JESUS MORREU PARA NOS SALVAR?

 

 

Esta é uma pergunta que sempre que for feita deverá levar todo ser humano a uma reflexão - não sobre a morte Dele propriamente dita, mas sobre a finalidade da sua vinda ao Planeta Terra. Isso porque, os “donos” da religião da época em que Ele encarnou deturparam a verdadeira finalidade da sua missão ao plano físico na Terra, que foi trazer os seus ensinamentos, pois basta termos um pouquinho de raciocínio lógico para atentarmos que ninguém, mas ninguém mesmo, encarnou aqui na Terra que não tenha morrido. E que não nos venham com essa de que Henoc e o profeta Elias, não morreram porque foram arrebatados vivos para o céu! Por que dizemos isso? Pelo simples fato de que Jesus, que foi maior que todos os profetas, mesmo tendo sido objeto de arrebatamento (Mt 4:1, Mc 1:12 e Lc 4:1), também morreu. Tanto morreu, que os novos “donos” da então nova doutrina pregada por Jesus, em função da maneira em que se deu a sua morte, associaram-na aos sacrifícios do Velho Testamento, em que animais eram imolados como forma de “abrandar” a ira do Deus dos hebreus, visando o perdão dos pecados cometidos.

 

E por falar em hebreus e pecados, sugerimos ao leitor passar uma vista d’olhos no capítulo 9 da epístola aos hebreus, com atenção aos versículos de 10 a 15, dizendo este último: “15. Por isso ele é mediador do novo testamento. Pela sua morte expiou os pecados cometidos no decorrer do primeiro testamento, para que os eleitos recebam a herança eterna que lhes foi prometida.” (Boa Nova - Bíblia Católica - os grifos não são do original) Nesse caso, fatalmente verá que os lideres religiosos da época optaram pelo entendimento de que a finalidade da vinda de Jesus à Terra foi morrer para remir os pecados cometidos no decorrer do primeiro testamento, no dizer do citado versículo 15, ao invés de vir ensinar as verdades sobre a forma de como o ser humano deve nortear a sua maneira de proceder, visando sua evolução espiritual, que os ditos líderes religiosos denominam de salvação da alma. Em função desse versículo 15 podemos, sem medo de errar, deduzir que:

 

- os pecados cometidos durante a vigência do velho testamento, isto é, até a morte de João, o batista (Lucas 16:16), foram remidos com a morte de Jesus, inclusive aqueles cometidos pelas pessoas que nasceram antes e morreram após a morte de João.

 

É nesse ponto que as coisas começam a se complicar, em termos de aplicação da justiça divina, pois, para os que nasceram e morreram durante a vigência do primeiro testamento (até a morte de João), todos eles tiveram os seus pecados perdoados e, portanto, foram para o reino dos céus, enquanto aqueles que nasceram antes e viveram até após a morte de João, só tiveram parte dos seus pecados perdoados, não podendo ir para o reino dos céus, se cometeram pecados após a morte de João, ainda que tenham sido cometidos antes do sacrifício (morte) de Jesus, já que “a lei e os profetas vigoraram até João”. Isso porque, como se vê, o perdão foi dado em relação aos pecados cometidos em um período determinado.

 

E nós, que nascemos depois?

Assim, podemos deduzir que, inclusive, em função do referido versículo 15, o “pecado original” (e põe original nisso) também foi perdoado, já que, para nós, admitida a sua existência, ele foi cometido na vigência do Antigo Testamento. Entretanto, se os “hermeneutas” surgirem com o argumento de que a lei só foi estabelecida no Sinai, com as duas tábuas, e que, portanto, o pecado original está fora dessa revogação, até poderíamos concordar com tal proposição.

 

No entanto, se a lei só tiver sido estabelecida com o advento dos DEZ MANDAMENTOS, a dedução lógica é a de que antes deles não havia lei; logo, como não havia lei, não havia possibilidade de existir a desobediência, pois não pode existir desobediência quando não há norma proibindo determinado tipo de atitude. Ou pode? Os hermeneutas que o digam...

 

Além do mais, se a finalidade do “sacrifício” de Jesus foi o perdão dos pecados anteriormente cometidos, isto é, durante a vigência do Antigo Testamento, temos que supor que a finalidade do “sacrifício” de Jesus foi “passar a borracha” no passado da raça humana, ou seja, apagar toda e qualquer falta cometida durante a vigência da lei a que se refere o perdão; claro, não?! Mais ainda: se o sacrifício de Jesus não foi para o esquecimento dos pecados cometidos durante o primeiro testamento, então por que em Hebreus consta essa informação?!

