REENCARNAÇÃO: SIGNIFICADO E ACEITAÇÃO
"Naitre, mourir, renaitre encore et progresser sans cesse, telle est la loi". Allan Kardec (1804-1869))
SIGNIFICADO E ACEITAÇÃO
Reencarnar significa, simplesmente, nascer de novo em um outro corpo em formação. Nas doutrinas do Oriente é mais usado o termo renascimento, em lugar do vocábulo reencarnação. Há outra palavra de raiz grega que significa reencarnação também: palingenesia: (palin = repetição. de novo: gignomai = gerar) ou seja novo nascimento.
Há outro termo que geralmente é confundido com a reencarnação. É a metempsicose. O significado desta palavra inclui o renascimento em outras espécies inferiores ou em outros reinos além do reino animal, como o mineral e o vegetal. Esta possibilidade é excluída, por não ter nenhum apoio em observação de caráter científico realizada até agora. A metempsicose, ao que parece, fazia parte de ensinamentos exotéricos transmitidos aos não iniciados. Seu escopo seria conter os impulsos criminosos das massas humanas incultas, empregando-se a "ameaça" de um renascimento doloroso na forma de um vegetal ou de um animal. sujeito a sofrimentos e humilhações. Equivale à condenação às penas eternas do inferno, prometida aos ímpios por algumas religiões do Ocidente.
A idéia da reencarnação é encontrada praticamente em quase todos os sistemas religiosos do mundo, mesmo entre as tribos selvagens mais afastadas umas das outras e em todos os continentes da Terra. Essa disseminação de uma crença tão uniforme é observada também entre os povos muito antigos. Este fato faz supor que a causa da crença na reencarnação deve ter-se originado de um mesmo acontecimento constatado localmente em diversas regiões e em épocas também diferentes. Ao que parece, a idéia do renascimento não resultou apenas da propagação de ensinamentos transmitidos de um para outro grupo humano. Ela deve ter-se originado da observação dos mesmos fatos surgidos em variadas épocas e locais. Isto não exclui a possibilidade de haver também sido ministrada como ensinamentos de uma religião ou de indivíduos iniciados em conhecimentos ocultistas avançados para aquelas épocas e, eventualmente, para a atualidade.
Quanto à antigüidade da crença na reencarnação, o Dr. Karl E . Müller diz o seguinte:
As tradições egipcias são provavelmente mais antigas.
Picone-Chiodo cita o livro de Fontane sobre o Egito, um texto pretensamente datado de 3.000 anos a. c.. Antes de nascer, a criança morreu e a morte não é o fim. A "ida é um evento que passa como o dia solar que nasce." (Müller. K.E., 1978, p,23),
Os "Ka-nomes" dos dois primeiros reis da XX Dinastia Egípcia têm significados claramente relacionados com a idéia da reencarnação: Amonemhat significa: Aquele que repete os nascimentos, Sensusert, significa: Aquele cujos nascimentos vive.
Na XIX Dinastia, o "Ka-nome" de Setekhy I significa: O repetidor de nascimentos, (Murray, 1984, p,174).
Todas as grandes religiões são reencarnacionistas. Por exemplo: o Hinduismo: o Jainismo: o Sikismo (fundado por Nanak, em Punjab. no Século XVI): o Budismo: o "Mazdeismo (uma facção, os Parsis, aceita individualmente a reencarnação!): o Maniqueismo (de onde derivam os Cátaros ou Albigeneses, do Século X ao Século XIV quando foram dizimados pela Inquisição): o Judaísmo [na Cabala, a reencarnação está claramente expressa no livro Zohar); o Cristianismo inicialmente reencarnacionista, (tendo abdicado a esta crença ao transformar-se em Catolicismo e Protestantismo): o Islamismo (Sura 2:28 e Sura 25:5-10-6): o Sufismo (é um ramo do Islamismo surgido um ano após a Hégira: o Sufismo ensina a reencarnação). (Lacerda, 1978),
Mencionamos essas breves informações, extraídas resumidamente da excelente obra de Nair de Lacerda, referida acima, apenas para dar uma idéia acerca das religiões às quais nos reportamos. Entretanto, reconhecemos que o simples fato da reencarnação ser objeto de crença das maiores e mais antigas religiões, com pouquíssimas exceções como o Catolicismo e o Protestantismo por exemplo, não constitui nenhuma evidência ponderável a favor da doutrina do renascimento.
Parece-nos também válido o argumento recíproco, isto é: o fato ele algumas poucas religiões não aceitarem a idéia da reencarnação também não tem valor algum como evidência contra a doutrina do renascimento, especialmente se a refutação basear-se apenas em dogmas e opiniões de autoridades, nesta questão, o que deve considerar-se válido é apenas a evidência dos fatos.
