Quarta-feira, 19 De Maio,2010

PARA QUEM QUISER APRENDER QUE JESUS NÃO É DEUS.

UM COM O PAI

(Fim de dezembro do ano 30)

João, 10:22-39

22. E aconteceu a festa da dedicação em Jerusalém; era inverno.

23. E Jesus passeava no templo, no pórtico de Salomão.

24. Cercaram-no os judeus e diziam-lhe: "Até quando suspendes nossa alma? Se és o Cristo, fala-nos abertamente".

25. Respondeu-lhes Jesus: "Eu vo-lo disse e não credes; as ações que eu faço em nome de meu Pai testificam a meu respeito.

26. Mas não credes, porque não sois de minhas ovelhas.

27. As minhas ovelhas ouvem minha voz, e eu as conheço e elas me seguem.

28. e eu lhes dou a vida imanente, e nunca jamais se perderão, e ninguém as arrebatará de minha mão:

29. o Pai, que as deu a mim, é maior que tudo, e ninguém pode arrebotar da mão do Pai:

30. eu e o Pai somos um".

31. Os judeus outra vez buscaram pedras para apedrejá-lo.

32. Retrucou-lhes Jesus: "Mostrei-vos muitas belas ações da parte do Pai; por causa de qual ação me apedrejais"?

33. Responderam-lhe os judeus: "Não te apedrejaremos por uma bela ação, mas por blasfêmia, porque, sendo tu homem, te fazes um deus".

34. Retrucou-lhes Jesus: "Não está escrito na lei: "Eu disse, vós sois deuses"?

35. Se ele chamou deuses aqueles nos quais se manifestou o ensino de Deus - e a Escritura não pode ser ab-rogada

36. a quem o Pai consagrou e enviou ao mundo, dizeis "blasfemas", porque eu disse: "sou filho de Deus"?

37. Se não faço as ações de meu Pai, não me creiais,

38. mas se faço, embora não me creiais, crede nas ações, para que conheçais e tenhais a gnose de que o Pai está em mim e eu estou no Pai".

39. E de novo procuravam prendê-lo, mas ele saiu das mãos deles.

Este é mais um dos trechos de importância capital; nas declarações do Mestre. Analisemo-lo cuidadosamente.

O evangelista anota com simplicidade, mas com precisão, a ocasião em que foram prestadas essas declarações de Jesus: a festa da "dedicação" (hebraico: hanukâh, grego: egkainía) era uma festa litúrgica, instituída por Judas Macabeu, em 164 A.C., em comemoração à purificação do templo, da profanação de Antíoco IV Epifânio (cfr. 1.º Mac. 1:20-24, 39 e 4:59; 2.º Mac. 10:1-8; Fl. josefo, Ant. Jud. 12, 5, 4). Começava no dia 25 de kislev (2.ª metade de dezembro, solstício do inverno) e durava oito dias. Em solenidade, equivalia às festas da Páscoa, de Pentecostes e dos Tabernáculos.

Por ser inverno, Jesus passeava (com Seus discípulos?) no pórtico de Salomão, que ficava do lado do oriente, protegido dos ventos frios do deserto de Judá. Um grupo de judeus aproxima-se, cerca-O, e pede que se pronuncie abertamente: era o Messias, ou não?

Ora, essa resposta não podia ser dada: declarar-se "messias" seria confessar oposição frontal ao domínio romano, segundo a crença geral (o messias deveria libertar o povo israelita); essa declaração traria duas consequências, ambas indesejáveis: atrair a si a malta de políticos ambiciosos e descontentes, ávidos de luta; e, ao mesmo tempo, o ódio dos "acomodados" que usufruíam o favor dos dominadores, e que logo O denunciariam a Pilatos como agitador das massas (e dessa acusação não escapou), para que fosse condenado à morte, como os anteriores pretensos messias. Mas, de outro lado, se negasse a si mesmo o título, não só estaria mentindo, como decepcionaria o povo humilde, que Nele confiava.

Com Sua sábia prudência, no entanto, saiu-se galhardamente da dificuldade, citando fatos concretos, dos quais se poderia facilmente deduzir a resposta; e chegou, por fim, a declarar Sua unificação com a Pai. Portanto, Sua resposta foi muito além da pergunta formulada, para os que tivessem capacidade de entender.

Baseia-se, para responder, em Suas anteriores afirmativas e nas ações (érga) que sempre fez "em nome do Pai". Tanto uma coisa como outra foram suficientes para fazê-Lo compreendido por "Suas ovelhas", que “O seguem fielmente". E a todas elas é dada a Vida Imanente, de forma que elas "não se perderão" (apóllysai, "perder-se", em oposição a sôizô, "salvar-se”, e não "morrer", sentido absurdo).

A. razão da segurança é que elas estão "em Sua mão" e, portanto, “na mão do Pai, que é maior que tudo".

Mais uma vez salientamos que zôê aiônios não pode traduzir-se por “vida eterna" (cfr. vol. 2), já que a vida é ETERNA para todos, inclusive na interpretação daqueles que acreditam erroneamente num inferno eterno... Logo, seria uma promessa vã e irrisória. Já a Vida imanente, com o Espírito desperto e consciente, unido a Deus dentro de si, constitui o maior privilégio, a aspiração máxima. que nossa ambicionar um homem na Terra.

O versículo 29 apresenta três variantes principais, das quais adotamos a primeira, pelo melhor e mais numeroso testemunho:

1 - “O Pai, que as deu a mim, é maior que tudo" (hós, masc. e meizôn, masc.) - papiro 66 (ano 200, que traz édôken, aoristo, em vez de dédôken, perfeito, como os códices M e U); K, delta e pi, os minúsculos

1, 118, 131, 209, 28, 33, 565; 700; 892; 1.009 ; 1.010; 1.071 1.071; 1.079; 1.195, 1.230, 1.230, 1.241, 1.242, 1.365, 1.546, 1.646, 2.148; os unciais bizantinos (maioria), as versões siríacas sinaítica, peschita e harclense, os Pais Adamâncio, Basílio, Diodoro (4.º séc.), Crisóstomo, Nono e Cirilo de Alexandria (5.º séc.); e aparece com o acréscimo do objeto direto neutro autá na família 13, em 1216, 1344 (que tem o mac. oús), e 2174, nas versões coptas boaírica (no manuscrito), saídica, achmimiana, nas armênias e georgianas.

2 - "O que o Pai me deu é maior que tudo" (, neutro e meízon, neutro) no códice vaticano (com correção antiga para hós), nas versões latinas ítala e vulgata, na boaírica e gótica, nos Pais Ambrósio e Jerônimo (5.º século).

3 - "O Pai é quem deu a mim o maior que tudo" (hós, masc, e meízon, neutro), nos códices A, X, theta e na versão siríaca palestiniana.

A quarta variante (, neutro e meizôn, masc) parece confirmar a primeira, já que não faz sentido em si; talvez distração do copista, esquecendo o "s". Aparece nos códices sinaítico, D, L, W e psi.

A segunda variante, aceita pela Vulgata, é bastante encontradiça nas traduções correntes: "O que o Pai me deu é maior (mais precioso) que tudo". Realmente, esse pensamento do cuidado de Jesus pelo que o Pai Lhe deu, é expresso em João 6:37-39 e 17:24; mas a ideia, que reconhecemos como do texto original, além de caber muito melhor no raciocínio do contexto (estão as ovelhas "na mão do Pai" e nada poderá arrebatá-las, porque Ele é maior que tudo), também é confirmado por João 14:28.

A seguir explica por que, estando "em Sua mão", automaticamente, estão na mão do Pai: "Eu e o Pai somos UM".

A expressão "estar nas mãos de alguém" é usual no Antigo Testamento. Sendo a mão um dos principais instrumentos físicos da ação, no homem, a mão exprime o "poder de agir" (Ez. 38:35), a "potência" (Josué, 8:20; Juízes, 6:13; 1.º Crôn. 18:3; Salmo 75:6; Isaías 28:2; Jer. 12:7; 1.º Sam. 4:3; 2.º Sam. 14:16, etc.). Assim, estar na mão de alguém" exprime "estar com alguém" (Gên. 32:14; 35:4; Núm, 31:49; Deut. 33:3; Jer. 38:10, etc.) ou “estar sob sua proteção ou seu poder" (Gên. 9:2; 14:20; 32:17; 43:37; Ex. 4:21; 2.º Sam, 18:2; 1.º Reis 14:27; 2.º Reis 10:24; 2.º Crôn. 25;20; Job 8:4; Sab. 3:1). Simbolicamente fala-se na "mão de Deus", que é “poderosa" (Deut 9:26; 26:8; Josué 4:25; l.ª Pe. 5:6) e garante sua ajuda (Luc. 1:66); ou, quando está sobre alguém o protege (2.º Crôn, 30:12; 1.º Esd, 7:6, 9, 28; 8:18, 22, 31; 2.º Esd. 2:8, 18; Is. 1:25; Zac. 13:7. etc,).

A frase “Eu e o Pai somos UM" foi bem compreendida em seu sentido teológico pelos ouvintes, que tentam apedrejá-Lo novamente (cfr. João, 8:59) e "buscavam" (ebástasan) pedras fora do templo, já que não nas havia no pórtico de Salomão.

