamos o catolicismo. Podemos dizer que o catolicismo é a religião-mãe. Se não fossem a força, a coragem, a fé e a determinação dos primeiros católicos as palavras do nosso Mestre Jesus não teria chegado aos nossos dias. A humanidade muito deve ao catolicismo.

Também respeitamos e valorizamos o protestantismo. Quando o homem ficou mais preocupado com a religião externa, isto é, mais valorizava a forma do que o conteúdo, foi o protestantismo que chacoalhou uma situação de inércia e reavivou as palavras do Mestre.

Mas por que alguns - não todos - católicos e protestantes, nossos diletos irmãos, insistem em dizer que o “o espiritismo é coisa do demônio”?

Jesus disse “Pelos frutos conhecereis a árvore”.

Os espíritas, como outros religiosos, têm como sua principal meta procurar seguir, com as limitações próprias da natureza humana, os preceitos de Jesus em sua máxima “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”.

Que demônio é este que inspira aos espíritas o amor a Deus e ao próximo?

Os espíritas, como outros religiosos, acreditam na realidade maior da vida: “fora da caridade não há salvação”.

Que demônio é este que inspira aos espíritas fazer a caridade ao próximo?

Os espíritas têm por princípio a valorização e o respeito às demais religiões, todas consideradas como diferentes ferramentas idealizadas pelo mesmo Arquiteto.

Que demônio é este que inspira aos espíritas a fraternidade e a solidariedade entre integrantes de religiões muitas vezes sustentadas em dogmas ou em faces da verdade conflitantes entre si?

Que demônio é este que, onde há divergência de opiniões, procura unir em vez de semear a discórdia?

Os verdadeiros espíritas, aqueles que seguem os preceitos máximos da doutrina, tem como rotina em sua vida o esforço pela sua transformação moral. Isto é, conhece-se o verdadeiro espírita pelo seu contínuo esforço em transformar-se moralmente.

Que demônio é este que inspira aos espíritas constante preocupação com sua elevação moral?

Caro irmão-leitor, reflitamos:

Que demônio é este que fala em amor, caridade, solidariedade, fraternidade e em transformação moral?

Só não vê, como disse nosso Mestre Jesus, quem não tem olhos para ver.

Por favor, não entenda que o objetivo deste artigo é a sua conversão. Se é você um bom católico, continue a sê-lo. Se você professa uma das diversas religiões protestantes, continue na sua convicção. Mas se você é dos que dizem que “o espiritismo é coisa do demônio” procure - sem abandonar sua religião - pelo menos estudar alguns livros espíritas. A critica gratuita, sem análise, sem profundo estudo, não deve fazer parte de nossos atos. Dê a si mesmo o direito de conhecer melhor o seu objeto de crítica. Estude.

É importante dizer que a denominação “espiritismo” assumiu conotações que não correspondem à real essência da doutrina codificada pelo educador Allan Kardec, e que se sustenta no evangelho do Nosso Senhor Jesus Cristo.

No espiritismo não há queima de vela, incenso, “trabalhos”, magias, imagens ou outros rituais. Muitas pessoas, não espíritas, muitas pessoas mesmo, imaginam - sem antes pesquisar - que o espiritismo manifesta-se por tudo que nele não existe, como os exemplos citados ( queima de vela, incenso, “trabalhos”, magias, culto a imagens, rituais, etc. ).

Muitas religiões que se autodenominam Espiritismo, não o são de fato.

O templo do espiritismo é o templo do estudo, do amor e da caridade.

Outras pessoas, como você, também não acreditavam ou tinham uma opinião deformada do espiritismo.

William Crookes, o extraordinário pai da Física contemporânea, o homem que descobriu o tálio, a matéria radiante, a quem se deve os pródomos da Física Nuclear da atualidade chegou a dizer textualmente:

“Eu era um materialista absoluto e, depois de investigar em profundidade científica os fenômenos mediúnicos, eu afirmo que eles já não são possíveis: eles são reais!”

César Lombroso, depois de examinar a mediunidade de Eusápia Paladino disse estas palavras:

“Quando me lembro do que eu e meus colegas zombávamos daqueles que acreditavam no Espiritismo, coro de vergonha, porque hoje eu também sou espírita! A evidência dos fatos dobrou a minha convicção negativa”.

E ainda Cronwell Varley, o que lançou sobre o mundo as linhas da telegrafia e da telefonia internacional, os cabos transoceânicos, teve a coragem de dizer:

“Somente negam os fenômenos espíritas, aqueles que não se deram ao trabalho de os estudar. Eu não conheço um só exemplo de alguém que os haja estudado, que não se tenha rendido à sua evidência”.

Não. Não precisa tornar-se espírita. Mas estude o espiritismo antes de criticá-lo.

E lembremo-nos que todos, independentemente de religiões, somos filhos do mesmo Deus e devemos irmanarmo-nos, unirmo-nos pelo bem comum, pelo amor ao próximo, pelos atos de solidariedade humana.

Ninguém é dono da Verdade Absoluta. Todas as religiões sérias são de Deus. Deus se manifesta de muitas formas e através de diversas religiões. Respeitemo-nos mutuamente, cheguemo-nos mais pertos um do outro, só assim seremos dignos de sermos chamados filhos de Deus.

Para encerrar, leiamos a letra abaixo, musicada pelo admirável católico-cantor Padre Zezinho, que é um hino ao respeito e à união dos seguidores das mais diversas religiões:

CANÇÃO ECUMÊNICA:

“Que todos nós,
que acreditamos em Deus,
saibamos viver em paz e dialogar!
Que todos nós,
que cremos que Deus é Pai,
saibamos nos respeitar e nos abraçar!
Filhos do Universo,
filhos do mesmo amor,
saibamos ouvir uns aos outros,
ouvir o que o outro nos tem a dizer.
E, sem combater,
sem desmerecer,
primeiro escutar,
depois discordar,
por fim celebrar e orar.
E adorar e servir a Deus.
E ajudar e ajudar as pessoas...
e respeitar os ateus!
... pra sermos filhos de Deus”.

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publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 00:24
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Segunda-feira, 18 De Janeiro,2010

ASPECTO RELIGIOSO DA DOUTRINA ESPÍRITA

 

Divaldo Pereira Franco

O homem, herdeiro dos seus próprios atos, chega à atualidade, assinalado pela decepção, pela amargura e vencido pelo egoísmo.

Os séculos que varreram povos e edificaram civilizações foram, também, responsáveis pela quedas das suas construções, que hoje remanescem como escombros desolados, documentando a fragilidade das conquistas de natureza material.

Os avanços tecnológicos dos últimos tempos não se fizeram acompanhar pelas realizações de natureza moral, decorrendo disto os descalabros e desatinos que se observam em toda parte.

Ao lado das imensas conquistas da Ciência aliada à Tecnologia permanecem as indiferenças pelo homem, em si mesmo, mergulhando nas ambições desmedidas e na caça ao poder exacerbado, que respondem pela miséria social e econômica, que domina o Planeta em todas as direções. Centenas de milhões de vidas se estiolam ao abandono e os índices de crimes, de violência e de loucura parecem informar que o homem se perdeu a si mesmo...

Tal ocorrência resulta do fracasso do materialismo, que acenou à criatura a ilusão de mundo de mentira e propôs-lhe uma felicidade imediata, não maior do que uma quimera

As guerras sucessivas e os desajustes humanos provaram que as realizações não estavam dispostas a conduzir o individuo para o bem. Equipadas com dogmas e cerimônias complexas, nas quais, igualmente se fizeram vítimas dos seus pastores desalmados, mais interessados nos valores terrestres do que nos bens espirituais ou na felicidade das ovelhas.

Fomentadoras de interesses servis, lançaram-se, umas contra as outras, promovendo mais aflições do que consolos, e desligando de Deus, ao largo do tempo, as mentes humanas.

Neste báratro, surgiu a Doutrina Espírita, desde 1857, com propostas novas, alicerçadas nos fatos demonstrados em laboratório, e portadora de uma filosofia comportamental excelente, tendo como apoio o Cristianismo primitivo, que revive em toda a sua potencialidade.

Ciência que investiga, filosofia que esclarece e religião que conduz, o Espiritismo vem, no momento próprio, quando a cultura o pode assimilar e do homem vivê-lo, a fim de resgatar o Espírito do Cristo das Igrejas ortodoxas apaixonadas, cujos fieis, com raras e justas exceções, não O vivem nem O amam...

Momento este, altamente significativo e decisivo para o homem, de retorno ao Cristianismo, que o Espiritismo explica e desvela, abrindo as portas ao amor e à caridade, como propostas libertadoras para a consciência e o coração, até este momento ergastulados nos calabouços das paixões primitivas, destruidoras.

Atraindo milhões de pessoas, aos seus postulados, "Consolador" ilumina a mente e arranca, pelas raízes, os males que geram aflições, evitando que futuras lágrimas de dor venham aljofrar os olhos dos homens.

Fixando a atenção na sua feição religiosa, exaltamos a sabedoria do mestre Allan Kardec que no-lo ofereceu, escoimado de superstições e místicas, fórmulas e sacerdócios organizados, muito comuns a outras religiões, o que, todavia,não o exonera de ser vivido religiosamente, face às possibilidades de mudar os rumos atuais pelos quais segue a Humanidade, na busca da plenitude.

Nas sua grandeza, a Doutrina Espírita abarca o conhecimento gera, que nela jaz, em síntese, esplendendo na lição da Caridade, fora da qual, não há salvação.

Podemos, assim, constatar que em toda a Codificação está presente o espírito religioso, completando os conteúdos científicos e filosóficos, nos quais se apóia toda a Revelação.

Ao iniciar o colossal trabalho de interrogação aos Espíritos, a primeira questão apresentada por Allan Kardec é a respeito de Deus, e a última, prosseguindo em torno das indevassadas proposições do Infinito, defrontando-se, na problemática, a criatura e o seu Criador, para concluir, magistralmente, a Obra, com uma análise sobre o reino do Cristo nos corações e a predominância do bem no relacionamento social. Assim, ressalta a tese da destinação humana, cuja etapa final é a sua plenitude, a perfeição relativa que lhe está reservada. ("O Livro dos Espíritos" – Questões 1 e 1018/19.).