Logo, com isso, ficamos diante da situação de que, se ainda quisermos acreditar que alguém (no caso, Jesus) morreu para nos salvar, teremos que providenciar outro “Cristo” para pagar pelos pecados cometidos pela humanidade no período pós-morte de João até a vinda de um novo salvador.

 

Tomemos, ainda, o seguinte exemplo: Um líder religioso toma a decisão de ir pregar uma nova doutrina, em um país onde o poder religioso se confunde com o poder político, como acontecia com o povo hebreu, na época de Jesus. Suponha o leitor que as lideranças religiosas se sintam ameaçadas em seu poder religioso e pela sua proximidade e influência em relação ao poder político, forcem as autoridades políticas a tomar uma providência contra esse pregador, dizendo que ele é uma ameaça à ordem pública, e que a punição aplicável ao fato, como no caso de Jesus, é a pena de morte. Suponha, ainda, que esse pregador seja condenado e executado e os seus seguidores, em decorrência disso, se revoltem e fundem uma nova religião, baseados nos ensinamentos desse pregador. Nesse caso, perguntamos: esse pregador morreu para salvar do jugo dos líderes religiosos aqueles que aceitaram a sua pregação, ou morreu em decorrência de sua condenação pelo poder religioso que usou o poder político para puni-lo? Claro que, tendo conhecimento dos riscos de morrer, que corria com sua atitude, ele assumiu esse risco. Já no caso de Jesus, não há que se alegar que Ele tinha conhecimento do risco, pois o que Ele tinha era a certeza da sua morte, posto que, tendo Ele participado da formação da Terra, Ele sabia que teria que morrer, como todos nós também temos essa certeza, apesar de ainda não termos atingido a evolução crística. Logo, não há que se falar em morte redentora, mas, apenas, que Ele morreu porque tinha que morrer, de uma forma ou de outra, pois, desculpem-me pela irreverência, como diz a sabedoria popular, ninguém fica para semente, ou seja, a única certeza que se tem quando se nasce é que se vai morrer. E não se diga que está implícito na Bíblia que Ele nos remiu pela sua morte, ou seja, que todos nós estamos salvos! Porque dizemos isso? Pelo simples fato de que em Hebreus 9:15 está explícito que a morte de Jesus expiou os pecados cometidos durante a primeira aliança, isto é, durante o Velho Testamento. Para confirmar o que dizemos, transcrevemos traduções diferentes do referido versículo 15, constantes em três edições da Sociedade Bíblica do Brasil, conforme segue:

 

“Edição Revista e Corrigida:

15 - E, por isso, é Mediador de um novo testamento, para que, intervindo a morte para remissão das transgressões que havia debaixo do primeiro testamento, os chamados recebam a promessa da herança eterna.

Edição Revista e Atualizada:

15 - Por isso mesmo, ele é o Mediador da nova aliança, a fim de que, intervindo a morte para remissão das transgressões que havia sob a primeira aliança, recebam a promessa da eterna herança aqueles que têm sido chamados.

Nova Tradução na Linguagem de Hoje:

15 - Portanto, é Cristo quem consegue fazer uma nova aliança, para que os que foram chamados por Deus possam receber as bênçãos eternas que o próprio Deus prometeu. Isso pode ser feito porque houve uma morte que livrou as pessoas dos pecados que praticaram enquanto a primeira aliança estava em vigor.”

Como o leitor poderá notar, embora os textos sejam diferentes no aspecto gráfico, semanticamente são iguais, já que em todos eles, embora não concordemos com a afirmação neles contida, está dito que a morte de Jesus foi para remissão dos pecados anteriormente cometidos. Mesmo porque o perdão só pode ser em relação a fato passado, pois, caso contrário, deixa de ser perdão e passa a ser homologação da impunidade, já que, de antemão, o pecador saberá que não haverá punição pela falta por ele cometida.

Daí, fazemos a seguinte colocação: se, como querem alguns, já estamos todos salvos, por que os que se dizem “enviados de Deus” continuam fazendo a pregação contra o pecado? Não é uma incongruência? E mais: como fica o a cada um segundo as suas obras? (Mt 16:27, Rm 2:6 e 1Pd 1:17) Inclusive em relação a eles próprios? Embora seja uma questão de foro íntimo, não resistimos ao impulso de deixar no ar: será que a prepotência e a hipocrisia deles os impedem de ouvir o que pregam e de ver o que fazem?

 

JOÃO FRAZÃO DE MEDEIROS LIMA

 

publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 00:42
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