Mas diferentemente da outra ocasião, Jesus não "se esconde". Ao contrário, enfrenta-os com argumentação lógica, para tentar chamá-los à razão. Eis os argumentos:

1.º - Ele lhes mostrou "muitas belas ações" (pollá érga kalá) vindas do Pai. As traduções correntes transformaram o "belas" em "boas". Por qual delas querem apedrejá-Lo?

A resposta esclarece que não é disso que se trata: é porque “sendo Ele um homem, se faz (poieís seautón) um deus", o que constitui blasfêmia.

2.º - Baseado na "lei", texto preferível (por encontrar-se no papiro 45, em aleph, D e theta) a "na vossa lei" ( A, B, L e versões Latinas e Vulgata). O termo genérico "lei" (toráh) englobava as três partes de que eram compostas as Escrituras (toráh, neviim e ketubim). A frase é citada textualmente de um salmo, mas também se encontra no Êxodo uma atribuição dela.

Diz o Salmo (82:6): ani omareti elohim atem, vabeni hheleion kulekem (em grego: egô eípa: theoí éste, kaì hyioì hypsístou pántes), ou seja: "eu disse: vós sois deuses, e filhos, todos, do Altíssimo". Jesus estende a todos os homens o epíteto de elohim (deuses) que, no Salmo (composto por Asaph, no tempo de Josafá, cerca de 890 A.C.) era dirigido aos juízes, que recebiam esse título porque faziam justiça em nome de Deus. Nos trechos do Êxodo (21:6 e 22:8 e 28), a lei manda que o culpado "se apresente ao elohim", isto é, ao juiz.

Tudo isso sabia Jesus, e deviam conhecê-lo os ouvintes, tanto que é esclarecida e justificada a comparação: lá foram chamados deuses "aqueles nos quais o ensino de Deus se manifestava" (os juízes) - e a Escritura (graphê) "não pode ser ab-rogada" (ou dynastai lysthênai). É o sentido de lyô dado por Heródoto (3, 82) e por Demóstenes (31, 12) quando empregam esse verbo com referência à lei.

3.º - Ora, se eles, simples juízes, eram chamados deuses na lei, por que seria Ele acusado de blasfêmia só por dizer-se "filho de Deus" se Ele fora “separado" (hêgíasen, verbo derivado de hágios que, literalmente tem esse significado) ou "consagrado" pelo Pai, e "enviado" ao mundo? E tanto só se dizia "filho", que se referia a Deus dando-Lhe o nome de Pai.

4.º - As ações. Pode dividir-se em dois casos:

a) se não as fizesse, não era digno de crédito:

b) fazendo-as, devia ser acreditado.

Todavia, mesmo que, por absurdo, não acreditassem em Sua palavra, pelo menos as ações praticadas deviam servir para alertá-los, não só a "conhecer" (gnôte) mas até mesmo' a ter a gnose plena (ginôskête, papiro 45, e não pisteuête, "creiais") de que, para fazê-las, era indispensável "que o Pai estivesse Nele e Ele no Pai".

De nada adiantaram os argumentos. Eles preferiam as trevas à luz (João, 3:19-21), pertenciam ao Anti-Sistema (João, 8:23), porque eram filhos do Adversário" (João, 8:47), logo, não tinham condições espirituais de perceber as palavras nem de analisar as ações "do Alto". Daí quererem passar à violência física, prendendo-O (cfr. João, 7:1, 30, 32 e 44, e 8:20). Mas, uma vez mais, Ele escapa de suas mãos e sai de Jerusalém (como em João 4:3 e 7:1).

Lição prenhe de ensinamentos.

Jesus passeava no pórtico de Salomão (que significa "pacífico" ou "perfeito") na festa da "dedicação" do templo (corpo) a Deus. Eis a primeira interpretação.

Jesus, o Grande Iniciado, Hierofante da "Assembléia do Caminho", é abordado pelos "religiosos ortodoxos" (judeus), que desejam aberta declaração Sua a respeito de Sua missão. Mas o "homem" Jesus, que já vive permanentemente unificado com o Cristo Interno, responde às perguntas na qualidade de intérprete desse mesmo Cristo.

Cita as ações que são inspiradas e realizadas pelas forças do Alto (cfr. João, 8:23), suficientes para testificar quem é Ele; mas infelizmente os ouvintes "não são do seu rebanho", e por isso não Lhe ouvem nem reconhecem a voz (cfr. João 10:14,16 ). A estas suas ovelhas é dada a vida imanente e elas não se perderão (cfr. João 8:51), porque ninguém terá força de arrebatá-las de Seu poder, que é o próprio poder do Pai, já que Ele e o Pai são UM.

O testemunho não é aceito. Antes, é julgado "blasfêmia", pois Ele, simples homem, "se faz um deus".

Jesus (o Cristo) retruca que, se todo homem é um deus, segundo o que está na própria Escritura, Ele não está usurpando direitos falsos, quando se diz "filho de Deus", em Quem reconhece "o PAI". Contudo, se não quisessem acreditar Nele, não importava: pelo menos reconhecessem as ações divinas realizadas pelo Pai através Dele, e compreendessem que o Pai está Nele e Ele no Pai, já que, sem essa união, nada teria sido possível fazer.

Inútil tudo: o fanatismo constitui os antolhos do espírito.

Transportemos o ensino para o âmbito da criatura encarnada, e observemos o ceticismo do intelecto, ainda mesmo quando já iluminado pelas religiões ortodoxas ("judeus"), mas ainda moldado pelos dogmas estreitos de peco fanatismo.

A Individualidade (Jesus) é solicitada a manifestar-se ao intelecto, à compreensão racional e lógica do homem. Como resposta, cita as ações espirituais que ele mesmo vem sentindo em sua vida religiosa: o conforto das preces, a consolação nos sofrimentos, a coragem nas lutas contra os defeitos, a energia que o não deixa desanimar, a doçura das contemplações. Mas, sendo o intelecto um produto do Anti-Sistema, não consegue "ouvir-lhe a voz" (akoúein tòn lógon, vol. 4) nem segui-lo, porque não o conhece. Mas se resolver entregar-se totalmente, anulando seu eu pequeno, ninguém poderá derrotá-lo, porque "o Pai é maior que tudo" e Ele se unificará ao Pai quando se unificar à Individualidade, que já é UNA com o Pai.

O intelecto recusa: julga ser "blasfema" essa declaração, já que o dogma dualista de sua religião lhe ensinou que o homem está "fora de Deus" e, por sua própria natureza, em oposição a Ele: logo, jamais poderá ele ser divino. Politeísmo! Panteísmo! Blasfêmia! ...

O argumento de que todo homem é divino, e que isto consta das próprias Escrituras que servem de base à sua fé, também não abala o intelecto cético, que raciocina teologicamente sobre "unidade de essência e de natureza", sobre "uniões hipostáticas", sobre "ordens naturais e sobrenaturais", sobre "filho por natureza stricto sensu e filhos por adoção", sobre o "pecado de Adão, que passou a todos", etc. etc. E continua sua descrença a respeito da sublimidade do Encontro, só conhecido e experimentado pelos místicos não-teólogos. E, como resultante dessa negação, a recusa do Cristo Interno que, por ver inúteis seus amorosos esforços, "se afasta e sai de Jerusalém".

No campo iniciático, observamos o ensino profundo, em mais um capítulo, manifestado de maneira velada sob as aparências de uma discussão. Eis alguns dos ensinos:

Para distinção entre o verdadeiro Eu Profundo e os enganos tão fáceis nesse âmbito, há um modo simples de reconhecimento: as belas ações que vêm do Pai.

Entretanto, uma vez que foi feita a íntegra doação e a entrega confiante, ingressando-se no "rebanho do Cristo", nenhum perigo mais correremos de perder-nos: estamos na mão do Cristo e na mão do Pai. Não há forças, nem do físico nem do astral que nos possam arrebatar de lá. Nada atingirá nosso Eu verdadeiro. As dores e tentações poderão atuar na personagem, mas não atingem a Individualidade.

Já existe a união: nós e o Pai somos UM, indistintamente.

Não há objeções que valham. A própria Escritura confirma que todo homem é um deus, embora temporariamente decaído na matéria. Não obstante, o Pai continua DENTRO DO homem, e o homem DENTRO DO Pai.

Aqui vemos mais uma confirmação da onipresença concomitante de Deus, através de seu aspecto terceiro, de Cristo Cósmico.

O CRISTO CÓSMICO é a força inteligente NA QUAL reside tudo: átomos, corpos, planetas, sistemas estelares, universos sem conta nem limite que nessa mesma Força inteligente, nessa LUZ incriada, nesse SOM inaudível, têm a base de sua existência, e dela recolhem para si mesmos a Vida, captando aquilo que podem, de acordo com a própria capacidade receptiva. Oceano de Luz, de Som, de Força, de Inteligência, de Bondade, QUE É, onde tudo flutua e de onde tudo EXISTE.

Mas esse mesmo Oceano penetra tudo, permeia tudo, tudo impregna com Sua vida, com Sua força, com Sua inteligência, com Seu amor.

Nesse Infinito está tudo, e esse Infinito está em tudo: nós estamos no Pai, e o Pai está em nós.