Nesse processo de evolução, conforme acentuam os Espíritos, tudo marcha na direção de Deus. "desde o átomo até o arcanjo" (Questão 540 – "O Livro dos Espíritos"), apresentando o mecanismo da "Progressão dos Espíritos", a todos facultando, a Soberana Lei, a oportunidade de desenvolver as potencialidades que lhes jazem inatas e alcançarem a felicidade, conforme as promessas de Jesus.

Deus, no Espiritismo,deixa de ser o Criador antropomórfico, para tornar-se a "inteligência suprema e causa primeira do Universo" (Questão 1 – "O Livro dos Espíritos") acessível à compreensão relativa dos homens, que lhe penetram a justiça, segundo as lições apresentadas pelo Nazareno.

O Evangelho, nessa obra fundamental, ressurge com toda a sua pujança, a partir do debate sobre os "anjos e demônios", que se inicia na Questão nº 128 e prosseguem em diversas outras.

Exalando, no seu texto, o odor religioso, na sua mais elevada qualidade, Kardec enfrenta o materialismo e o combate com lógica, apoiado pelos reveladores Espirituais, culminando com a questão a respeito do ser mais perfeito que Deus ofereceu ao homem para servir-lhe de modelo e guia, e que obteve a resposta, sintética e insuperável: Jesus. (Questão 625, de "O Livro dos Espíritos").

Na análise das "Leis Morais", a de adoração se apresenta como aquele que propicia ao homem a perfeita compreensão da sua pequenez diante da Majestade do seu Criador, elucidando que a verdadeira adoração é do coração (Questão 653 de "O Livro dos Espíritos"), anulando qualquer tipo de culto exterior e cerimonial que descaracterizaria a grandeza e o valor do seu compromisso com a razão e a lógica.

Aprofundando o assunto, explica, Allan Kardec, posteriormente: "Demolindo nas religiões o que é obra dos homens e fruto de sua ignorância das leis da Natureza... Afastando os acessórios, ela prepara as vias para a unidade." ("A Gênese" – Cap. XVII, item 32.).

Por essência, o homem é um ser religioso. O seu atavismo antropológico-sociológico indu-lo ao culto religioso, à adoração natural a Deus, aos elementos essenciais da fé e, depois, da razão, na busca da conscientização da sua imortalidade. Este sentimento ressalta na prece, na ação da caridade, no exercício das virtudes, na superação da sua animalidade, no sacrifício para superar os próprios limites humanos.

A prece é-lhe de vital importância, a fim de se sintonizar com Deus, louvando-O, pedindo-Lhe e agradecendo-Lhe, em uma submissão racional e em uma libertação plena, ao entender as Leis que governam a vida.

Em "O Livro dos Espíritos", Parte Terceira (Das Leis Morais), Allan Kardec encara os desafios morais que esperam pelo indivíduo e analisa as grandezas e misérias humanas,suas paixões e ideais, seus vícios e virtudes em um formoso caleidoscópio de informações lúcidas quão atuais.

Em toda a metodologia de "O Livro dos Médiuns", encontramos a preocupação dos Espíritos e de Kardec, no que diz respeito à conduta moral dos intermediários e à sua responsabilidade em torno da vida futura que a todos nos aguarda.

Após a análise profunda das questões pertinentes ao intercâmbio entre os Espíritos e os homens, as conseqüências do bom ou mau uso da mediunidade, dos perigos da obsessão, são apresentadas comunicações que facultam uma melhor compreensão na natureza das criaturas após a desencarnação, que a ninguém modifica de golpe, e, por fim, as excelentes advertências e orientações das Entidades Venerandas, entre as quais, as oportunas palavras de Santo Agostinho: Confiai na bondade de Deus e sede bastante clarividentes para perceberdes os preparativos da vida nova que ele vos destina."

"O Evangelho segundo o Espiritismo", no seu Prefácio, abre as suas páginas com a extraordinária mensagem do Espírito de Verdade:

"Os Espíritos do Senhor, que são as virtudes dos Céus, qual imenso exército que se movimenta ao receber as ordens do seu comando, espalham-se por toda a superfície da Terra e, semelhantes a estrelas cadentes, vêm iluminar os caminhos e abrir os olhos aos cegos.

"Eu vos digo, em verdade, que são chegados em que todas as coisas hão de ser restabelecidas no seu verdadeiro sentido, para dissipar as trevas, confundir os orgulhosos e glorificar os justos.

"As grandes vozes do Céu ressoam como sons de trombetas, e os cânticos dos anjos se lhes associam. Nós vos convidamos, a vós homens, para o divino concerto. Tomai da lira, fazei uníssonas vossas vozes, e que, num hino sagrado, elas se estendam e repercutam de um extremo a outro do Universo.

"Homens, irmãos a quem amamos, aqui estamos juntos de vós. Amai-vos, também, uns aos outros e dizei do fundo do coração, fazendo as vontades do Pai, que está no Céu: Senhor! Senhor!... e podereis entrar no reino dos Céus."

Fundamentando-se nas mesmas questões abordadas por todas as religiões, e a que Kardec se referirá, posteriormente: "A Ciência e a Religião são as duas alavancas da inteligência humana: uma revela as leis do mundo material e a outra as do mundo moral..." ("O Evangelho segundo o Espiritismo", Cap. I, nº 8.) E, logo depois, no Capítulo XXIV, item 16, da obra referida, volta a dizer: "Pois que a doutrina que professam (os adeptos do Espiritismo) mais não é do que o desenvolvimento e a aplicação da do Evangelho, também a eles se dirigem as palavras do Cristo."

Detendo-se em uma análise mais profunda a respeito dos vínculos entre a Ciência e a Religião, no livro acima referido (Cap. 1), assevera o Codificador, ainda, no Item 8:

"A Ciência e Religião são as duas alavancas da inteligência humana: uma revela as leis do mundo material e outra as do mundo moral. Tendo, no entanto, essas leis o mesmo princípio, que é Deus, não podem se contradizer. Se fossem a negação uma da outra, uma necessariamente estaria em erro e a outra com a verdade, porquanto Deus não pode pretender a destruição de sua própria obra. A incompatibilidade que se julgou existir entre essas duas ordens de idéias provêm apenas de uma observação defeituosa e de excesso de exclusivismo, de um lado e de outro. Daí um conflito que deu origem à incredulidade e à intolerância.

São chegados os tempos em que os ensinamentos do Cristo têm que ser completados; em que o véu intencionalmente lançado sobre algumas partes desse ensino tem de ser levantado; em que a Ciência, deixando de ser exclusivamente materialista, tem de levar em conta o elemento espiritual e em que a Religião, deixando de ignorar as leis orgânicas e imutáveis da matéria, como duas forças que são, apoiando-se uma na outra e marchando combinadas, se prestarão mútuo concurso. Então, não mais desmentida pela Ciência, a Religião adquirirá inabalável poder, porque estará de acordo com a razão, já se lhe não podendo mais opor a irresistível lógica dos fatos."

No Capítulo IX, Item 8, do mesmo livro,explica o Codificador: "A doutrina de Jesus ensina, em todos os seus pontos, a obediência e a resignação, duas virtudes companheiras da doçura e muito ativas, se bem os homens erradamente as confundam com a negação do sentimento e da vontade. A obediência é o consentimento da razão; a resignação é o consentimento do coração, forças ativas ambas (...) O pusilânime não pode ser resignado, do mesmo modo que o orgulhoso e o egoísta não podem ser obedientes."

A seguir, no Capítulo XV, Itens 8 e 9, considera.

(...) "Fora da caridade não há salvação – assenta num princípio universal e abre a todos os filhos de Deus acesso à suprema felicidade (...) consagra o princípio da igualdade perante Deus e da liberdade de consciência (...) os homens são irmãos e, qualquer que seja a maneira por que adorem o Criador, eles se estendem as mãos e oram uns pelos outros."

Fora da Verdade

Ainda no Capítulo I, da referida obra, no item 6, Kardec assevera: "O Espiritismo é a terceira revelação da lei de Deus" e prossegue no de número 7: "Assim como o Cristo disse: "Não vim destruir a lei, porém cumpri-la, também o Espiritismo diz: "Não venho destruir a lei cristã; mas dar-lhe execução." Nada ensina em contrário ao que ensinou o Cristo; mas desenvolve, completa e explica, em termos claros e para toda gente, o que foi dito apenas sob forma alegórica. Vem cumprir, nos tempos preditos, o que o Cristo anunciou e preparar a realização das coisas futuras. Ele é, pois, obra do Cristo, que preside, conforme igualmente o anunciou, à regeneração que se opera e prepara o reino de Deus na Terra."

Ao estudar O Cristo Consolador, no Capítulo VI, de "O Evangelho segundo o Espiritismo", toda a floração evangélica estende o perfume da esperança, fazendo-se ouvir novamente o conteúdo sublime da palavra de Jesus, qual ocorreu nos memoráveis dias da Sua jornada terrestre. E, ao final do item 5, deste notável Capítulo, o Espírito de Verdade orienta: "Espíritas! Amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo."

No Capítulo XXVI, de "O Evangelho segundo o Espiritismo", no Item 10, com imensa propriedade, escreve o Codificador: "A mediunidade é coisa santa, que deve ser praticada santamente, religiosamente." Estudava o mestre a questão da Mediunidade gratuita, objetivando o sentido superior do seu ministério e o faz de forma elevada, que a torna uma bênção a ser repartida religiosamente, desinteressadamente.

"O Céu e o Inferno", de Allan Kardec, é toda uma obra religiosa, na qual o extraordinário pensador propõe um Código penal da vida futura – 1a. Parte – Cap. VII, 33 itens extraordinários, dignos de figurar em qualquer legislação que dignifique a criatura humana. Ademais, as comunicações repetem os estados dos Espíritos, nos diferentes estágios do processo depurador, esclarecendo os velhos conceitos sobre o inferno, o purgatório e o céu, afirmando a justiça e a bondade de Deus em todos os seus transcendentes aspectos.

Nos dezoito capítulos de "A Gênese", uma terça parte deles aborda questões palpitantes e sempre oportunas da lições e ensinamentos de Jesus, fazendo ressaltar a tarefa do Espiritismo, na sua condição de "O Consolador" (João: 14: 16 e seguintes), elucidando, com as luzes que o projeta, as passagens obscuras e traçando um roteiro formoso a respeito da sociedade do futuro e da criatura humana regenerada, antecipando a Era Nova que dominará a Terra.