CATEGORIAS DAS EVIDÊNCIAS
Para maior facilidade de estudo e pesquisa, as evidências de apoio à idéia da reencarnação podem dividir-se em seis categorias principais a saber:
1) Recordações espontâneas de uma ou mais vidas anteriores, surgidas na infância.
Estas lembranças iniciam-se, mais comumente, no começo da fase elocutória, isto é, quando a criança passa a expressar-se verbalmente. Nesta ocasião o paciente costuma referir-se a fatos de uma vida anterior, fornecendo, em alguns casos, informações precisas sobre a personalidade prévia, o local onde viveu, o modo como morreu, o nome dos pais, etc, etc .. Esse período revelações dura em média seis a sete anos, a fase de maior intensidade costuma ocorrer entre os dois e quatro anos de idade. O declínio inicia-se aos cinco anos e as recordações podem desaparecer mais ou menos aos sete anos de idade.
Todavia, há variantes quanto à duração das recordações reencarnatórias. Há pessoas que conservam as lembranças íntegras ou parte delas, por toda a sua existência.É um dos casos de recordação em adultos, que faz parte do grupo seguinte.
Em alguns indivíduos, mesmo após haver-se extinguido a memória dos fatos da sua anterior encarnação, podem surgir, em algumas ocasiões, surtos de lembrança de alguns episódios que já haviam sido aparentemente apagados da memória. Quase sempre, estes lampejos mnemônicos ocorrem em virtude da associação de idéias ou da contemplação de ocorrências semelhantes às vividas anteriormente.
Parece que o esquecimento atinge apenas o nível da consciência do paciente, porque há outros tipos de lembranças que se manifestam sob a forma de comportamentos inconscientes. São as fobias, os maneirismos, as habilidades adquiridas na existência prévia, inclusive manifestações de xenoglossia, gostos alimentares e outros.
2) Recordações em adultos:
As recordações reencarnatórias em adultos podem ocorrer em diversas circunstâncias, conforme segue:
2.1) Recordações iniciadas na infância e que persistiram, em parte ou totalmente, durante a vida do paciente ( ver o item anterior).
2.2) Lembranças de episódios de vidas passadas reveladas sob forma de sonho. Pode ocorrer um sonho apenas, ou ter-se vários sonhos repetidos.
2.3) Visões em estado de vigília, reveladoras de cenas do passado.
2.4) Recordações espontâneas, sem motivo qualquer.
2.5) O "déjà vu", isto é, o reconhecimento de um lugar ou cena que nunca foram contemplados antes na presente existência.
2.6) Reconhecimento de uma pessoa com a qual nunca se teve relacionamento de espécie alguma nesta existência, nem direta nem indiretamente.
2.7) Recordação de eventos ocorridos em vida anterior, provocada por associação com fatos presenciados na vida atual.
2.8) Lembranças de episódios, vividos previamente, provocadas por doenças, estado febril, enfraquecimento excessivo, no momento de morrer, etc.
2.9) Memórias de vidas anteriores, despertada por ativação espontânea de faculdades paranormais.
3) Por informação:
3.1) Sonhos anunciadores: podem ser produzidos pela própria entidade que está reencarnando e que avisa aos parentes: podem ser de outra entidade que informa aos parentes quem está reencarnando.
3.2) Informações fornecidas por desencarnados, revelando quem foi a pessoa na vida anterior.
3.3) Informação fornecida por pessoas dotadas de faculdades paranormais especiais.
3.4) Informação do próprio indivíduo, antes de morrer, prometendo voltar como filho ou filha de determinada pessoa.
4) Por características inatas:
4.1) Genialidade.
4.2) Alguns sinais ou defeitos congênitos (marcas reencarnatórias de nascença).
4.3) Qualidades boas ou más, aptidões, etc. de nascença (sankhárâs).
5) Por investigação experimental, ou por outras causas eventuais.
5.1) Psicanálise muito profunda,
5.2) Casos de obsessão,
5.3) Hipnose ocasionando regressão de idade e daí a regressão a vidas passadas. Terapia de Vidas Passadas - TVP
5.4) Ação das drogas,
5.5) Experiências fora do corpo - EFC.
5.6) Choques traumáticos violentos.
5.7) Estados pré-agônicos,
6) Por experiências místicas:
6.1) Meditação.
6.2) Êxtase, "samadi","satori", etc.
Convém esclarecer que não é sempre que tais estados ou experiências se mostram capazes de revelar algo relativo a uma ou mais vidas pregressas. Porém, pode ocorrer que tais circunstâncias sejam propícias a tal revelação. Elas foram aqui alinhadas porque têm-se registrado casos em que algumas pessoas mediante semelhantes condições obtiveram informações acerca de suas vidas pregressas e que puderam ser comprovadas.