E é Pai (no oriente denominado Pai-Mãe) porque dá origem a tudo, Dele tudo parte e Nele tudo tem a meta última da existência. Partindo desse TODO, vem o movimento, a vibração, a vida, o psiquismo, o espírito, nomes diferentes da mesma força atuante, denominações diversas que exprimem a mesma coisa, e que Só se diferencia pelo grau que conseguiu atingir na evolução de suas manifestações corpóreas nos planos mais densos: é movimento vorticoso no átomo, é vibração no éter, é vida nos vegetais, é psiquismo nos animais, é espírito nos homens. E chegará, um dia, a ser chamado o próprio Cristo, quando atingirmos o ponto culminante da evolução dentro do reino animal: "até que todos cheguemos à unificada fidelidade, à gnose do Filho de Deus, ao estado de Homem Perfeito, à dimensão da plena evolução de Cristo" (Ef. 4:13).

tags:
publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 00:01
link do post | comentar
Terça-feira, 18 De Maio,2010

ATIRE A PRIMEIRA PEDRA

A tendência do homem é acusar e condenar os outros ao invés de olhar para seus próprios defeitos. É colocar-se numa atitude de superioridade e do alto de seu orgulho, apontar pecados alheios e pedir para eles a sentença da condenação. Ouve-se por aí: os outros estão errados, nós é que estamos certos.

Quem somos nós para julgar os outros? Para apedrejá-los com nossas acusações descaridosas? Deixemos a Deus o julgamento e aprendamos do próprio exemplo de Jesus a condenar o pecado e salvar o pecador. Quando alguns fariseus e escribas repletos de ódio e despeito acusaram a mulher adúltera exigindo seu apedrejamento, o Mestre ergue-se e diz: “O que está puro entre vós atire a primeira pedra” (Jo 8:7). Com essa postura devolve a eles o julgamento da mulher adúltera. A lei de Moisés previa o apedrejamento da mulher flagrada em adultério. A indagação daqueles fariseus se devia ou não apedrejar a adúltera era uma autêntica cilada.

Se o Mestre sentenciasse: “Podem apedrejá-la”, estaria negando todos os ensinos misericordiosos de sua doutrina. No entanto, se dissesse: “Não devem matá-la”, seria imediatamente acusado perante as autoridades como desrespeitador das Leis Mosaicas, o que na época constituía-se em falta grave e verdadeira heresia. A cilada estava preparada. A trama estava bem urdida, o plano tinha requintes de astúcia e não podia falhar. Aparece, então, a sabedoria do Mestre Divino: nem manda que eles cumpram a lei e apedrejem a mulher e nem se coloca contra a lei, condenando a lapidação.

Em vez dessas duas alternativas, a primeira vista inevitáveis, lança-lhes um desafio: “Quem não tiver pecado, atire a primeira pedra”(Jo 8:7). “E eles se foram retirando envergonhados um a um, a começar pelos mais velhos” (Jo 8:8).

Quanto mais evoluído é um espírito, tanto maior é sua capacidade de perdoar.

Quando perdoamos e amamos somos envolvidos pelo amor, quando não perdoamos e odiamos, somos envolvidos pelo ódio. É uma lei imutável. Se semearmos perdão, colheremos tolerância. Reprovar infelizmente é a ação que mais praticamos. Condenar, torna-se mais fácil que ser solidário. Aceitar o erro como um possível caminho para o acerto é muito difícil, no tribunal injusto de nossa personalidade egoísta. Nossa tendência é sempre ver o erro nos outros e nunca em nós mesmos. Ao invés de acusar, deveríamos estar prontos para entender a fraqueza de nosso semelhante, pois também, nós muito erramos. Conforme o próprio Cristo afirmou: “Quem tiver sem pecado, que atire a primeira pedra” (Jo 8:7).

tags:
publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 01:19
link do post | comentar
Segunda-feira, 17 De Maio,2010

DESENCARNE NA GUERRA

 

 

 

     Quando o Espírito do jovem militar se manifestou pela primeira vez, sucedeu o que quase invariavelmente acontece nessas circunstâncias, como o sabem todos os que experimentam, isto é, que o Espírito, reabsorvendo fluidos humanos e volvendo parcialmente às condições terrestres, quais as em que se achava no termo da sua existência, não pôde deixar de ressentir e, por conseguinte, de transmitir ao médium os sintomas que lhe caracterizaram a agonia. Dessa vez, a mão do médium foi presa de tremores e de impressionantes arrancos convulsivos, que lhe faziam saltar o braço em todas as direções. Quando, por fim, essas convulsões se acalmaram, ditou o Espírito o que segue:

     “Foi o que se deu comigo, quando caí mortalmente ferido pelos estilhaços de um obus. Disseram-me que a minha morte ocorreu em menos de um minuto; as convulsões da agonia foram, pois, muito curtas, embora eu tenha tido a impressão de durarem longas horas. Não te assustes; isto não te trará conseqüências más. Quando a mim, estou perfeitamente bem; mas, voltando ao meio terrestre e pensando na minha morte, não posso evitar se reproduzam os sintomas que a acompanharam”.

     Quando fui ferido, achava-me à borda de uma trincheira e, quando as convulsões cessaram, estava morto. Senti-me então, como antes, em perfeito estado de saúde. Via-me trajando o uniforme militar. Meu primeiro pensamento foi para “Bem” (seu filhinho) e, ao pensar nele, vi-me logo transportado à minha casa, onde o contemplei a dormir na sua caminha, ao lado de Carrie (a mãe). Distinguia-os tão bem como com os olhos do corpo; em seguida te vi e a John (o marido). Pensei em minha mãe e logo me achei ao seu lado. Vi-a acordada na cama e lhe dirigi a palavra, porém ela nenhum sinal deu de me ter ouvido. Voltei então para a França, para a trincheira.

     Sabia-me morto... e um caso estranho me acontecia: via passar diante de meus olhos todos os acontecimentos da minha vida, em os quais me comportara mal... Logo depois, divisei um Espírito que me vinha ao encontro... Era meu pai; porém, não o reconheci. Entretanto, quando me chamou pelo meu nome: “Will”, imediatamente o reconheci e me lancei a chorar nos seus braços. Sentia-me extraordinariamente comovido e não sabia o que lhe dissesse. Nada posso dizer com relação ao tempo que ali permanecemos. Lembro-me apenas de que, durante esse tempo, deixei de ver os meus camaradas, de ouvir o ruído da batalha. Via, no entanto, os pensamentos daqueles camaradas; verifiquei, assim, que muito os havia impressionado a minha morte. Quando meu amigo Franck se aproximou do meu cadáver, para se certificar de que eu estava realmente morto, ainda uma vez o distingui como com os olhos do corpo. Meu pobre amigo desejava estar em meu lugar e não ligava importância à vida, senão por amor de sua Dora...

     Não me seria possível dizer se estive nalguma outra parte, durante a minha permanência naquele lugar. Encontrava-me num estado de completa confusão de idéias; o que me rodeava parecia ao mesmo tempo muito nítido e muito incerto. Meu pai se conservava ao meu lado, a me animar e a me dizer que não tardaria a readquirir equilíbrio mental. Conduziu-me depois á sua habitação, onde presentemente vivemos juntos, aguardando que a mamãe venha para a nossa companhia...

     Outro dia, disse-me ele: “Queres ver tua avó?” - Eu ainda não a encontrara no mundo espiritual. Ela se achava, ao que parece, numa localidade muito afastada de nós. Papai acrescentou: “Formula intensamente o desejo de estar com ela e o de que eu lá esteja por minha vez.” Fizemo-lo simultaneamente e saltamos com a rapidez do relâmpago, através do espaço. Em menos de um segundo estávamos ao lado de minha avó. Ela vive com meu avô e com o meu tio Wálter, a quem não conheci na Terra; logo, porém percebi que o conhecia muito bem, porque, quando vivo, eu o ia freqüentemente ver durante o sono; era meu pai quem me levava...”

     O que se acaba de ler é extraído da primeira mensagem do irmão morto de Mrs. Hope Hunter. Numa segunda mensagem, acrescentou ele copiosos detalhes acerca do momento de sua morte. Limitar-me-ei a transcrever esta passagem que completa a precedente:

     “Muitos de meus camaradas se acharam mortos sem o saberem e, como não logravam perceber certas coisas, supunham que estavam a sonhar. Eu, ao contrário, me inteirei imediatamente da minha morte, porém não conseguia compreender o fato de ser absolutamente o mesmo que anteriormente. Antes de ir para a guerra, jamais cogitara das condições prováveis da existência espiritual; durante a vida nas trincheiras, pensava nisso algumas vezes, mas longe estava de imaginar a verdade. Como era natural, tinha na cabeça os “coros celestes”, as “harpas angélicas”, de que falam as Santas Escrituras. O que sobretudo havia de mais incompreensível para mim era me ver e sentir absolutamente o mesmo indivíduo de antes, quando, na realidade, me achava transformado numa sombra. Em compensação, não podia igualmente compreender uma outra circunstância, a de que, quando vinha ver a vocês, os via como se todos fossem sombras, ao passo que eu não o era. Quando estive em casa, mal acabara de morrer, vi a vocês como os via quando vivo; mas, depois, pouco a pouco, todos se foram tornando cada vez mais evanescentes, até não passarem de puras sombras. Em suma não posso distinguir, nos seres vivos, senão a parte destinada a sobreviver ao corpo...