Em um momento extraordinário, ("A Gênese", Cap. 1, 42) afirma Kardec: "(...) reconhece-se que o Espiritismo realiza todas as promessas do Cristo a respeito do Consolador anunciado. Ora, como é o Espírito de Verdade que preside ao grande movimento da regeneração, a promessa da sua vinda se acha por essa forma cumprida, porque, de fato, é ele o verdadeiro Consolador."

No mesmo Capítulo, Item 12, elucida: "O Espiritismo, dando-nos a conhecer o mundo invisível que nos cerca e no meio do qual vivíamos sem o suspeitarmos, assim como as leis que o regem, sua relações com o mundo visível, a natureza e o estado dos seres que o habitam e, por conseguinte, o destino do homem depois da morte, é uma verdadeira revelação, na acepção cientifica da palavra."

No Item 13, informa: "Por sua natureza, a revelação espírita tem duplo caráter: participa ao mesmo tempo da revelação divina e da revelação científica", prosseguindo, no de número 55: "As descobertas que a Ciência realiza, longe de o rebaixarem, glorificam a Deus; unicamente destroem o que os homens edificaram sobre as falsas idéias que formaram de Deus", acrescentando que: "Caminhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrassem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificaria nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará".

Anteriormente, afirmara o mestre, na Questão número 24 de "O Livro dos Médiuns": O Espiritismo repousa sobre as bases fundamentais da religião...", naturalmente confirmando o que se encontra exposto em "O Livro do Espíritos", na conclusão V: "O Espiritismo é forte porque assenta sobre as próprias bases da Religião: Deus, a alma, as penas e as recompensas futuras"; concluindo: " ... O Espiritismo não traz moral diferente da de Jesus."(-Idem, Conclusão VIII)".

Estes argumentos já foram explicitados em "O que é o Espiritismo", quando o Codificador com segurança expõe: "O Espiritismo possui, porém, uma outra utilidade, mais positiva: é a natural influencia moral que exerce. Ele é a prova patente da existência da alma, da sua individualidade depois da morte, da sua imortalidade, da sua sorte futura; é, pois, a destruição do materialismo..." (Segundo Diálogo – O Cético – Utilidade prática das manifestações – pág. 71.) E mais adiante: " O Espiritismo tem por fim combater a incredulidade e suas funestas conseqüências, fornecendo provas patentes da existência da alma e da vida futura. (...) os que têm uma fé religiosa e a quem esta fé satisfaz, dele não têm necessidade." (Terceiro Diálogo – O Padre – pág.84)

Na singela e bem elaborada obra "O Espiritismo na sua expressão mais simples" (Ed. FEB, 1921, pág. 14), afirma Kardec: Do ponto de vista religioso, o Espiritismo tem por base as verdades fundamentais de todas as religiões: Deus, a alma, a imortalidade, as penas e recompensas futuras; mas independe de qualquer culto particular." (Pág. 15)

E, na "Revista Espírita", de janeiro de 1863, à pág. 18, assevera: "Pelas provas patentes que ele (O Espiritismo) dá da existência da alma e da vida futura, base de todas as religiões, é a negação do materialismo..."

Ainda na Revista Espírita de 1860, pág. 308, na Resposta do Sr. Allan Kardec ao Sr. Redator da Gazeta de Lyon, afirma o Codificador: "O Espiritismo é inteiramente baseado no dogma da existência da alma, sua sobrevivência ao corpo, sua individualidade após a morte, sua imortalidade, as penas e as recompensas futuras. Não só sanciona estas verdades pela teoria; sua essência é de lhes dar provas patentes. Eis por que tanta gente que em nada acreditava foi reconduzida às idéias religiosas. Toda a sua moral é apenas o desenvolvimento das máximas do Cristo (...) Romperam eles com toda crença religiosa, eles que se apóiam na base mesma da religião?" E dando prosseguimento aos seus notáveis argumentos, esclarece: "Entre eles (os operários), muitos maldiziam seu trabalho penoso; hoje, o aceitam com a resignação do cristão, como uma prova..."

Em "Obras Póstumas" (Manifestação dos Espíritos, Item 7 – pág. 39), confirma: "O Espiritismo, que se funda no conhecimento de leis até agora incompreendidas não vem destruir os fatos religiosos, porem sancioná-los, dando-lhes uma explicação racional." E acrescenta (pág. 235 da mesma obra): "O Espiritismo é uma doutrina filosófica de efeitos religiosos, como qualquer filosofia espiritualista, pelo que forçosamente vai ter às bases fundamentais de todas as religiões: Deus, a alma e a vida futura. Mas, não é uma religião constituída, visto que não tem culto, nem rito, nem templos e que, entre seus adeptos, nenhum tomou, nem recebeu o título de sacerdote ou de sumo sacerdote." (Ligeira resposta aos detratores do Espiritismo.)

Não havendo culto no Espiritismo, como se expressam os Espíritas? Através da comunhão mental e interior com Deus, com Jesus, com os Espíritos Superiores, sem a utilização de quaisquer utensílios materiais, indumentárias ou cerimônias. É, conforme a expressão de Bérgson, a "Religião psíquica", consoante a denominou A. Conan Doyle (Herculano Pires – Introdução à sua tradução de "O Livro dos Espíritos" pág. 24 – Edicel). Ainda, Herculano Pires ("Boletim Informativo" da União Municipal Espírita de Bauru, - SP – Edição Especial – O Caráter Religioso do Espiritismo) acentua:

"A partir desse momento (quando Kardec indaga "Que é Deus?") não temos apenas a Religião Espírita, mas também a sua Teologia. O Estudo da Natureza de Deus iniciado em "O Livro dos Espíritos" traz a solução dos problemas que aturdem neste momento os teólogos do Mundo. Os teólogos foram confundidos por Deus e já criaram até mesmo a Teologia da Morte de Deus. Mas a Teologia Espírita surge no horizonte em sua nova luz. São chegados os tempos em que todas as coisas devem ser restabelecidas no seu verdadeiro sentido, como diz o prefácio mediúnico de "O Evangelho segundo o Espiritismo".

"Como vemos, a tese religiosa é fundamental no Espiritismo. Negar a existência da Religião Espírita é negar a lei de adoração e suas manifestações objetivas em todo o Mundo, em todas as épocas. Negar a existência de uma teologia Espírita é negar auxílio, o indispensável auxílio do Espírito de Verdade aos teólogos atormentados do nosso tempo. A Terra, dizia Pitágoras, é a morada da opinião. É muito fácil opinar sobre as coisas e não faltam opiniões pessoais sobre os mais graves problemas do Espiritismo. Mas não são as opiniões pessoais que resolvem. Temos que enfrentar cada tema Espírita nos textos da Codificação. Só eles nos dão a verdade que buscamos."

Magistralmente, Kardec reportou-se aos verdadeiros espíritas, ao enunciar: "Os que não se contentam com admirar a moral espírita, que a praticam e lhe aceitam todas as conseqüências." (...) "A caridade é, em tudo, a regra de proceder a que obedecem. São os verdadeiros espíritas, ou melhor, os espíritas cristãos." (os destaques são de Allan Kardec.) (... Ce sont là les vrais spirites ou mieux les spirites chrétiens.") ("O Livro dos Médiuns", Primeira Parte, Cap. III – Do Método – Item 28, 3..) ("Reformador", 10/1977 – Ed. FEB.)

Posteriormente, Kardec volta a comentar: "Não empaneis esse clarão por sentimento e atos indignos dos verdadeiros Espíritas, de espíritas cristãos." (... "n’em termissez pás l’éclat par des sentiments et des actes indignes do vrais Spirites, de Spirites Chrétiens." ("Viagem Espírita em 1862" – O Clarin, 1º edição, 1968, pág 92; edição francesa da Union Spirite Kardeciste Belge, s/d, p. 63.) Idem, idem, pág.10.)

Mais tarde, ele anota: "Aproxima-se a hora em que te será necessário apresentar o Espiritismo qual ele é, mostrando a todos onde se encontra a verdadeira doutrina ensinada pelo Cristo. Aproxima-se a hora em que, à face do céu e da Terra, terás de proclamar que o Espiritismo é a única tradição verdadeiramente cristã e a única instituição verdadeiramente divina e humana." – ("Obras Póstumas" – Segunda Parte – Livro da Previsões Concernentes ao Espiritismo, comunicação obtida em Ségur, aos 9/8/1863, a propósito da elaboração de "O Evangelho segundo o Espiritismo".) (Idem, Idem.)

Igualmente significativo é o conceito: "... a Doutrina que professam (os adeptos do Espiritismo) mais não é do que o desenvolvimento e a aplicação da do Evangelho, também a eles se dirigem as palavras do Cristo. Eles semeiam na Terra o que colherão na vida espiritual." ("O Evangelho segundo o Espiritismo", Cap. XXIV, Item 16.)

Por fim, na tese É o Espiritismo uma Religião?, extraímos do discurso de Allan Kardec, em 1º de novembro de 1868, na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, estampado na "Revue Spirite", de dezembro do mesmo ano, págs. 353 a 362 e traduzido por Júlio Abreu Filho, Edicel, págs. 356/360, ano XI, nº 12:

"Dissemos que o verdadeiro objetivo das assembléias religiosas deve ser a comunhão de pensamentos; é que, com efeito, a palavra religião quer dizer laço. Uma religião, em sua acepção nata e verdadeira, é um laço que religa os homens numa comunidade de sentimentos, de princípios e de crenças. Consecutivamente, esse nome foi dado a esses mesmos princípios codificados e formulados em dogmas ou artigo de fé. É nesse sentido que se diz: a religião política; entretanto, mesmo nesta acepção, a palavra religião não é sinônimo de opinião; implica uma idéia particular; a de fé conscienciosa; eis por que se diz também: a fé política."