A rigor, deveríamos apresentar pelo menos um exemplo concreto de cada espécie das categorias atrás enumeradas, Todavia ultrapassaríamos os justos limites da paciência do caro internauta. Por isso, iremos mencionar apenas um caso, indicando depois as fontes bibliográficas onde o internauta mais interessado poderá encontrar úm número maior de relatos enquadráveis nessas categorias.
Vamos escolher um caso da primeira categoria, isto é, de crianças que se recordam de vidas passadas. Os casos desta espécie são muito numerosos. Apresentaremos um da coleção do maior investigador da reencarnação, o Dr. Ian Stevenson. Professor de Psiquiatria da Escola de Medicina da Universidade de Virgínia, nos EE.UU.
O CASO DE BISHEN CHAND KAPOOR
Bishen Chand, nasceu em 1921, na cidade de Bareilly, Uttar Pradesh, Índia. Seu pai era o Sr. B. Ram Ghulam Kapoor, um ferroviário, e sua mãe a Sra. Kunti Devi.
Desde a tenra idade de dez meses, logo que começou a pronunciar, ainda mal, algumas palavras, sua família ouvia-o dizer: pilivit ou pilibhit.
Pilibhit é o nome de uma grande cidade situada cerca de 50 Km a noroeste de Bareilly. Entretanto, a família de Bishen Chand não tinha nenhuma ligação com pessoas de Pilibhit e esse nome não representava nada de especial para seus parentes.
Mas à medida que o menino passou a expressar-se melhor, ele começou a revelar que tivera uma vida anterior em Pilibhit. Deu diversos detalhes bem precisos desta vida prévia, inclusive que seu nome era, então, Laxmi Narain, bem como se referia a um homem que considerava como seu "tio". chamado Har Narain. Disse mais que seu pai era um "zamindar" (latifundiário, coletor de impostos).
Quando Bishen Chand estava aproximadamente com quatro anos de idade, seu pai levou-o juntamente com seu irmão mais velho. Bipan Chand, a um passeio até Golda, uma outra cidade situada além de Pilibhit. Então ele pediu para descer do trem, dizendo que "ele morava ali". Seu pedido foi negado: por isso ele chorou durante todo o trajeto de volta até Bareilly.
Aproximadamente um ano e meio mais tarde B. Ram Ghulam o pai de Bishen Chand ocasionalmente relatou o caso de seu filho a um outro homem. Este por seu turno contou o fato ao advogado K. K. N. Sahay que, por coincidência, achava-se justamente naquela ocasião verão de 1926 investigando o caso de seu próprio filho, Jagdish Chandra.
K. K. Sahay interessou-se pelo caso de Bishen Chand também. Tendo ido visitar Bishen Chand para escrever sobre mais este episódio, ele persuadiu o pai do garoto a levá-lo para visitar Pilibhit e assim conferir as suas revelações acerca de uma vida anterior naquela cidade.
Em de agosto de 1926, Bishen Chand, seu irmão mais velho, o pai dos garotos e o Dr. Sahay foram a Pilibhit. Em Pilibhit, Bishen Chand reconheceu vários lugares e fez declarações adicionais a respeito de sua vida anterior. As declarações e reconhecimentos coincidiram precisamente com os fatos ocorridos em vida de um jovem chamado Laxmi Narain, que morrera em 1918, um pouco mais que dois anos antes do nascimento de Bishen Chand. Grande parte dos detalhes deste caso foram supridos pelo advogado K. K. N. Sahay e posteriormente verificados pelo Prof. Ian Stevenson pessoalmente.
Em sua análise do presente caso, Stevenson levantou 51 itens contento as declarações e reconhecimentos feitos pelo menino Bishen Chand, em sua quase totalidade plenamente confirmados, Entre os episódios marcantes mencionaremos, a título de exemplo, o encontro de Bishen Chand com a mãe de Laxmi Narain (a identificada personalidade anterior ):
Por ocasião do encontro entre a mãe de Laxmi e o garoto Bishen, apresentou-se um quadro de evidente afinidade entre ambos. Bishen Chand respondeu com impressionante precisão às perguntas formuadas pela genitora de Laxmi Narain, Por exemplo, detalhes como o nome correto do criado pessoal de Laxmi Narain, a descrição do seu tipo humano, inclusive a casta à qual o criado pertencia. Para finalizar, ele declarou que gostava mais da mãe de Laxmi Narain do que de sua própria genitora.
Outro fato notável foi o menino Bishen Chand ter indicado com precisão onde se encontrava um tesouro em moedas de ouro, que havia sido escondido pelo pai de Laxmi Narain antes de morrer. Ninguém da família conhecia o local onde o tesouro estava ocultado, a não ser o falecido Laxmi Narain. Com as informações de Bishen Chand foi possível encontrar o referido tesouro e assim recuperá-lo para a família, (Stevenson, I.. India Cases of the Reincarnation Type Volume I Ten Cases in Índia: Charlottesville: University Press of Virginia, 1975, pp,176-205).