     Bem calculadas as coisas, muito de verdadeiro havia no que dizia o nosso pastor em seus sermões... Há realmente uma vida eterna. É, pelo menos, o que todos cremos; enquanto que aqueles que na Terra viveram honesta e virtuosamente vão para um lugar que se pode comparar a um paraíso, aqueles cuja existência transcorreu depravada e má vão acabar em outro lugar que se pode exatamente definir como um inferno...

     Acho-me aqui ativamente ocupado. O mesmo se dá com todos, mas suspendemos o trabalho quando nos sentimos fatigados. Atende, entretanto, a que, quando falo de cansaço, não me refiro ao que vós aí experimentais. É coisa muito diversa. Quando estamos fatigados, pensamos em nos distrair, segundo os nossos pendores. Nenhum de vós poderia imaginar em que consistem os nossos descansos... Se eu pudesse tornar a viver (mas absolutamente não o desejo) e se soubesse o que sei agora, viveria de maneira muito diferente. Doutra feita, falar-te-ei das minhas ocupações. Por hoje, boa-noite!”

     O Espírito-guia do médium, a pedido deste, ponderou:

     “Teu irmão, desde que o feriram os estilhaços do obus, conheceu que lhe chegara a hora da morte. O desconhecido que o esperava se lhe apresentou terrivelmente, nos espasmos da agonia... Quando se comunicou mediunicamente, viveu esses terríveis momentos. Daí os tremores convulsivos de tua mão e os arrancos do teu braço, que tanto te impressionaram...

     A crise da morte é, fundamentalmente, a mesma para todos; contudo, no caso de um soldado que morre de maneira quase fulminante, as coisas diferem um pouco, porém não muito. Quando chegou o instante fatal, o “corpo etéreo”, que penetra o “corpo carnal”, começa gradualmente a se libertar deste último, à medida que a vitalidade o vai abandonando... Quem ainda não viu uma borboleta emergir da sua crisálida? Pois bem! o processo é análogo... Desde que o “corpo etéreo” se haja libertado do “corpo carnal”, outros Espíritos intervêm para auxiliar o recém-desencarnado. Trata-se de um nascimento, em tudo análogo ao de uma criança no meio terrestre, o que faz que o Espírito recém-nascido tenha necessidade de auxílio. Ele se sente aturdido, desorientado, aterrado e não poderia ser de outro modo... Quase sempre julga que está sonhando. Ora, o nosso primeiro trabalho consiste em convencê-lo de que não está morto. É o de que geralmente se encarregam os parentes do recém-chegado, o que as mais das vezes, não serve para confirmar, no morto a idéia de que está sonhando...

     Teu irmão diz que se transportou imediatamente a Samerset; que falou com sua mãe; que viu o filho e te viu com teu marido. Vou tentar explicar-te como isso ocorre. Logo após o instante da morte, o Espírito ainda se acha impregnado de fluidos humanos. Pelo que sei (e não é grande coisa) este fato significa que ele ainda está em relação direta com o meio terrestre. Mas, ao mesmo tempo, está despojado do corpo carnal e revestido unicamente do “corpo etéreo”. Basta, pois, que dirija o pensamento a determinado lugar, para que seja instantaneamente transferido aonde o leva o seu desejo. O primeiro pensamento de teu irmão foi dirigido, com grande afeto, à sua mulher e seu filhinho; achou-se portanto, instantaneamente, com eles; estando ainda impregnado de fluidos humanos, pôde vê-los como com os olhos do corpo...

     Além disso, refere teu irmão: “Vi passarem diante de meus olhos todos os acontecimentos da minha vida, em os quais me comportara mal”. Trata-se de um fenômeno muito notável da existência espiritual. Geralmente, isso preludia a sanção a que todos nos temos que submeter, pelo que toca às nossas faltas. A visão se desenrola diante de nós num rápido instante, mas nos oprime pelo seu volume e nos abala e impressiona pela sua intensidade. Quase sempre, vemo-nos tais quais fomos, do berço ao túmulo. Não me é possível dizer-te como isso se produz; porém, a razão do fato reside numa circunstância natural da existência terrena, durante a qual toda ação que executamos, todo pensamento que formulamos, quer para o bem, quer para o mal, fica registrado indelevelmente no éter vitalizado que nos impregna o organismo. Trata-se, em suma, de um processo fotográfico; com isto imprimimos e fixamos vibrações no éter e este processo começa desde o nosso nascimento...

     Teu irmão continua, referindo como encontrou o pai. Tudo isso se produziu num instante do vosso tempo; mas, para ele, que calculava o tempo pela intensidade e pelo concurso dos acontecimentos, os segundos pareceram horas. A princípio, não reconheceu o pai, o que freqüentemente acontece. Com efeito, os desencarnados não esperam encontrar-se com seus parentes; ao demais, o aspecto destes tem geralmente mudado. Entre nós, também existe um desenvolvimento do “corpo etéreo”... um bebê cresce até chegar à maturidade. Contrariamente, um velho alcança a seu turno a idade viril, rejuvenescendo. Teu pai e dele, morreu na plenitude da idade adulta; apesar disso, o filho não o reconheceu, porque muitos anos haviam passado e o pai atingira, no mundo espiritual, um estado de radiosa beleza. Reconheceu-o, todavia, assim aquele lhe dirigiu a palavra. Ninguém pode enganar-se no mundo espiritual.

     Outra afirmativa de teu irmão é de si mesma clara.

     Observa ele: “Eu podia ver o que pensavam os meus camaradas”. O fato se dá, porque, na vida espiritual, a transmissão do pensamento é a forma normal de conversação entre os Espíritos; depois, porque muitos pensamentos se exteriorizam da fronte daquele que os formula, revestindo formas concretas, correspondentes à idéia pensada, formas que todos os Espíritos percebem...

     Informou-te, afinal, de que vivia com o pai, na habitação deste último. É absolutamente exato. Já noutra mensagem te expliquei que no mundo espiritual o pensamento e a vontade são forças por meio das quais se pode criar o que se deseje...”(Ernesto Bozzano - Obra: A Crise da Morte). 

 

tags:
publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 00:01
link do post | comentar
Sábado, 15 De Maio,2010

O FENÔMENO DAS APARIÇÕES

 

O fenômeno das aparições apresenta-se hoje sob um aspecto, de certo modo, novo, e projeta uma viva luz sobre os mistérios da vida de além-túmulo. Antes, porém, de abordar os estranhos fatos que vamos referir, julgamo-nos obrigados a reiterar, completando-as, explicações dadas anteriormente.

Não se deve perder de vista que, durante a vida, o Espírito está unido ao corpo por uma substância semi-material, que constitui um primeiro envoltório, o qual designamos como perispírito. Tem, pois, o Espírito dois envoltórios: um grosseiro, pesado e destrutível — o corpo; outro etéreo, vaporoso, indestrutível — o perispírito. A morte não é mais que a destruição do invólucro grosseiro; é a roupa de fora que deixamos, por usada; o invólucro semi-material persiste e constituí, por assim dizer, novo corpo para o Espírito.

Essa matéria eterizada é bom frisar — absolutamente não é a alma; não passa de seu primeiro envoltório. A natureza íntima dessa substância ainda não nos é perfeitamente conhecida, embora a observação nos haja colocado na via de algumas de suas propriedades. Sabemos que ela representa um papel capital em todos os fenômenos espíritas; que, após a morte, é o agente intermediário entre o Espírito e a matéria, assim como o corpo durante a vida. Por aí se explicam uma porção de fenômenos até aqui insolúveis. Veremos em artigo subseqüente o papel por ele representado nas sensações do Espírito. Ainda mais: a descoberta, se assim podemos dizer, do perispírito, permitiu que a Ciência espírita desse um passo enorme e entrasse numa rota inteiramente nova.

Talvez nos perguntem se esse perispírito não será uma criação fantástica da imaginação; se não será uma dessas suposições feitas tantas vezes para explicar uns tantos efeitos. Não: não é obra da imaginação, pois foram os próprios Espíritos que o revelaram; não é uma idéia fantástica, porque pode ser constatado pelos sentidos, porque pode ser visto e tocado. A coisa existe; nossa é apenas a denominação. Para as coisas novas necessitamos de vocábulos novos. E os próprios Espíritos os adotam nas comunicações que estabelecem conosco.

Por sua natureza e em estado normal, o perispírito é para nós invisível, mas pode sofrer modificações que o tornem perceptível, ou por uma espécie de condensação, ou por uma mudança na disposição molecular. É então que nos aparece sob uma forma vaporosa. A condensação — mas, por falta de expressão, não seja tomada ao pé da letra — a condensação, dizíamos nós, pode ser tal que o perispírito adquira as propriedades de um corpo sólido e tangível; este pode, entretanto, instantaneamente retomar o seu estado etéreo e invisível. Podemos fazer uma idéia deste efeito pelo vapor, que pode passar do estado de invisibilidade ao estado brumoso, depois ao líquido e ao sólido e vice-versa. Estes diferentes estados do perispírito são o pro­duto da vontade do Espírito e não de uma causa física exterior. Quando ele nos aparece é que dá ao seu perispírito a propriedade necessária para o tornar visível; e esta propriedade ele a pode estender, restringir e fazer cessar à vontade.