"O laço estabelecido por uma religião, seja qual for o seu objetivo, é, pois, um laço essencialmente moral, que liga os corações, que identifica os pensamentos, as aspirações, e não somente o fato de compromissos materiais, que se rompem à vontade, ou da realização de fórmulas que falam mais aos olhos do que ao espírito. O efeito desse laço moral é o de estabelecer entre os que ele une, como conseqüência da comunidade de vistas e sentimentos, a fraternidade e a solidariedade, a indulgência e a benevolência mútuas. É nesse sentido que também se diz: a religião da amizade, a religião da família.

Se assim é, perguntarão, então o Espiritismo é uma religião? Ora, sim, sem dúvidas senhores. No sentido filosófico, o Espiritismo é uma religião, e nós no glorificamos por isto, porque é a doutrina que funda os elos da fraternidade e da comunhão de pensamentos, não sobre uma simples convenção, mas sobre bases mais sólidas: as mesmas leis da Natureza.

Por que, então, declaramos que o Espiritismo não é uma religião? Porque não há uma palavra para exprimir duas idéias diferentes, e que, na opinião geral, a palavra religião é inseparável da de culto; desperta exclusivamente uma idéia de forma, que o Espiritismo não tem. Se o Espiritismo se dissesse uma religião, o público não veria aí senão uma nova edição, uma variante, se quiser, dos princípios absolutos em matéria de fé; uma casta sacerdotal com o seu cortejo de hierarquias, de cerimônias e privilégios; não o separaria das idéias de misticismo e dos abusos contra os quais tantas vezes se levantou a opinião pública.

Não tendo o Espiritismo nenhum dos caracteres de uma religião, na acepção usual do vocábulo, não podia nem devia enfeitar-se com um título sobre cujo valor inevitavelmente se teria equivocado. Eis por que simplesmente se diz: doutrina filosófica e moral."

"Crer num Deus todo-poderoso soberanamente justo e bom; crer na alma e em sua imortalidade; na preexistência da alma como única justificativa do presente; na pluralidade das existências como meio de expiação, de reparação e de adiantamento moral e felicidade crescente com à perfeição; na perfectibilidade dos seres mais imperfeitos; na do bem e do mal conforme o princípio: a cada um segundo as suas obras; na igualdade da justiça para todos, sem exceções, favores nem privilégios para nenhuma criatura; na duração da expiação limitada pela imperfeição; no livre-arbítrio do homem, que lhe deixa sempre a escolha entre o bem e o mal; crer na continuidade que religa todos os seres passados, presentes e futuros, encarnados e desencarnados; considerar a vida terrestre como transitória e uma das fases da vida do Espírito, que é eterna; aceitar corajosamente as provações, em vista do futuro mais invejável que o presente; praticar a caridade de pensamentos, palavras e obras na mais larga acepção da palavra; esforçar-se cada dia para ser melhor que na véspera, extirpando alguma imperfeição de sua alma; submeter todas as crenças ao controle do livre exame e da razão e nada aceitar pela fé cega; respeitar todas as crenças sinceras, por mais irracionais que nos pareçam e não violentar a consciência de ninguém; ver enfim nas descobertas da Ciência a revelação das leis da Natureza, que são as leis de Deus: eis o credo, a religião do Espiritismo, religião que pode conciliar com todos os cultos, isto é com todas as maneiras de adorar a Deus. É o laço que deve unir todos os espíritas numa santa comunhão de pensamentos, esperando que ligue todos os homens sob a bandeira da fraternidade universal."

"Religião – É palavra de origem latina: a) vem de relegere, recolher, tratar com cuidado (oposto de neglegere, deixar de lado, descuidar), porque o homem religioso zela, com máximo empenho e profundo respeito, pelas coisas referentes ao culto de Deus. É a etimologia que dá Cícero; b) outros autores, como Lactâncio, S. Jerônimo, S. Agostinho pensam que vem de religare, ligar, porque a religião tem, como base, os laços que unem o homem a Deus.

" A etimologia, aliás, pouco influi. Usamos a palavra religião com diversas acepções: Doutrina. Professar a religião cristã é admitir a doutrina, os ensinos de Nosso Senhor Jesus-Cristo: é crer nas verdades que nos revelou e observar os mandamentos que nos deu." – Boulanger – "A Doutrina Católica".

Após comentar o conceito apresentado por Boulanger, expondo os pontos básicos do Espiritismo, perfeitamente concordes com o Cristianismo, concluiu o erudito escritor Carlos Imbassahy:

"Pelas leis morais do Cristo, que segue; pela parte do Cristianismo, que representa; pela obrigação que se impôs de divulgar o Evangelho; pelo dever, que mantém, de colocar as leis divinas acima de tudo, como a fonte do progresso humano, o Espiritismo reivindica a parte que lhe cabe no seio das religiões." ("Religião" – págs. 91 a 105 – O Cristianismo.)

Voltando a "A Gênese", diz Allan Kardec (cap. 1):

"21. Moisés, como profeta, revelou aos homens a existência de Deus único...

22. O Cristo, tomando da antiga lei o que é eterno e divino e rejeitando o que era transitório, puramente disciplinar e de concepção humana...

"30. O Espiritismo, partindo das próprias palavras do Cristo, como este partiu das de Moisés, é conseqüência direta da sua doutrina." – (Págs. 23 e 30.)

O "Petit Larousse – Illustré", edição de 1975, define Religião como: "a culto prestado à Divindade; doutrina religiosa; religião cristã". (Salvador Gentile – Espiritismo e Religião – "Reformador", Ed. FEB, 1986m págs 20 e 21.)

O "Dicionário Escolar do Professor", organizado por Francisco da Silva Bueno, edição 1962, elucida que Religião significa: conjunto de práticas e princípios que regem as relações entre o homem e a divindade; doutrina religiosa. (Idem, Idem.)

O Diccionário de la Lengua Española, de la Real Academia Espanõla, 1970, informa: Religião significa: conjunto de crenças e dogmas acerca da divindade, de sentimentos de veneração e temor para com ela, de normas morais para a conduta individual e social e de práticas rituais, principalmente a oração e o sacrifício para prestar-lhe culto. (Idem, Idem.)

"A Grande Enciclopédia Delta Larousse" edição de 1978, define Religião: "Culto praticado a uma divindade; crença na existência de um ente supremo como causa, fim ou lei universal. Conjunto de dogmas e práticas próprias de uma confissão religiosa. Crença, devoção, piedade. Reverência às coisas sagradas."

Igualmente, a "Enciclopédia Brasileira Mérito", edição de 1967, assinala: Religião – Lat. Religio. Culto a uma divindade; crença na existência de um ente supremo como causa, fim ou lei universal; doutrina, crença ou sistema religioso; reverência ou acatamento às coisas sagradas; fé, crença, devoção, piedade; estado de pessoas reunidas por voto para seguirem prontamente certa regra da Igreja; ordem ou congregação religiosa; ordem de cavalaria; tudo aquilo que se considera dever sagrado ou obrigação indeclinável; reunião de princípios de moral comuns às nações civilizadas e independentes de revelação; escrúpulos; santidade ou virtude que se atribui a alguma coisa e pela qual se lhe presta reverência."

Diz Humberto Mariotti: "O Espiritismo, ao ser a ciência espiritual mais positiva da imortalidade da alma dentro do processo histórico, abarca, como é lógico, todas as necessidades da evolução humana; por conseguinte, não somente oferece ao homem a religião universal, mas, também, a Sabedoria Divina integral já que suas bases se desenvolvem sobre os três grandes instrumentos do saber. A Ciência – A Filosofia e A Religião. ("Codificação Espírita superada?" Federação Espírita do Paraná editora, 1964.)

Na sua obra "O Espiritismo e as doutrinas espiritualistas" afirma Deolindo Amorim: "A adoração exterior pode ser útil, se não consistir num vão simulacro, se houver sinceridade, mas o Espiritismo faz sentir que o homem, quanto mais espiritualizado, menos necessidade de exteriorização ou de posturas convencionais para render culto a Deus. É a Religião pura e simples, a religião da consciência."

Por sua vez, González Soriano, in "El Espiritismo es la filosofia", acentua: "O Espiritismo – Ciência, Filosofia e Religião – faculta ao homem, neste atribulado fim de século, percorrer todo o caminho a que alude o filósofo na citação inicial deste artigo; porque é, sem dúvida, "a síntese essencial dos conhecimentos humanos aplicados à investigação da verdade".

Fazendo-se uma análise insuspeita quão impessoal da questão, conclui-se com nítida claridade mental que o Espiritismo é religião cuja tarefa essencial foi confirmar, à luz da Ciência contemporânea, a legitimidade dos princípios nos quais se fundamentam todas as religiões: Deus, a alma, a justiça divina, a pluralidade dos mundos habitados, os deveres morais para consigo mesmo e para com o próximo, de cuja conduta deflui uma filosofia otimista, encarregada de ensejar ao homem a compreensão dos acontecimentos da vida e lutar, apoiado em uma ética moral superior, qual aquela que Jesus viveu e pregou, pelo auto- aprimoramento, libertando-se das paixões que o escravizam e infelicitam.

O Espiritismo é a Religião do amor em todas as suas dimensões e da caridade nas suas mais variadas expressões, dignificando a criatura e harmonizando-a em relação às Leis Soberanas que regem a vida.

O Espiritismo é a Religião dinâmica, sem dogmas, sem rituais, sem sacerdócio, sem limites, sem misticismo, sem superstição, encarregada de preparar a Era Nova da Humanidade ideal conforme preconizada por Jesus e referendada por São Luís, ao terminar a Questão de número 1019, de "O Livro dos Espíritos".

"Todos vós, homens de fé e de boa vontade, trabalhai, portanto, com ânimo e zelo na grande obra da regeneração, que colhereis pelo cêntuplo o grão que houverdes semeado. Ai dos que fecham os olhos à luz! Preparam para si mesmos longos séculos de trevas e decepções! Ai dos que fazem dos bens deste mundo a fonte de todas as suas alegrias! Terão que sofrer privações muito mais numerosas do que os gozos de que desfrutaram! Ai, sobretudo, dos egoístas! Não acharão quem os ajude a carregar o fardo de suas misérias."