A PESQUISA ATUAL DA REENCARNAÇÃO
Podem distinguir-se duas áreas distintas da pesquisa sobre a reencarnação:
1ª - Pesquisa direta das evidências: Neste tipo de investigação buscam levantar-se os casos de recordações reencarnatórias, sem visar outra finalidade a não ser o melhor conhecimento das leis que regem o fenômeno do novo nascimento. O método mais seguro e usado com bastante êxito consiste na pesquisa dos casos de lembranças de vidas anteriores manifestados em crianças, preferência não prejudica a investigação das categorias de evidência, desde que elas, à semelhança casos de memória reencarnatória em crianças, propiciem seguras comprovações dos episódios, lugares e pessoas envolvidas no histórico das lembranças reveladas paciente.
2ª - Investigação indireta das evidências, com vistas a outros objetivos:
Neste processo de obtenção dos detalhes de uma ou vidas passadas visa uma outra finalidade. A mais seria sua aplicação terapêutica no tratamento psicopatologias refratárias aos métodos convencionais.
De maneira geral, distinguem-se dois processos fundamentais para alcançar as informações acerca dos eventos ocorridos em vidas pregressas. Supõe-se naturalmente que tais acontecimentos, geralmente traumáticos, estariam ocasionando os sintomas psicossomáticos da atual existência. Então tenta-se descobri-los. Os dois métodos usados são:
a) A hipnose regressiva. ou "regressão cronológica" este processo faz-se a hipnose prévia do paciente seguida tenta-se levá-lo a regredir na idade, cronologicamente, até passar a uma vida anterior. Durante a regressão o terapeuta sonda cuidadosamente os fatos de cada idade, a fim ele descobrir quais os acontecimentos que poderiam ter implicações com os sintomas psicopatológicos do paciente. Isto é importante porque, às vezes, os distúrbios psíquicos podem ter-se originado na vida atual da pessoa. Mas a investigação de possíveis traumas em vidas anteriores pode resultar em êxito no tratamento das perturbações. Vejamos o segundo método.
b) A "regressão cronotápica", seguindo a pista dos sintomas:
Este processo é recomendado pela dupla, Dr. Morris Netherton e Dra. Nancy Shiffrin, que esteve em 1981, 1982 e 1986 em São Paulo, a convite do casal Eng. Prieto Peres e Dra. Maria Júlia P.M. Prieto Peres, introdutores da Terapia de Vidas Passadas - TVP - em nosso país e em outros da América Latina. Nota: A sigla TVP foi adaptada posteriormente para TRVP: - TRVPeres -pela Dra. Maria Júlia P.M. Prieto Peres fundadora do atual Instituto Nacional de Pesquisa e Terapia Regressiva Vivencial Peres).
Os freqüentes êxitos obtidos nesses tipos de terapia regressiva são outras tantas evidências de apoio à idéia da reencarnação. (Netherton & Shiffrin, 1978).
As terapias regressivas têm produzido um grande contingente de psicoterapeutas sinceramente convencidos da realidade da reencarnação. Entre os mais conhecidos colocamos a Dra. Edith Fiore: que afirma: "A vida que vivemos agora não é nossa primeira vida: todos já passamos pelo mundo." (Fiore, 1978). Outra notável psicóloga. Dra. Helen Wambach, colecionou mais de mil casos de recordações de vidas passadas. Tais fatos foram obtidos ao longo de muitos anos de clínica em que ela empregou largamente o método da regressão. Além de obter grande percentual de curas, ela pôde fazer interessantes estudos históricos, baseados nas informações de seus pacientes e em rigorosa análise estatística, [Wambach, 1981),
Outro autor desse gênero é o Dr. Arthur Guirdham que ocasionalmente em sua clínica psiquiátrica, descobriu que uma sua paciente tivera uma encarnação entre os Cátaros no Século XIII. Há em português duas obras desse médico, Os cátaros e a reencarnação, 1992, e Entre Dois Mundos, 1981, ambas editadas em São Paulo pela Ed. Pensamento.
Cma vez comprovada a realidade da reencarnação, o corolário desse fato será necessariamente a certeza da sobrevivência da individualidade após a morte do corpo físico. O número imenso de casos de reencarnação já registrados e investigados está mostrando claramente que os seres vivos inclusive o homem possuem, além do corpo físico, uma contraparte não física, mas real, imperecível e portadora de consciência, à qual têm sido dados nomes diversos ao longo da história. Verifica-se, a cada dia que passa, que a aceitação dessa realidade não está mais na dependência de fatos que a comprovem e sim tão-somente da disposição em aceitá-la.
Hernani G. Andrade