Uma outra propriedade da substância do perispírito é a penetrabilidade. Nenhuma matéria lhe oferece obstáculo: ele as atravessa a todas, como a luz atravessa os corpos transparentes.

Separado do corpo, o perispírito afeta uma forma determinada e limitada e esta forma normal é a do corpo humano; mas não é constante; o Espírito pode, à vontade, dar-lhe as mais variadas aparências, inclusive a de um animal ou de uma chama. Aliás isto se concebe muito facilmente. Não vemos homens que dão ao rosto as mais diversas expressões, imitando a voz a ponto de nos enganarmos, assim como a expressão de outras pessoas, parecerem obesas, coxas, etc.? Quem reconheceria na cidade certos atores que só costuma ver caracterizados no palco? Se, pois, assim pode o homem dar ao seu corpo material e rígido aparências tão contrárias, com mais forte razão pode fazê-lo o Espírito com um envoltório eminentemente plástico e flexível e que pode prestar-se a todos os caprichos da vontade.

Os Espíritos, pois, geralmente nos aparecem sob uma forma humana; em seu estado normal esta forma nada tem de muito característico, nada que os distinga uns dos outros de maneira muito marcada; nos bons Espíritos esta forma ordinariamente é bela e regular: longos cabelos flutuantes sobre as espáduas e amplas túnicas envolvendo-lhes o corpo. Mas se desejam tornar-se conhecidos, tomam exatamente todos os traços sob os quais foram conhecidos e, até, quando necessário, a aparência da vestimenta. Assim, por exemplo, como Espírito, Ésopo não é disforme, mas se for evocado como Ésopo, posto tivesse tido posteriormente, várias existências, aparecerá feio e corcunda, vestindo à maneira tradicional. É talvez a roupagem o que mais admira; se, entretanto, considerarmos que ela faz parte do envoltório semi-material, compreende-se que a esse envoltório possa o Espírito dar a aparência de tal ou qual vestimenta, como a de tal ou qual fisionomia.

Os Espíritos tanto podem aparecer em sonho quanto em vigília. As aparições em estado de vigília nem são raras nem novas; houve-as em todos os tempos e a História as registra em grande número. Sem remontar ao passado, entretanto, elas hoje são muito freqüentes e muitas pessoas no primeiro instante tomaram tais visões por alucinações. São freqüentes, principalmente, nos casos de morte de pessoas ausentes, que vêm visitar parentes e amigos. Muitas vezes não têm um objetivo determinado, mas em geral pode-se dizer que os Espíritos que assim nos aparecem são seres para nós atraídos pela simpatia. Conhecemos uma jovem senhora que muitas vezes via em sua casa e no seu quarto, com ou sem luz, homens que aí entravam e saíam, embora estivessem fechadas as portas. Ficava muito espantada e isto a tinha tornado de uma pusilanimidade que tocava as raias do ridículo. Um dia ela viu distintamente o seu irmão, que se achava vivo na Califórnia, prova de que o Espírito dos vivos pode vencer as distâncias e aparecer num lugar, enquanto o corpo se acha em outro. Depois que esta senhora foi iniciada no Espiritismo, já não tem medo, porque se dá conta das visões e sabe que os Espíritos que vêm visitá-la nenhum mal lhe podem fazer. É provável que, ao lhe aparecer, o seu irmão estivesse adormecido; se ela pudesse ter explicado a sua presença, poderia ter estabelecido uma conversação com ele, da qual este tivesse conservado uma vaga lembrança ao despertar. É provável, ainda, que nesse momento ele tivesse sonhando que se achava ao pé da irmã.

Dissemos que o perispírito pode adquirir tangibilidade. Falamos sobre isto a propósito das manifestações produzidas pelo Sr. Home. Sabe-se que por diversas vezes ele fez aparecerem mãos que podiam ser apalpadas como se fossem vivas, mas que de repente se extinguiam como uma sombra; mas não se tinham visto ainda corpos inteiros sob essa forma tangível. Contudo não é coisa impossível. Numa família do conhecimento íntimo de um dos nossos assinantes, um Espírito ligou-se à filha daquela família, criança de dez a onze anos, sob a forma de um belo rapaz da mesma idade. É-lhe visível como uma pessoa comum e, à vontade, torna-se visível ou invisível às outras pessoas. Presta-lhe toda sorte de bons serviços, traz-lhe brinquedos, bombons, faz o trabalho doméstico, vai comprar aquilo de que necessitam e que é mais dispendioso. Isto não é uma lenda da mística Alemanha, nem uma história medieval: é um fato atual, que se passa neste momento em que escrevemos, numa cidade da França e numa família respeitável. Chegamos a fazer sobre este caso estudos especiais, cheios de interesse e que nos forneceram revelações muito originais e as mais imprevistas. Brevemente, entreteremos os nossos leitores de modo mais completo em artigo especial.

Revista Espírita de Allan Kardec

Dezembro, 1858

 

tags:
publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 00:13
link do post | comentar
Sexta-feira, 14 De Maio,2010

FALTA DE CARIDADE

839. Será repreensível aquele que escandalize com a sua crença um outro que não pensa como ele?

 “Isso é faltar com a caridade e atentar contra a liberdade de pensamento.”

 

 

 

Surgem de novo o orgulho e o egoísmo, monstros da discórdia e da prepotência. Todo aquele que menospreza as opiniões alheias, por não compatibilizarem com as suas, está cheio de vaidade e desconhece os direitos alheios. Isso é falta de caridade e atenta contra a liberdade de pensamento. Vemos nos fatos que ocorrem em todo o mundo, Deus deixando que o homem aplique seus pensamentos, mesmo que depois sofra as conseqüências dos seus atos errôneos, para mostrar-lhe que pode ter liberdade e reconhecer no Senhor um Pai de Amor e de Bondade.

Quando notamos companheiros que somente acreditam no seu modo de pensar e sentir, estampam em seu ser plena ignorância sobre a vida. É preciso que reconheçamos que fazemos parte de um todo, e que cada alma tem uma tarefa diferente da outra. Os dons dados por Deus para o Espírito são diversos, mas ainda carecem de ser despertados e esse despertamento é gradativo, mas em alternância que não para.

Certos dons estão em atividades em uns, enquanto em outros dormem. É nesse sentido que não podemos viver sozinhos, pois ternos necessidade uns dos outros para a paz de todos. Nunca podemos julgar a ninguém porque tivemos e ainda vamos ter muitas vidas na Terra, para o despertamento completo dos nossos valores. é falta de caridade, de amor, condenar alguém porque esse alguém não aceita os nossos pensamentos. Onde está a liberdade de pensar e sentir que a vida nos deu?

Todos buscamos a liberdade, no entanto, não podemos ser livres de Deus, porque sem Ele não podemos viver. Em Paulo, quando falava aos Coríntios, por sua primeira epístola, notamos a diversidade entre as raças. Vejamos o capítulo um, versículo vinte e dois, que assim diz:

Porque tanto os Judeus pedem sinais, como os gregos buscam sabedoria.

E podemos acrescentar: uns buscam o direito, outros o amor, alguns a caridade, outros a paciência, e ainda outros lutam para conquistar a santidade. E é nessa corrida que buscamos e encontramos a perfeição no passar dos evos, porque a vida nos entregará a felicidade somente nos caminhos da perfeição espiritual.

No "Evangelho Segundo o Espiritismo" encontramos essa frase luminar:

"Fora da caridade não há salvação."

Quem falta com ela, como pode se libertar dos entulhos que lhe pesam na consciência? Somente ficamos livres dos fardos pesados e do jugo que nos incomoda obedecendo às leis de Deus, andando dentro delas. Aí é que a paz nasce em nós e por nós.

Seja quem for, respeitemos sua liberdade de pensar. Não é com isso que vamos nos esquecer de dar exemplos dignificantes. O exemplo no bem é a voz de Deus pelos nossos recursos de amor. Os pensamentos e a própria vida consciencial estão no silêncio, para serem ouvidos pelo seu portador, e ele mesmo deve tirar as suas deduções para o que lhe cabe viver.

A Doutrina Espírita não veio ao mundo revelar todas as leis de Deus, mas dar continuidade à revelação, que é gradativa, de acordo com o crescimento das criaturas.

 

tags:
publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 05:03
link do post | comentar

RESPEITO ÀS CRENÇAS

 

838. Será respeitável toda e qualquer crença, ainda quando notoriamente falsa?

 “Toda crença é respeitável, quando sincera e conducente à prática do bem. Condenáveis são as crenças que conduzam ao mal.”

 

 

Toda religião carece do nosso respeito, desde quando ela inspire seus profitentes ao bem e ao amor. É preciso que se saiba que o sistema religioso é um celeiro, onde seus crentes recolhem e passam a semear, no entanto, é preciso notar que a colheita é viva e pertence ao semeador.

Existem, bem o sabemos, aquelas crenças que, melhor que as outras, ensinam mais a amar aos semelhantes. Quem mais obedecer às leis naturais, mais colherá frutos dignificantes. Quando uma religião ou filosofia tem por norma combater a outra, cujos ensinamentos não lhe soam bem, é falta de respeito aos pensamentos alheios, por querer oprimir a consciência daqueles que não pensam igual a eles. Isto é querer violentar o modo de pensar dos irmãos em caminho. Na verdade, eles têm Jesus como guia, mas esquecem Seus preceitos de não desejar aos outros o que não querem para si mesmos.