E Santo Agostinho, na Conclusão, Item IX do grandioso "O Livro dos Espíritos", estabelece: "O Espiritismo é o laço que um dia os (aos homens) unirá, porque lhes mostrará onde está a verdade,onde o erro. Durante muito tempo, porém, ainda haverá escribas e fariseus que o negarão, como negaram o Cristo. Quereis saber sob a influência de que Espíritos estão as diversas seitas que entre si fizeram partilha do Mundo? Julgai-o pelas suas obras e pelos seus princípios. Jamais os bons Espíritos foram os instigadores do mal; jamais aconselharam ou legitimaram o assassínio e a violência; jamais estimularam os ódios dos partidos, nem a sede das riquezas e das honras, nem a avidez dos bens da Terra. Os que são bons, humanitários e benevolentes para com todos, esses os seus prediletos e prediletos de Jesus, porque seguem a estrada que este lhes indicou para chegarem até Ele."

Conquanto as dificuldades existentes no Mundo terrestres e a persistência do homem, na preservação dos seus "instintos agressivos", mantendo o desequilíbrio, promovendo a guerra, a Religião Espírita propicia-lhe a renovação dos valores íntimos e convida-o a uma reativação de interesses em favor do bem, do belo, do nobre, abrindo-lhe espaço para a conquista de si mesmo, prenúncio da aquisição da felicidade que aguarda.

Bibliografia:

  • "O Espiritismo na sua expressão mais simples", de Allan Kardec – Edição da FEB, 1912.
  • "O que é o Espiritismo", de Allan Kardec – 8ª Edição da FEB, 1939.
  • "Obras Póstumas", de Allan Kardec – 8ª Edição da FEB, 1939.
  • "O Livro dos Espíritos", de Allan Kardec – 29ª Edição da FEB.
  • "O Livro dos Médiuns", de Allan Kardec – 28ª Edição da FEB, 1964.
  • "O Evangelho segundo o Espiritismo", de Allan Kardec – 52ª Edição da FEB.
  • "O Céu e o Inferno", de Allan Kardec – 19ª Edição da FEB, 1963.
  • "A Gênese", de Allan Kardec – 14ª Edição da FEB, 1962
  • "O Livro dos Espíritos", de Allan Kardec – Edição da LAKE – tradução de Herculano Pires – Ed. 47ª - 1988.
  • "Religião", de Carlos Imbassahy – 3ª Edição da FEB, 1981.
  • "Revista Espírita", de Allan Kardec – janeiro de 1868 e outubro de 1860 – EDICEL, 1965.

(Extraído da Revista Reformador, maio,1990, pgs; 30-31-32-33-34 e 35, Digitação, Otto – Sociedade Espírita Fraternidade).

(...) equivaleria ao Fora da Igreja (...) e seria igualmente exclusivo, porquanto nenhuma seita existe que não pretenda ter o privilégio da verdade (...) O Espiritismo, de acordo com o Evangelho, admitindo a salvação para todos, independe de qualquer crença, contanto que a lei de Deus seja observada, não diz: Fora do Espiritismo não há salvação; e, como não pretende ensinar ainda toda a verdade, também não diz: Fora da Verdade... pois que esta máxima separaria em lugar de unir e perpetuaria os antagonismos."

 

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O CONSOLADOR PROMETIDO

 

 
 
 
 
"O Evangelho Segundo o Espiritismo"
Consolador Prometido
3. Se me amais, guardai os meus mandamentos. E eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro consolador, para que fique eternamente convosco, o Espírito da Verdade, a quem o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o conhece. Mas vós o conhecereis, por que ele ficará convosco e estará em vós. _ Mas o Consolador, que é o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito. (João, XIV: 15 a 17; 26).
4. Jesus promete outro consolador: é o Espírito da Verdade, que o mundo ainda não conhece, pois que não está suficientemente maduro para compreendê-lo, e que o Pai enviará para ensinar todas as coisas e para fazer lembrar o que Cristo disse. Se, pois, o Espírito da Verdade deve vir mais tarde, ensinar todas as coisas, é que o Cristo não pôde dizer tudo. Se ele vem fazer lembrar o que o Cristo disse, é que o seu ensino foi esquecido ou mal compreendido.
O Espiritismo vem, no tempo assinalado, cumprir a promessa do Cristo. O Espírito da Verdade preside ao seu estabelecimento. Ele chama os homens à observância da lei; ensina todas as coisas, fazendo compreender o que o Cristo só disse em parábolas. O Cristo disse: "que ouçam os que têm ouvidos para ouvir". O Espiritismo vem abrir os olhos e os ouvidos, porque ele fala sem figuras e alegorias. Levanta o véu propositalmente lançado sobre certos mistérios, e vem, por fim, trazer uma suprema consolação aos deserdados da Terra e a todos os que sofrem, ao dar uma causa justa e um objetivo útil a todas as dores.
Disse o Cristo: "Bem-aventurados os aflitos, porque eles serão consolados". Mas como se pode ser feliz por sofrer, se não se sabe por que se sofre?
O Espiritismo revela que a causa está nas existências anteriores e na própria destinação da Terra, onde o homem expia o seu passado. Revela também o objetivo, mostrando que os sofrimentos são como crises salutares que levam à cura, são purificação que assegura a felicidade nas existências futuras. O homem compreende que mereceu sofrer, e acha justo o sofrimento. Sabe que esse sofrimento auxilia o seu adiantamento, e o aceita sem queixas, como o trabalhador aceita o serviço que lhe assegura o salário. O Espiritismo lhe dá uma fé inabalável no futuro, e a dúvida pungente não tem mais lugar na sua alma. Fazendo-o ver as coisas do alto, a importância das vicissitudes terrenas se perde no vasto e esplêndido horizonte que ele abarca, e a perspectiva da felicidade que o espera lhe dá a paciência, a resignação e a coragem para ir até o fim do caminho.
Assim realiza o Espiritismo o que Jesus disse do consolador prometido: conhecimento das coisas, que faz o homem saber de onde vem, para onde vai e porque está na Terra, lembrança dos verdadeiros princípios da lei de Deus, e consolação pela fé e pela esperança.
 
 
"O Evangelho Segundo o Espiritismo"
Não Vim Trazer a Paz, Mas a Espada.
 
 
16. Quando Jesus disse: Não penseis que vim trazer a paz, mas a divisão _ seu pensamento era o seguinte:
“Não penseis que a minha doutrina se estabeleça pacificamente”. Ela trará lutas sangrentas, para as quais o meu nome servirá de pretexto. Porque os homens não me haverão compreendido, ou não terão querido compreender-me. Os irmãos, separados pelas suas crenças, lançarão a espada um contra o outro, e a divisão se fará entre os membros de uma mesma família, que não terão a mesma fé. Vim lançar o fogo na terra, para consumir os erros e os preconceitos, como se põe fogo num campo para destruir as ervas daninhas, e anseio porque se acenda, para que a depuração se faça mais rapidamente, pois dela sairá triunfante a verdade. À guerra sucederá a paz; ao ódio dos partidos, a fraternidade universal; às trevas do fanatismo, a luz da fé esclarecida.
Então, quando o campo estiver preparado, eu vos enviarei o Consolador, o Espírito da Verdade, que virá restabelecer todas as coisas, ou seja, que dando a conhecer o verdadeiro sentido das minhas palavras, que os homens mais esclarecidos poderão enfim compreender porá termo à luta fratricida que divide os filhos de um mesmo Deus. Cansados, afinal, de um combate sem solução, que só carreta desolação e leva o distúrbio até mesmo ao seio das famílias, os homens reconhecerão onde se encontram os seus verdadeiros interesses, no tocante a este e ao outro mundo, e verão de que lado se acham os amigos e os inimigos da sua tranqüilidade. “Nesse momento, todos virão abrigar-se sob a mesma bandeira: a da caridade, e as coisas serão restabelecidas na Terra, segundo a verdade e os princípios que vos ensinei”.
 
"A Gênese"
Capítulo I
Caracteres da Revelação Espírita
26. Entretanto, o Cristo acrescenta: "Muitas das coisas que vos digo, vós não as podeis ainda compreender, e eu tenho muitas outras a vos dizer, que não compreenderíeis; por isso é que vos falo em parábolas; mais tarde, porém, enviar-vos-ei o Consolador, o Espírito da Verdade, que restabelecerá todas as coisas e vo-las explicará" (Jo 14.16; Mt 17).
Se o Cristo não disse tudo quanto poderia dizer, é que ele acreditava deveria deixar certas verdades na sombra até que os homens estivessem em estado de compreendê-las. Ele mesmo disse que o seu ensinamento era incompleto, pois anunciou a vinda daquele que deveria completá-lo; previa, assim, que a suas palavras não seriam bem interpretadas, que o seu ensino seria desviado; numa palavra, que seria desfeito o que ele fizera, desde que todas as coisas deveriam ser restabelecidas; ora, não se restabelece senão aquilo que foi desfeito.
27. Por que denomina ele Consolador ao novo Messias? Este nome significativo e sem ambigüidades é toda uma revelação. Assim, ele previa que os homens teriam necessidade de consolo, o que implica a insuficiência das consolações que encontrariam na crença que estavam formulando. Jamais o Cristo poderia ser mais claro e mais explícito como nestas últimas palavras, às quais poucos deram a atenção necessária, talvez porque evitaram mesmo esclarecê-las e aprofundar-lhes o sentido profético.
28. Se o Cristo não pode desenvolver o seu ensino de maneira completa, é porque faltava aos homens o conhecimento que eles não poderiam adquirir senão com o tempo e sem o qual não o poderiam compreender; há coisas que teriam parecido sem sentido, de acordo com os conhecimentos de então. Completar o seu ensinamento deve ser interpretado no sentido de explicar e de desenvolver e não o de adicionar verdades novas, porque ali tudo se encontra em germe; somente faltava a chave para abrir o sentido de suas palavras.
"A Gênese"
Anunciação do Consolador
35. Se vós me amais, guardai meus mandamentos _ e pedirei a meu Pai, e ele vos enviará um outro Consolador, a fim de que fique eternamente convosco: _ o Espírito de Verdade, que este mundo não pode receber, pois não o vê; mas vós o conhecereis, pois ficará convosco, e estará em vós. _ Mas o Consolador, que é o Espírito Santo, que meu Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas, e vos fará recordar de tudo quanto vos tenho dito. (S. João, cap. XIV, vers. 15, 16, 17 e 26. _ O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. VI).
36. Entretanto, digo-vos a verdade: Convém que eu vá; pois se eu não me for, o Consolador não virá a vós; porém eu vou, e eu vo-lo enviarei, _ e quando ele vier, convencerá o mundo no que respeita ao pecado, à justiça e ao julgamento: _ no que respeita ao pecado, porque eles não terão acreditado em mim; _ no que respeita à justiça, porque eu vou a meu Pai e vós não me vereis mais; no que respeita ao julgamento, porque o príncipe deste mundo já está julgado.
Tenho ainda muitas coisas a vos dizer, mas não as podeis suportar agora.
Quando este Espírito de Verdade vier, ele vos ensinará toda a verdade, pois não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará as coisas vindouras.
Ele me glorificará, porque receberá do que está em mim e vo-lo anunciará. (S. João, cap. XVI, vers. 7 a 14).
37. Esta predição, sem contradita, é uma das mais importantes do ponto de vista religioso, pois ela prova de maneira inequívoca que Jesus não disse tudo aquilo que tinha a dizer, pois não o compreenderiam mesmo seus apóstolos, pois era a estes que ele se dirigia. Se lhes houvesse dado instruções secretas, eles teriam mencionado isso no Evangelho. Então, desde que ele não disse tudo a seus apóstolos, os sucessores destes não poderiam ter sabido mais que aqueles; poderiam, pois, ter-se enganado sobre o sentido das suas palavras, dar uma falsa interpretação a seus pensamentos, freqüentemente velados sob forma simbólica. As religiões fundadas sobre o Evangelho não podem, pois, dizer que estão na posse de toda a verdade, pois que ele se reservou o direito de completar ulteriormente suas instruções. O princípio de imutabilidade das religiões está, pois, desmentido pelas próprias palavras de Jesus.
Ele anuncia sob o nome de Consolador e de Espírito de Verdade, aquele que deve ensinar todas as coisas e fazer recordar o que ele dissera; de onde se diz que seu ensinamento não estava completo; além disso, ele previa que haviam de esquecer o que ele dissera, e que haviam de desnaturar seu ensinamento, pois o Espírito de Verdade lhes devia fazer recordar, e de acordo com Elias, restabelecer todas as coisas, isto é, segundo o verdadeiro pensamento de Jesus.
38. Quando deverá vir este novo revelador? É bem evidente que, se na época em que Jesus falava os homens não estavam em estado de compreender aquilo que lhe restava dizer, não seria em alguns anos que poderiam adquirir as luzes necessárias. Para compreensão de certa parte do Evangelho, excetuados os preceitos da moral, seriam necessários conhecimentos que unicamente o progresso da ciência poderia dar, e que deviam ser a obra do tempo e de diversas gerações. Se, portanto, o novo Messias tivesse vindo pouco tempo depois do Cristo, teria encontrado o terreno também pouco propício, e não teria feito mais que ele. Ora, desde Cristo até os nossos dias, não se produziu nenhuma grande revelação que haja completado o Evangelho, e haja elucidado suas partes obscuras, o que constitui índice seguro de que o Enviado ainda não aparecera.
39. Qual deverá ser esse Enviado? Ao dizer Jesus: "Orarei a meu Pai e ele vos enviará um outro Consolador," isto indica claramente que não se trata dele mesmo, senão teria dito: "Voltarei a completar o que vos tenho ensinado." Depois, ele acrescenta: "A fim de que permaneça eternamente convosco, e estará em vós." Isto não poderia dizer respeito a uma individualidade encarnada que não pode permanecer eternamente conosco, e ainda menos estar em nós; compreende-se bem que pode ser uma doutrina a qual, com efeito, desde que tenha sido assimilada, pode estar eternamente em nós. O Consolador é, pois, no pensamento de Jesus, a personificação de uma doutrina soberanamente consoladora, cujo inspirador deve ser o Espírito de Verdade.
40. O Espiritismo realiza, conforme foi já demonstrado (Cap. I, nº. 30), todas as condições do Consolador prometido por Jesus. Não é uma doutrina individual, uma concepção humana; ninguém pode dizer que foi seu criador. É o produto do ensinamento coletivo dos Espíritos, ensino ao qual preside o Espírito de Verdade. Nada suprime do Evangelho: ele o completa e elucida; com o auxílio das novas leis que revela juntas às da ciência, faz compreender o que era ininteligível, admitir a possibilidade do que a incredulidade considerava como inadmissível. Teve seus precursores e seus profetas, que lhe pressentiram a vinda. Por seu poder moralizador, prepara o reino do bem sobre a Terra.
A doutrina de Moisés, incompleta, permaneceu circunscrita ao povo judeu; a de Jesus, mais completa, espalhou-se por toda a Terra, pelo cristianismo, porém não converteu todo o mundo; o Espiritismo, mais completo ainda, tendo raízes em todas as crenças, converterá a humanidade. (1)
41. Quando Jesus dizia a seus apóstolos: "Um outro virá mais tarde, que vos ensinará aquilo que não posso vos dizer agora," proclamava por isso mesmo, a necessidade da reencarnação. Como poderiam estes homens aproveitar o ensinamento mais completo que deveria ser dado ulteriormente? Como seriam eles mais aptos a compreendê-lo, se não deviam reviver? Jesus teria dito uma inconseqüência, se os homens futuros devessem, segundo a doutrina vulgar, ser homens novos, almas saídas do nada no seu nascimento. Admita-se, ao contrário, que os apóstolos e os homens de seu tempo tenham vivido depois; que eles revivem ainda hoje; então, a promessa de Jesus se encontra justificada; sua inteligência, que deve ter-se desenvolvido ao contato do progresso social, pode suportar agora aquilo que então não o poderia. Sem a reencarnação, a promessa de Jesus teria sido ilusória.
42. Se se dissesse que essa promessa foi realizada no dia de Pentecostes pela descida do Espírito Santo, a resposta seria de que o Espírito Santo os inspirou que ele pode abrir sua inteligência, desenvolver neles às aptidões mediúnicas que deviam facilitar suas missões, mas que nada lhes ensinou além do que Jesus ensinara, pois nenhum traço se encontra, de um ensinamento especial. O Espírito Santo, pois, não realizou o que Jesus anunciara, do Consolador: de outro modo os apóstolos teriam elucidado, enquanto viviam, tudo quanto permaneceu obscuro no Evangelho, até nossos dias, e cuja interpretação contraditória deu lugar às inúmeras seitas que dividiram o cristianismo desde os primeiros séculos.
(1) Todas as doutrinas filosóficas e religiosas trazem o nome da individualidade fundadora; o mosaísmo, o cristianismo, o maometismo, o budismo, o cartesianismo, o furierismo, san-simonismo, etc. A palavra Espiritismo, ao contrário, não lembra nenhuma personalidade; ela encerra uma idéia geral, que indica, ao mesmo tempo, o caráter e a fonte múltipla da doutrina.
Bibliografia:
KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap.6 e 23
KARDEC, A. Gênese. Cap. 1 e 17
 
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Quinta-feira, 14 De Janeiro,2010

A TRAIÇÃO DE JUDAS - UMA HISTÓRIA MAL CONTADA

 

 
 
 
 