O nosso maior desejo deve ser cuidar de nós mesmos. Se cada criatura se interessar pelo seu próprio aperfeiçoamento, tudo se regulará na harmonia divina. Enquanto o homem atender à inferioridade de oprimir seu irmão com o seu modo de pensar e sentir a vida, ele ainda dorme pelo magnetismo da ignorância.

Vamos reproduzir aqui o que o Espírito de Verdade respondeu ao querido codificador do Espiritismo, na pergunta em estudo:

"Toda crença é respeitável, quando sincera e conducente à prática do bem. Condenáveis são as crenças que conduzem ao mal."

Quando os discípulos de Jesus condenaram alguém que curava em nome d'Ele e expulsava demônios também em Seu nome, foram falar com o Mestre. Ele não aceitou a condenação, porque aquele estava fazendo o bem aos que sofriam. Por que condenar outros sistemas religiosos, se estão buscando a paz das criaturas e as inspirando para o amor?

Inspirado pelo Mestre, Paulo escreveu em sua carta aos Romanos, no capítulo treze, versículo sete:

Pagai a todos o que lhes é devido: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem respeito, respeito; a quem honra, honra.

Tanto o senhor Jesus falava aos Seus discípulos no respeito às crenças, como igualmente orientava quanto às organizações da Terra, mostrando que o sistema político tem seus objetivos que, com o tempo, vai se aprimorando até chegar aos Seus preceitos, de amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Fugir das leis de Deus estabelecidas no universo e plasmadas em todas as consciências, é afastar-se da própria felicidade. A Doutrina dos Espíritos tem a missão de levar a humanidade para o conhecimento de Deus em tudo, mostrando por experiências que ninguém morre. A vida continua depois do túmulo e no mundo espiritual se encontra a verdadeira vida do Espírito e a liberdade de consciência em Deus.

O Mestre dos mestres disse que voltaria no terceiro dia, e voltou, provando assim para a humanidade que a vida atravessa o túmulo. Os sensitivos são, muitas vezes, pessoas iletradas e escrevem o que os doutos não escreveriam na sua postura de mestres. A razão falará mais alto àqueles que pesquisam a verdade. Aos que não se interessam por essa verdade, Jesus já respondeu, dizendo que têm olhos e não vêem; têm ouvidos e não ouvem.

 

tags:
publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 05:01
link do post | comentar

LIBERDADE DE PENSAR

 

833. Haverá no homem alguma coisa que escape a todo constrangimento e pela qual goze ele de absoluta liberdade?

 

“No pensamento goza o homem de ilimitada liberdade, pois que não há como pôr- lhe peias. Pode-se-lhe deter o vôo, porém, não aniquilá-lo.”

 

 

O que nos parece, examinando a questão, é que o homem tem plena liberdade de pensar e de sentir, no entanto, mesmo que nada possa aniquilar tal valor espiritual dado por Deus, Ele tem meios diversos de tolher essa liberdade, para o bem do próprio Espírito. É o caso de certas provas pelas quais o Espírito deve passar na carne, como a idiotia congênita, em que a alma não encontra no aparelho de carne o instrumento necessário para expressar suas idéias. Ele sofre, com isso, no silêncio dos dias, por vezes de anos e séculos, dado que pode levar para o outro lado da vida o reflexo desses mesmos impedimentos, não tendo liberdade de pensar. Esse entrave é provação pelo mau uso que fez do seu instrumental da razão, praticando a arbitrariedade com seus irmãos menores. Ninguém consegue burlar a lei de justiça.

Em muitos casos, existem os que pensam, e muitos, no entanto, o fazem em circuito fechado, somente para eles, de modo a se cansarem de pensar e de ouvirem na acústica da própria alma, não conseguindo fazer chegar suas idéias aos ouvidos alheios, por terem desencaminhado muitos em outras épocas. A Doutrina Espírita, sob a influência do Cristo, vem nos ensinar a usar o verbo qual o fez Jesus, ensinar a usar o dom de escrever para confortar os sofredores e usar a vida para ajudar os que sofrem. Desta forma, seremos bem-aventurados, despertando em nós a luz divina para a nossa felicidade, tornando felizes os outros.

Entretanto, nada pode "botar peias" à mente do Espírito, fazendo desaparecer para sempre a força da alma no sentido de pensar, porque Deus é perfeição e não iria fazer algo de divino que não se mostrasse com a mesma expressão da Sua luz. Temos liberdade de pensar, mas responderemos pelos pensamentos nascidos na nossa engrenagem mental. Somos muito mais responsáveis, porque a matéria que usamos para pensar vem ungida pelo beijo de Deus, pelos canais da natureza e sob a responsabilidade, podemos dar aos pensamentos a direção que entendermos. Eis aí a nossa liberdade, porém, devemos conhecer a lei. Os pensamentos são sementes que saímos a semear. Eles são filhos de quem pensa e sempre voltam à casa paterna.

Nós, quando usamos mal os pensamentos, estamos negando a Deus e a Jesus, e se negamos, recebemos negação onde quer que estejamos. Observemos a anotação de Lucas, no capítulo doze, versículo nove: Mas o que me negar diante dos homens será negado diante dos Anjos de Deus.

Na posição em que os homens se encontram, não podemos lhes pedir o que eles não podem dar, no entanto, a boa vontade de melhorar, nós devemos incentivar todos os dias, para que se acostumem a ser mais justos e bem melhores que antes. Se nos esforçarmos para aperfeiçoar nossas qualidades, encontraremos sempre em nossos caminhos, motivos para melhorar, da parte dos Anjos do Senhor.

No pensamento, goza o homem de muita liberdade; essa liberdade somente não avança nos segredos que não podem suportar ou que ainda desconhecem. Mas, já é uma faculdade grandiosa, a de pensar e de recordar. Tanto o pobre como o rico podem pensar o que desejarem, mas fiquem sabendo que a mente em atividade já coloca o que se deseja em caminho.

 

tags:
publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 05:00
link do post | comentar
Quinta-feira, 13 De Maio,2010

FÉ RACIOCINADA: SEGUNDO JESUS, A MAIOR FÉ!

Jesus, após ouvir o Centurião (Mt, VIII, 5-13), afirma que jamais viu tamanha fé em toda Israel! Um estudo mostra claramente que a fé do Centurião foi uma fé raciocinada.

 

Um dos princípios básicos do Espiritismo é a fé raciocinada. O capítulo XIX do Evangelho Segundo o Espiritismo1 é inteiro dedicado ao estudo da fé. Kardec, primeiro, analisa o poder da fé em remover as mais difíceis montanhas morais que atrapalham o progresso da humanidade. As características da fé são também analisadas. “A fé sincera e verdadeira é sempre calma” diz Kardec no ítem 3 do referido capítulo, mostrando que “a calma na luta é sempre um sinal de força e de confiança” e que a violência apenas denota a fraqueza e insegurança daquele que assim procede para resolver seus problemas.

 

Kardec analisa, também, o poder da fé na ação magnética dos fluidos sobre a matéria. Ele diz que “aquele que a um grande poder fluídico normal junta ardente fé, pode, só pela força da vontade dirigida para o bem, operar esses singulares fenômenos de cura e outros, tidos antigamente por prodígios, mas que não passam de efeito de uma lei natural”. É por essa razão que os discípulos de Jesus não puderam curar o moço lunático na passagem de Mateus, cap. XVII, vv. 14 a 20.

 

Em seguida, Kardec analisa a fé religiosa e apresenta a condição da fé inabalável. A fé pode ser cega ou raciocinada. No primeiro caso, a fé nada examina e aceita sem controle o falso e o verdadeiro1. Aquela que tem a verdade por base é a única que pode resistir às transformações devido ao progresso do conhecimento. Dessa forma, Kardec apresenta a condição da fé inabalável: “Fé inabalável só o é a que pode encarar de frente a razão, em todas as épocas da Humanidade” (Ítem 7, cap. XIX, Evangelho Segundo o Espiritismo1).

 

Kardec não fica apenas na análise do assunto. Ele exemplifica o exercício da fé raciocinada ao preparar, por exemplo, o conteúdo do capítulo XXIII do Evangelho Segundo o Espiritismo1, Moral Estranha, onde ele analisa algumas passagens em que Jesus faz afirmativas que ao pé da letra são contrárias à mensagem de amor contida no Evangelho. Ao invés de aceitar sem questionar o conteúdo dessas passagens, Kardec as analisa sob a luz da razão e do bom senso, retirando delas lições preciosas para todos nós.

 

Uma das passagens evangélicas de grande expressão é aquela conhecida como “Jesus e o Centurião”. Caibar Schutel2 analisa essa passagem retirando valiosíssimos ensinamentos sobre a humildade e a fé. Em resumo, nessa passagem, Jesus é interpelado por um Centurião ao entrar em Cafarnaum: “Senhor, o meu criado jaz em casa paralítico (...)”3. Jesus, então, respondeu-lhe: “eu irei curá-lo”3. O Centurião, demonstrando enormes conquistas no terreno da humildade, exclamou que não se sentia digno de receber Jesus em sua casa mas “dize somente uma palavra e o meu criado há de sarar.”3. O ponto que nos interessa nessa matéria vem das seguintes palavras do Centurião proferidas após a que acabamos de citar: Porque também sou homem sujeito à autoridade e tenho soldados às minhas ordens, e digo a um: vai ali, e ele vai; a outro: vem cá, e ele vem; ao meu servo: faze isto, e ele o faz. (destaque em negrito feito por nós). Caibar Schutel sintetiza: “(...) foi esta a Fé, engrandecida pelos conhecimentos, purificada pela humildade, santificada pela prece na pessoa do centurião, que o mestre justificou, dizendo: ‘Em verdade vos afirmo que nem mesmo em Israel achei tamanha fé!’ ”.