 
                                           “Afaste-se da boca enganosa e fique longe dos lábios falsos” (Pv 4, 24)
Introdução
É interessante como alguns temas bíblicos não resistem a uma análise mais profunda. Vários deles, que já tratamos em outros textos, nos levam a uma certeza que muitos trechos constantes da Bíblia trata-se de uma deliberada, mas sutil, montagem para se chegar a um objetivo previamente traçado. Daí, muitos textos foram amoldados a esse objetivo, passando por cima da verdade histórica que deveria conter tais escritos.
Muitas pessoas se chocam com atitudes como essa, a de uma análise crítica. Entretanto, não abrimos mão de fazer uso da inteligência com a qual nos dotou o Criador. Nós seres humanos racionais, que efetivamente somos, temos que usar esse dom, pois, não usá-la é abdicar da única capacidade que nos difere dos animais, por isso, acreditamos que só ofendemos a Deus, quando não utilizamos a nossa inteligência plenamente.
Reconhecemos, entretanto, ser muito difícil a inúmeras pessoas, principalmente as que não pesquisam, abandonar conhecimentos adquiridos, especialmente quando foram passados como verdades divinas sob coação ideológica. Ou seja, o simples questionamento da veracidade das mesmas já era, por si só, considerado como grave ofensa à divindade. Essa possibilidade de heresia acaba gerando um bloqueio mental em função do medo do conseqüente castigo por esse tipo de pecado. Assim, aceitamos sem o mínimo questionamento o que nos foi imposto como verdade absoluta. Com o tempo, passamos a defender idéias que nunca analisamos ou criticamos, como se nossas fossem.
O assunto que iremos tratar, desta vez, está relacionado a uma suposta traição a Jesus, que teria sido realizada por Judas Iscariotes, um de seus discípulos. Inclusive, tudo que consta na Bíblia sobre ele está somente nas passagens que iremos ver a seguir.
Análise das narrativas
Em Lucas 22,3-6, está escrito que, após satanás ter entrado em Judas, ele foi procurar os sacerdotes para ver de que maneira entregaria Jesus. Os sacerdotes ficaram tão satisfeitos com isso que combinaram em dar-lhe dinheiro, uma vez que eles desejavam, de há muito, eliminar esse herético. Tal acontecimento se deu, na versão de Lucas, antes da festa dos Ázimos, evidentemente, antes da ceia de páscoa, cujo prato principal eram os cordeiros que matavam especificamente para essa finalidade, entretanto, segundo João, esse fato se deu após a ceia (Jo 13, 26-29), apesar de que, um pouco antes, ele ter dito: Enquanto ceavam, tendo o diaboposto no coração de Judas, filho de Simão Iscariotes, que o traísse” (Jo 13,2), sendo, por conseguinte, omisso sobre qualquer combinação anterior entre Judas e os sacerdotes. Portanto, podemos verificar que há conflito entre as narrativas.
Quanto à questão dessa combinação com os sacerdotes, Mateus (26,15) diz que Judas pediu dinheiro para entregar-lhes Jesus, enquanto que Marcos (14,11) e Lucas (22, 5) afirmam que foram os sacerdotes é quem tomaram a iniciativa de retribuir ao discípulo, dando-lhe dinheiro como recompensa pelo seu ato ignominioso. Um bom observador irá perceber que, pelas suas narrativas, Mateus teve uma evidente preocupação, qual seja a de relacionar Jesus com as profecias, inclusive, muito mais que os outros Evangelistas. Daí ser ele o único que diz sobre o quanto Judas teria recebido, dando como certa a importância de trinta moedas de prata (Mt 26,15; 27,3). Essas passagens que falam disso são relacionadas a Zc 11,12-13, no pressuposto de que ela seja uma profecia, entretanto, os fatos ali narrados se referem ao próprio profeta Zacarias, não é, por conseguinte, uma revelação sobre algo que viesse a ocorrer no futuro.
Ao narrar os acontecimentos durante a ceia, Mateus relata que Jesus, ao responder aos discípulos sobre quem o iria trair, teria dito: Quem vai metrair, é aquelequecomigo põe a mão no prato. O Filho do Homem vai morrer, conforme a Escriturafala a respeito dele..." (Mt 26,23-24). Passagem relacionada ao Sl 41,10, onde Davi reclama sobre um amigo que o trai. O que nos leva a concluir que tal passagem não é uma profecia, assim, não poderia estar relacionada a Jesus, como querem os que buscam, nas Escrituras, apoio para seus dogmas. Davi foi traído por um amigo, seu próprio conselheiro, de nome Aquitofel, conforme narrativa em 2Sm 15,12.31. O final trágico da vida desse “amigo da onça” foi enforcar-se (2Sm17,23), por isso, querem, igualmente, atribuir esse mesmo destino a Judas, como iremos ver mais à frente.
Outra coisa que nos parece sem nenhum sentido, principalmente por tudo que Ele fez, é que Jesus tenha realmente se preocupado em delatar o seu traidor, conforme narra Jo 13,26, quando, para identificar quem o trairia, diz aos que o acompanhava, naquela ceia, que seria a quem desse um pão molhado, dito isso, imediatamente, entrega-o a Judas. Talvez a preocupação aqui seja buscar mais uma forma de relacionar tal episódio a uma suposta profecia sobre esse acontecimento.
Mateus (26,48) e Marcos (14,44) dizem que Judas havia combinado com os sacerdotes um sinal – o beijo – para que pudessem identificar quem era Jesus. Lucas, apesar de não relatar absolutamente nada sobre esse sinal, diz que Judas aproximando-se de Jesus o saúda com um beijo (Lc 22,47). Enquanto que João não fala de ter havido uma combinação de sinal, nem que Jesus teria dito algo a respeito e nem mesmo coloca Judas beijando a Jesus, já que, para ele, foi o Mestre que se adiantou aos guardas acompanhados de Judas se identificando a eles como sendo Jesus, o Nazareno, a quem procuravam (Jo 18,3-5). Fatos novamente conflitantes.
Nenhum outro evangelista, a não ser João, coloca Judas como sendo aquele que, entre os discípulos, cuidava da “bolsa” (Jo 13,29). Vai mais longe ainda, o acusa de ladrão (12,6). Como uma acusação grave dessa não foi feita por mais ninguém? Se Judas fosse realmente ladrão, por que motivo o deixaram tomando conta do dinheiro? Alguém colocaria um ladrão como seu administrador financeiro? Não seria, evidentemente, para colocar a honra desse discípulo em jogo, fórmula encontrada para se justificar que, por ser assim, ele não teria também nenhum escrúpulo em trair o seu próprio Mestre?
Não bastassem os que já encontramos, aparecem-nos agora mais dois evidentes conflitos.
O primeiro está relacionado à forma pela qual Judas deu cabo à sua vida, movido, segundo relata Mateus, por profundo remorso. Estranhamente ele é o único evangelista que fala disso, nenhum outro apresenta uma linha sequer sobre Judas ter se arrependido. Continuando seu relato Mateus diz que Judas enforcou-se (27, 5), entretanto em Atos (1,18) está se afirmando que ele “precipitando-se, caiu prostrado e arrebentou pelomeio, e todas as suasentranhas se derramaram”, mudando-se, desta maneira, a versão anterior a respeito de sua morte. Encontramos a seguinte explicação para esse passo: “Possivelmente a narração da morte de Judas enforcando-se, está inspirada na história da morte de Aquitofel (cf. 2Sm 17,23)” (Bíblia Sagrada Santuário, p. 1463). Conforme citamos anteriormente Aquitofel enforcou-se, mas querer daí, apenas por inspiração, atribuir a Judas uma morte semelhante é lamentável, pois os fatos bíblicos deveriam relatar fielmente o ocorrido, não como o autor quer que tenha acontecido, o que nos coloca diante de uma mera suposição.
O segundo diz respeito ao destino dado às moedas. Mateus menciona que Judas as teria devolvido, atirado-as dentro do santuário, que recolhidas pelos sacerdotes foram, por deliberação, destinadas à compra do campo do oleiro, para servir de cemitério aos estrangeiros (27,3-10). Citando que isso aconteceu para se cumprir o que dissera o profeta Jeremias. Mas essa história parece-nos mal contada, pois em Atos se diz que o próprio Judas teria comprado um campo (At 1,18), que até poderia ser esse do oleiro, mas de qualquer forma está em conflito com a versão anterior.
Na maioria das Bíblias em que consultamos, dizem que as profecias relacionadas a Mt 27,9: “Cumpriu-se, então, o que foi ditopeloprofeta Jeremias: Tomaram as trinta moedas de prata,, preço do que foi avaliado, a quemcertosfilhos de Israel avaliaram e deram-nas pelocampo do oleiro, assimcomome ordenou o Senhor”, seriam: Zc 11,12-13 e Jr 32,5-16, ou Jr 18,1-4 e 19,1-3, havendo, portanto, sérias dúvidas quanto à identificação da profecia especifica relacionada ao episódio. Como já falamos sobre a citação de Zacarias, fica-nos, por conseguinte, apenas as de Jeremias para dizermos alguma coisa. Em notas explicativas sobre elas encontramos que: “A citação é uma combinação artificial de Jr 32,6-9 e Zc 11,12-12” (Bíblia do Peregrino, p. 2386), isso deixa-nos diante da realidade de que, por se admitir que seja “uma combinação artificial”, estamos, sem dúvida, diante de mais uma tentativa de se relacionar acontecimentos no Novo Testamento com ocorrências registradas no Antigo Testamento tidas como se fossem verdadeiras profecias.
Quem tiver a curiosidade de consultar a passagem citada de Zacarias não encontrará nela nenhum aspecto de profecia, são apenas fatos relacionados àquele momento vivido por esse profeta. E quanto a Jeremias, não se encontra absolutamente nada que ele tenha comprado alguma coisa por trinta moedas. Sobre a compra de um terreno, sim, como podemos ver em 32,1-44, mas uma situação circunstancial, explicada da seguinte forma:
“À primeira vista se trata de um incidente: a compra e venda de um terreno segundo as normas e o procedimento da legislação judaica. O narrador se compraz em registrar todos os detalhes, mostrando que a lei foi estritamente cumprida e que o ato é juridicamente válido. O surpreendente dessa compra-e-venda é que se realiza às vésperas da catástrofe inevitável. Que sentido tem nesse momento comprar um terreno para que fique em poder da família? Tudo já está perdido. Mas o absurdo do ato é a chave do seu sentido. Para efeitos legais imediatos, a compra nada servirá; para efeitos proféticos, é admirável ato de esperança no futuro. É um oráculo em ação, Jeremias profetiza ao vivo: não só palavras, nem ação simbólica, mas ato real jurídico. Esse ato significa o futuro que ele antecipa: a jarra de barro onde se guarda o contrato é um penhor que Deus concede. Apesar do que está para acontecer, a terra continua sendo propriedade dos judaítas: a terra prometida aos patriarcas e possuída durante séculos...” (Bíblia do Peregrino, p. 1928).
Podemos ainda confirmar isso com a seguinte explicação: “A citação [Mt 27,9] é tirada na realidade de Zacarias (11,12-13). Mas, ele lembra também diversos versículos de Jeremias onde se faz menção do campo e do oleiro (32,6-6; 18,2-12)”. (Bíblia Ave Maria, p. 1319). Ressaltamos que a expressão “ela lembra”, é uma afirmativa que depõe contra o próprio texto que, positivamente, diz ser de Jeremias essa profecia.
Conclusão
Percebemos que as narrativas possuem diversos fatos conflitantes entre si, deixando-nos na convicção que tudo não passa de um ajuste dos textos para se chegar a um objetivo pré-determinado, conforme já falávamos, desde o início. Para se ter uma idéia mais exata sobre isso, colocaremos a passagem Mateus 27,1-26, que, para tornar a explicação mais fácil de ser entendida, iremos dividi-la em três partes:
I) 1-2: De manhãcedo, todos os chefes dos sacerdotes e os anciãos do povo convocaram umconselhocontra Jesus, para o condenarem à morte. Eles o amarraram e o levaram, e o entregaram a Pilatos, o governador.
II) 3-10: EntãoJudas, o traidor, ao verque Jesus fora condenado, sentiu remorso, e foi devolver as trinta moedas de prata aos chefes dos sacerdotes e anciãos, dizendo: "Pequei, entregando à mortesangueinocente". Eles responderam: "E o que temos nóscomisso? O problema é seu". Judas jogou as moedas no santuário, saiu, e foi enforcar-se. Recolhendo as moedas, os chefes dos sacerdotes disseram: "É contra a Lei colocá-las no tesouro do Templo, porque é preço de sangue". Então discutiram emconselho, e as deram emtrocapeloCampo do Oleiro, parafazer o cemitério dos estrangeiros. É porissoqueessecampoatéhoje é chamado de "Campo de Sangue". Assim se cumpriu o quetinhadito o profeta Jeremias: "Eles pegaram as trinta moedas de prata - preçocomque os israelitas o avaliaram - e as deram emtrocapeloCampo do Oleiro, conforme o Senhorme ordenou".
III) 11-26: Jesus foi postodiante do governador, e este o interrogou: "Tu és o rei dos judeus?" Jesus declarou: "É vocêque está dizendo isso". E nada respondeu quando foi acusado peloschefes dos sacerdotes e anciãos. Então Pilatos perguntou: "Não estás ouvindo de quantacoisaeleste acusam?" Mas Jesus não respondeu uma palavra, e o governador ficou vivamente impressionado. Na festa da Páscoa, o governador costumava soltar o prisioneiroque a multidão quisesse...”
Para o que queremos colocar não é necessário citar toda a narrativa, assim omitimos o restante da seqüência dessa última (vv. 16-26), pois até aqui, no versículo 15, já encontramos o suficiente para entendermos e percebermos que os versículos de 3-10 nada têm a ver com o contexto geral daquilo relatado na passagem. Inclusive, no versículo 3 está dito que Judas viu que Jesus havia sido condenado, quando, no desenrolar do texto, esse fato ainda não havia acontecido, que só veio acontecer mais à frente. A quebra brusca na seqüência dessa narrativa, não deixou de ser percebida pelo tradutor da Bíblia do Peregrino, conforme nos explica:
“O episódio da morte de Judas interrompe estranhamente o curso do relato, como se a entrega de Jesus ao governador ultrapassasse suas previsões. Sabemos que a figura de Judas alimentou desde cedo fantasias legendárias. Lucas dá versão diferente (At 1,18-20). A morte violenta do perseguidor ou culpado é tema literário conhecido (p. ex. Absalão, 2Sm 18: Antíoco Epífanes, 2Mc9; em versão poética vários oráculos proféticos, p.ex. Is 14; Ez 28). Antes de morrer, Judas acrescenta seu testemunho sobre a inocência de Jesus. Confessa o pecado, mas desespera do perdão...” (pp. 2385-2386).
Isso vem confirmar todas as nossas suspeitas de que tudo foi um calculado arranjo visando ajustar os textos às conveniências dos interessados para que eles tivessem referências às suas idiossincrasias. E em relação ao assunto tratado, temos fortes suspeitas que vários outros trechos foram intercalados às narrativas bíblicas, para se amoldá-los ao propósito determinado. Podemos citar, como exemplo, Mt 26,14-16, 21-25, Mc 10,10-11; 14, 18-21, Lc 22,3-6, 21-23, para que você, caro leitor, faça uma análise mais aprofundada.
Ficamos a pensar como se sentiu e como ainda pode estar se sentido Judas sobre tudo quanto lhe imputaram como procedimento. O pobre coitado ainda é julgado e condenado, anos após anos, pelos ditos “cristãos”, que, com certeza, não cumprem: Não julgueis os outrosparanão serdes julgados, porquecom o julgamentocomque julgardes, sereis julgados e com a medidaque medirdes sereis medidos” (Mt 7,1-2). Não bastasse isso ainda é humilhado, malhado e, ao final, é espetacularmente “detonado”. Infelizmente esse nos parece ser o seu destino cruel, que se perpetua anualmente nas comemorações da Semana Santa realizadas por determinadas religiões cristãs tradicionais.
 
Bibliografia
Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2002.
Bíblia do Peregrino.São Paulo: Paulus, 2002.
Bíblia Sagrada - Edição Pastoral.São Paulo: Paulus, 2001.
Bíblia Sagrada. Aparecida, SP: Santuário,1984.
Bíblia Sagrada. Brasília, DF: SBB, 1969.
Bíblia Sagrada. São Paulo: Ave Maria, 1989.
  

 

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publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 14:31
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Terça-feira, 12 De Janeiro,2010

UMA REENCARNAÇÃO


Alguém me deu a idéia de relatar um fato comigo sucedido e, na verdade, interessante para registrar em revistas espíritas como subsídio importante para o estudo das reencarnações.

Aos meus 21 anos, 1898, me casei com uma menina que muito amava. Durante seis meses nosso lar foi tranqüilo. Apesar das atitudes muito estranhas da minha mulher, cujo semblante eu raramente via um sorriso, nunca tive motivos para estar descontente.


Certa vez, instalou-se uma tempestade que muito me amargurou. Não me exaltei, julguei que se tratava de um forte ataque de nervos. No dia seguinte, uma cena terminou com as palavras que se seguem. Elas me aniquilaram. “Chegou a hora de ser franca! Casei-me contigo pela insistência contínua de minha mãe! Nunca te amei e foi contrariada que te recebi por marido”, disse-me minha esposa.

É de calcular a dor que senti! Não proferi uma palavra. Recalquei o profundo desgosto que sofria e voltei ao trabalho exaustivo que desempenhava. Minha mulher encerrou-se num mutismo absoluto e somente trocávamos palavras durante as recepções de visitas ou de pessoas da família. E assim íamos vivendo.

Eu estava no escritório despachando com o guarda-livros, quando recebi, por telefone, a seguinte notícia: minha mulher foi vítima de um terrível desastre e está sendo operada.

Durante dois meses, minha esposa esteve entre a vida e a morte. Visitava-a duas vezes por semana no seu quarto particular e telefonava diariamente para saber de seu estado. Confesso que perdera toda a afeição por ela.

Certo dia, ao mesmo tempo em que as lágrimas lhe corriam pelo rosto amargurado de dor, agarrou-me o braço e disse:“Perdão! No meu espírito se fez uma luz de razão. Reconheço que tenho sido injusta e cruel. Tens sido para mim dedicado e carinhoso desde que regressei ao nosso lar. Perdoa-me! Confesso que chegou o momento te dizer com lealdade: amo-te! Tens sido um marido que eu não merecia! Não quero morrer, nem te perder. Estou muito arrependida. Permita que eu com humildade, beije-te os lábios, de onde nunca saiu uma palavra pra me castigar!” Evidentemente, não recusei o perdão que me era solicitado. A abracei e a perdoei com todo o coração.

Durante o mês que lhe restou de vida, ela teve a mais terna dedicação. E nas últimas disposições, expôs quanto tinha sido radical a revolução de seu espírito. Morreu serenamente dizendo: “Morro quando ia amar-te com toda a devoção de minha alma! Adeus!”

Passado algum tempo, estava em meu leito, quando ouvi: “Vai hoje visitar o jazigo!”. Olhei ao redor. Não vi pessoa alguma no meu quarto e por mais duas vezes escutei a mesma frase. Almocei, peguei a chave do jazigo e fui ao cemitério. Entrei. Vi o caixão onde jazia o cadáver daquela que fora tudo na minha vida. Senti uma sonolência incrível. Instantes depois, começou a surgir a forma vaporosa de uma figura que pouco-a-pouco ia se condensando, até que ficou perfeitamente nítida. Era a minha falecida esposa. No seu porte gentil e elegante, curvou-se sobre mim. Senti o mesmo carinho que ela me fizera, momentos antes de morrer. “Perdoa-me! Breve voltarei para junto de ti!” Por três vezes esta frase foi dita e fiquei muito comovido. Como eu era espírita não estranhei o acontecido.

Uma noite, a vi no meu quarto. Estava sorridente e repetia: “Breve voltarei para ficar a teu lado! Adeus! Não! Não! Até a vista! “Nunca mais voltou. Passaram-se dez anos. Minha mãe insistia para me casar e eu resistia. Numa outra ocasião, eu estava no Jardim da Estrela, em Lisboa, contemplando um grupo de crianças que brincavam a pouca distância. Uma linda garotinha, que há três domingos me sorria, caiu desastradamente. Corri para levantá-la e ficamos grandes amigos. Naquela noite, uma reunião espírita familiar, recebi a seguinte comunicação: “Alegra-te! Aquela que foi tua mulher já está reencarnada. Espera mais sete anos e se casarás com ela”.


Contei o caso à minha mãe, que se limitou a dizer: “Seria mais prudente não acreditares nessas coisas! Aconselho-te a mudares de Estado”.

Passaram-se sete ou oito anos. Estando em Beja, Portugal, tratando de assuntos da minha casa, me recolhi ao hotel e me deitei tranqüilamente o que. O que sonhei eu? Uma entrevista com a linda garotinha, que me dizia: “Adeus, amiguinho! (Adeus? Grifo meu) Há anos que eu não te vejo! Espero-te no jardim onde me conheceste. Tenho muito o que falar com você”.

Intrigado, fui ao local indicado. E confesso, sem esperança de ver a menina. Qual não foi o meu espanto quando, junto ao portão defrontei-me com uma bela jovem. Tinha por volta de 18 anos. Ela largou o braço da senhora em que se apoiava e correu direto pra mim, exclamando: “Mamãe, Mamãe. Olhe ele aqui!”.

Era a mesma garotinha de outrora. Com grande surpresa da minha parte, ela me abraçou e disse: “Há quanto tempo não nos vemos! Que imenso prazer! Como estou alegre em vê-lo!”

A mãe estava inquieta e disse-me com um sorriso: “Há oito anos a minha filha só fala no senhor!”, e suspirou. A menina riu e disse, com ingenuidade: “É verdade! Sonho muitas vezes com o senhor! Parece que já o conheço há muito tempo! Desde meus 15 anos, só penso em casar contigo!”e assim foi.

Quando fui me reunir com ela no aposento nupcial, a encontrei falando em sonho: “Finalmente meu desejo se realizou! Verás como irei te amar! Lembras do nosso encontro no cemitério? Ah! Como eu sofri quando fui vítima daquele terrível acidente! Sei que padeceu muito por minha causa, querido! Disse que voltava para junto de ti e voltei!

A acordei com muito cuidado e ela disse: Onde já te vi antes de nos encontrarmos no jardim?”


No dia seguinte lhe contei tudo. Não se mostrou admirada e começou a contar fatos de sua vida anterior. Principalmente, sobre sua estadia no hospital. Tudo com detalhes nítidos e absolutamente exatos.

A levei para ver o jazigo da família. E entre os 5 caixões que lá estavam, apontou qual era o que continha os restos da que fora animada pelo seu espírito no passado. Assim se fez a identificação sem eu ter lhe dado a menor pista. Para comprovar ainda mais, ela dita frases que me garantem ser a sua reencarnação anterior, a da minha falecida esposa. “Quando morri da última vez, pedi perdão do muito que te fiz sofrer!”. “Agonizei numa cama muito larga. Pedi para me colocarem o vestido de casamento e deixarem no dedo a aliança”.

Também era verdade.

Para ler mais:
Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, capítulo 4.
Matéria extraída da Revista Universo Espírita
 

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