 

Schutel destacou o fato de que a fé do Centurião estava “engrandecida pelos conhecimentos” como um dos fatores para a exclamação de Jesus perante ele. Nós aqui desejamos destacar que isso nada mais significa que o Centurião usou aquilo que chamamos de fé raciocinada.

 

Jesus reconhecia que o Centurião era uma pessoa boa e que o servo doente, certamente, merecia a cura de sua moléstia. Por isso afirmou que iria curar o doente. Porém, o Centurião disse que ao invés de ir à sua casa, bastava Jesus dizer uma palavra que o servo estaria curado. E para mostrar que entendia como isso era possível o Centurião expôs um raciocínio, uma analogia. Assim como ele, uma autoridade militar, tinha soldados e servos sob suas ordens, Jesus, uma autoridade moral, também tinha Espíritos que cumpriam suas determinações. O que é isso senão um simples, porém legítimo raciocínio?

 

Após o raciocínio do Centurião, Jesus demonstrou enfaticamente sua aprovação e apoiou essa manifestação de fé ao dizer que nunca tinha visto tamanha fé em toda Israel!

 

Essa passagem evangélica é muito simples e não tem sentido figurado. Tanto o Centurião em seu raciocínio, quanto Jesus na sua exclamação, foram muito claros. A maior fé de Israel não era a dos discípulos que conviviam com Jesus, mas sim de um homem que soube aliar a pureza de seus sentimentos com a simplicidade da razão e do bom-senso.

 

A análise de Caibar Schutel de toda essa passagem evangélica é muito instrutiva e merece ser lida e estudada por todos. E não tenhamos nenhum receio em afirmar que Jesus aprovou a fé raciocinada. Não foi a toa que os Espíritos superiores ensinaram que a verdadeira fé possui a compreensão das coisas e é a única capaz de sobreviver ao progresso da razão em qualquer época.

 

 

Referências

1. Allan Kardec, O Evangelho Segundo o Espiritismo, Editora FEB, 112ª Edição, 1996.

2. Caibar Schutel, Parábolas e Ensinos de Jesus, Casa Editora O Clarim, 12ª Edição, 1987.

3. Mateus, VIII, 5-13. (Uma transcrição dessa passagem pode ser lida no livro da referência 2).

 

Revista Internacional de Espiritismo,

Janeiro, pp. 627-628, (2006)

 

publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 00:01
link do post | comentar
Quarta-feira, 12 De Maio,2010

GÊNESE MOSAICA: OS SEIS DIAS E OS PERIODOS GEOLÓGICOS DA TERRA.

 

Todos nós sabemos que o Espiritismo é uma Doutrina constituída de Ciência, Filosofia e Religião. A maioria, porém não sabe o que é Ciência, Filosofia e Religião Espíritas. Este tríplice aspecto da Doutrina está, ao todo, quase que mesclado ao longo de sua estrutura, principalmente no que se refere às obras espíritas.

Do mesmo modo que a Ciência propriamente dita tem por estudo as leis do princípio material, o objetivo da Ciência Espírita é o conhecimento das leis do princípio espiritual; ora, como esse último princípio é uma das forças da natureza, que reage, constantemente sobre o princípio material e, reciprocamente, disto ocorre que o conhecimento de um princípio não pode ser completo sem o outro. A Ciência sem a Ciência Espírita se acha impossibilitada de explicar certos fenômenos unicamente pelas leis de matéria; o Espiritismo, sem a Ciência, ficaria sem o apoio, sem o exame esclarecedor.

Encontramos no primeiro capítulo de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, no item Aliança da Ciência com a Religião o seguinte:...”São chegados os tempos em que os ensinamentos do Cristo devem  receber o seu complemento; em que a Ciência, deixando de ser exclusivamente materialista, deve levar em conta o elemento espiritual; e em que a Religião deixando de desconhecer as leis orgânicas e imutáveis da matéria, essas duas forças, apoiando-se mutuamente e marchando juntas, sirvam uma de apoio à outra. Então, a Religião, não mais desmentida pelo Ciência, adquirirá uma potência indestrutível, porque está de acordo com a razão e não se lhe poderá opor a lógica irresistível dos fatos.

A Ciência e a Religião não puderam entender-se até agora, porque, encarando, cada uma, as coisas do seu ponto de vista exclusivo, repeliam-se mutuamente. Era necessária alguma coisa para preencher o espaço que as separava, um traço de união que as ligasse. Este traço está no conhecimento das leis que regem o mundo espiritual  e suas relações com o mundo corporal, leis tão imutáveis como as que regulam o movimento dos astros e a existência dos seres. Uma vez constatadas pela experiência essas relações, uma nova luz se fez: a fé se dirigiu à razão; esta nada encontrou de ilógico na fé, e o materialismo foi vencido.

 Mas nisto como em tudo há os que ficam retardados, até que sejam arrastados pelo movimento geral que os esmagará, se quiserem resistir, em vez de se entregarem. É toda uma revolução moral que se realiza nesse momento, sob a ação dos Espíritos. Depois de elaborada, durante mais de dezoito séculos, ela chega ao momento de eclosão e marcará uma nova Era da Humanidade. São fáceis de prever ás suas conseqüências: ela deve produzir inevitáveis modificações nas relações sociais, contra o que ninguém poderá opor-se, porque essas mudanças estão nos desígnios de Deus e são o resultado da lei do progresso,  que é uma lei de Deus.”

A história da origem de quase todos os povos antigos se confunde com a de sua religião. É por isso que seus primeiros livros foram livros religiosos; e, como todas as religiões se ligam ao princípio das coisas, que é também o princípio da humanidade, ao tratar da formação e da disposição do universo, elas deram explicações que mantêm relações com o estado dos conhecimentos ao tempo em que seus fundadores registraram seus conceitos. Daí resultou que os primeiros livros sagrados foram ao mesmo tempo os primeiros livros de ciência, assim como durante muito tempo  foram também o único código de leis civis.

Nos tempos primitivos, os meios de observação eram necessariamente muito imperfeitos, e as primeiras teorias acerca do sistema do mundo deviam ser eivadas de erros grosseiros; ocorre, porém, que se tais meios houvessem sido tão completos como o são hoje, os homens não teriam sabido usar deles; além disso, tais livros não poderiam ser senão o fruto do desenvolvimento da inteligência e do conhecimento sucessivo das leis da Natureza. À medida que o homem se adiantou no conhecimento de tais leis, penetrou nos mistérios da criação e retificou as idéias que havia formado sobre a origem das coisas.

O homem foi impotente para resolver o problema da criação, até que a ciência lhe deu a chave. Foi preciso que a Astrologia lhe abrisse as portas do espaço infinito e lhe permitisse que aí mergulhasse suas vistas, que, pelo poder do cálculo, determinasse com rigorosa exatidão o movimento, a posição, o volume, a natureza e o papel dos corpos celestes; que a Física lhe revelasse as leis da gravitação, do calor, da luz e da eletricidade; que a Química lhe ensinasse as transformações da matéria e a Mineralogia lhe revelasse os materiais de que se compõe a crosta terrestre; que a Geologia lhe ensinasse a ler nas camadas terrestres, a formação gradual do próprio globo. A Botânica, a Zoologia, a Paleontologia, a Antropologia, deviam iniciá-lo na filiação e na sucessão dos seres organizados; com a Arqueologia, ele foi capaz de seguir os traços da humanidade através das idades; todas as ciências, numa palavra, se completam umas às outras, e assim lhe trazem seu contingente indispensável  ao conhecimento de história do mundo; caso elas não existissem, o homem não teria por guia outra coisa senão suas primeiras hipóteses.

Igualmente, antes que o homem se apoderasse destes elementos de apreciação, todos os comentadores da Gênese, cuja razão se entrechocava com impossibilidades materiais,  giravam num mesmo círculo do qual não poderiam sair; somente o conseguiram desde que a ciência abriu a rota, fazendo brechas no velho edifício das crenças, e então tudo mudou de aspecto; uma vez encontrado o fio condutor, as dificuldades foram prontamente aplainadas; em vez de uma Gênese imaginária, tivemos uma Gênese positiva, e de alguma forma, experimental; o campo do Universo estendeu-se até o infinito; viu-se a Terra e os Astros se formarem gradualmente, segundo leis eternas e imutáveis, as quais testemunham a grandeza e a sabedoria de Deus melhor que uma criação miraculosa, saída de um golpe do nada. Como uma modificação operada à vista, por uma idéia súbita da Divindade após um eternidade de inação.

Desde que é impossível conceber a Gênese sem os dados fornecidos pela ciência, é lícito dizer-se, de modo totalmente verdadeiro, que : a ciência é convocada para constituir a verdadeira Gênese, conforme as leis da Natureza.

Em “Evolução em Dois Mundos”, André Luís, o autor espiritual, nos convida a estudar a rota de nossa multimilenária  romagem no tempo para sentirmos o calor da flama de nosso próprio espírito a palpitar imorredouro na Eternidade e, acendendo o lume da esperança, perceberemos, juntos, em exaltação de alegria, que Deus, o Pai de Infinita Bondade, nos traçou a divina destinação para além da estrelas. O primeiro capítulo inicia com a explicação sobre o fluido cósmico que é o plasma divino, hausto do Criador ou força nervosa do Todo-Sábio.

Nesse elemento primordial, vibram e vivem constelações e sóis, mundos e seres, como peixes no oceano. Nessa substância original, ao influxo do próprio Senhor Supremo, operam as Inteligências Divinas a Ele agregadas, em processo de comunhão indescritível, extraindo desse hálito espiritual os celeiros da energia com que constróem os sistemas da imensidade, em serviço de Co-Criação em plano maior, de conformidade com os desígnios do Todo-Misericordioso, que faz deles agentes orientadores da Criação Excelsa.

Essas Inteligências gloriosas tomam o plasma divino e convertem-no em habitações cósmicas, de múltiplas expressões, radiantes ou obscuras, gaseificadas ou sólidas, obedecendo a leis predeterminadas, quais moradias que perduram por milênios e milênios, mas que se desgastam e se transformam, por fim, de vez que o Espírito Criado pode formar e co-criar, mas só Deus é o Criador de Toda a Eternidade.

Devido à atuação desses Arquitetos Maiores, surgem nas galáxias as organizações estelares como vastos continentes do Universo em evolução, encerrando a evolução em estado potencial, todas gravitando ao redor de pontos atrativos, com admirável uniformidade coordenadora. É aí no seio dessas formações assombrosas, que se estruturam, inter-relacionados, a matéria, o espaço e o tempo, a se renovarem constantes, oferecendo campos gigantescos ao progresso do espírito. Cada galáxia quanto cada constelação guardam no cerne a força centrífuga própria, controlando a força gravítica, com determinado teor energético, apropriado a certos fins.

A Engenharia Celeste equilibra rotação e massa, harmonizando energia e movimento, e mantêm-se, desse modo, na vastidão sideral, magnificentes florestas de estrelas, cada qual transportando consigo os planetas constituídos e em formação, que se lhes vinculam magneticamente ao fulcro central, como os elétrons se conjugam ao núcleo atômico, em trajetos perfeitamente ordenados na órbita que se lhes assinala de início.

Para idearmos de algum modo, a grandeza inconcebível da Criação, comparemos a nossa  galáxia a grande cidade, perdida entre incontáveis grandes cidades de um país cuja extensão não conseguimos prever.* Tomando o Sol e os mundos nossos vizinhos como apartamentos de nosso edifício, reconheceremos que em derredor repontam outros edifícios em todas as direções. Acessando instrumentos de longo alcance da nossa sala de estudo, perceberemos que nossa casa não é a mais humilde, mas que inúmeras outras lhe superam as expressões de magnitude e beleza. Aprendemos que, além de nossa edificação, salientam-se palácios e arranha-céus como Betelgeuze, no distrito de Órion,  Canôpus, na região do Navio, Arctúrus, no conjunto do Boieiro, Antares, no centro do Escorpião, e outras muitas residências senhoriais, imponentes e belas, exibindo uma glória perante a qual todos os nossos valores de apagariam.

Por processos ópticos, verificamos que a nossa cidade apresenta uma forma espiralada e que a onda de rádio, avançando com a velocidade da luz, gasta mil séculos terrenos para percorrer-lhe o diâmetro. Nela surpreenderemos milhões de lares, nas mais diversas dimensões e feitios, instituídos de há muito, recém organizados, envelhecidos ou em vias de instalação, nos quais a vida e a experiência enxameiam vitoriosas.

Toda essa riqueza de plasmagem, nas linhas da Criação, ergue-se à base de corpúsculos sob irradiações da mente, corpúsculos e irradiações que, no estado atual de nossos conhecimentos, embora estejamos fora do plano físico, não podemos definir em sua multiplicidade e configuração, porquanto a morte apenas dilata as nossas concepções e nos aclara a introspecção, iluminando-nos o senso moral, sem resolver, de maneira absoluta, os problemas que o Universo nos propõe a cada passo, com os seus espetáculos de grandeza.

Sob a orientação das Inteligências Superiores, congregam-se os átomos em colméias imensas, e, sob a pressão, espiritualmente dirigida, de ondas eletromagnéticas, são controladamente reduzidas as áreas espaciais intra-atômicas, sem perda de movimento, para que se transformem na massa nuclear adensada, de que se esculpem os planetas, em cujo seio as mônadas celestes encontrarão adequado berço ao desenvolvimento.

Semelhantes mundos servem à finalidade a que se destinam, por longas eras consagradas à evolução do Espírito, até que, pela  sobrepressão sistemática, sofram o colapso atômico pelo qual se transmutam em astros cadaverizados. Essas esferas mortas, contudo, volvem a novas diretrizes dos Agentes Divinos, que dispõem sobre a desintegração dos materiais de superfície, dando ensejo a que os elementos comprimidos se libertem através de explosão ordenada, surgindo novo acervo corpuscular para a reconstrução das moradias celestes, nas quais a obra de Deus se estende e perpetua, em sua glória criativa.

Os mundos ou campos de desenvolvimento da alma, com as suas diversas faixas de matéria em variada expressão vibratória, ao influxo ainda dos Tutores Espirituais, são acalentados por irradiações luminosas e caloríficas, sem nos referirmos às forças de outra espécie que são arrojadas do Espaço Cósmico sobre a Terra e o homem, garantindo-lhes a estabilidade e a existência. Temos, assim, a luz e o calor, que teoricamente classificamos entre as irradiações nascidas dos átomos supridos de energia. São estes que excitados na íntima estrutura, despendem as ondas eletromagnéticas.

Todavia, não obstante tatearmos com relativa segurança as realidades da matéria, definindo a natureza corpuscular do calor e da luz, e embora saibamos que outras oscilações eletromagnéticas se associam, insuspeitadas por nós, na vastidão universal, aquém do infravermelho e além do ultravioleta, completamente fora  da zona  de nossas percepções, confessamos com humildade que não sabemos ainda, principalmente no que se refere à elaboração da luz, qual seja a força que provoca a agitação inteligente dos átomos, compelindo-o a produzir irradiações capazes de lançar ondas no Universo com a velocidade de 300.000 quilômetros  por segundo, preferindo reconhecer, em toda a parte, com a obrigação de estudarmos e progredirmos sempre, o hálito divino do Criador.

Em “A Caminho da Luz” pelo Espírito Emmanuel no capítulo I, e em “Evolução em Dois Mundos” pelo Espírito André Luís no capítulo III, temos  a explicação da  Gênese Planetária, que compreende duas partes: a história da formação do mundo material e a história da humanidade, considerada em seu duplo princípio, corporal e espiritual. À ciência tem-se limitado à pesquisa das leis que regem a matéria; no próprio homem, ela nada mais tem estudado senão o envoltório carnal. Sob esta relação, chegou a perceber, com incontestável precisão, as principais partes do mecanismo do Universo e do organismo humano. Acerca desse ponto capital, ela pode, pois, completar a Gênese de Moisés e retificar suas partes defeituosas. Porém, a história do homem, considerado como ser espiritual, se prende a uma ordem especial de idéias, que não constitui o domínio da ciência propriamente dita e por este motivo ela não tem feito dele objeto de suas investigações. De acordo com as tradições do mundo espiritual existe uma Comunidade de Espíritos Puros e Eleitos pelo Senhor Supremo do Universo na direção de todos os fenômenos de nosso sistema, em cujas mãos se conservam as rédeas diretoras da vida de todas as coletividades planetárias. Essa  Comunidade de seres angélicos e perfeitos, da qual é Jesus um dos membros divinos, ao que nos foi dado saber, apenas já se reuniu nas proximidades da Terra para a solução de problemas decisivos da organização e da direção do nosso  planeta, por duas vezes no curso dos milênios conhecidos. A primeira verificou-se quando o orbe terrestre se desprendia da nebulosa solar, a fim de que se lançassem no tempo e no espaço, as balizas do nosso sistema cosmogônico e os pródromos da vida  na matéria em ignição no planeta, e a segunda, quando se decidia a vinda do Senhor à face da Terra, trazendo à família humana a lição imortal do seu Evangelho de amor e redenção.

Nos primeiros tempos de nosso orbe que força sobre-humana pôde manter o equilíbrio da nebulosa terrestre, destacada do núcleo central do sistema, conferindo-lhe um conjunto de leis matemáticas, dentro das quais se iam manifestar todos os fenômenos inteligentes e harmônicos de sua vida, por milênios de milênios? Distando do Sol cerca de 146.600.000 quilômetros e deslocando-se no espaço com a velocidade diária de 2.500.000 quilômetros, em torno do grande astro do dia, imaginemos a sua composição nos primeiros tempos de existência, como planeta.

Laboratório de matérias ignescentes, o conflito das forças telúricas e das energias físico-químicas opera as grandiosas construções do teatro da vida, no imenso cadinho, como se a matéria colocada num forno incandescente, estivesse sendo submetida aos mais diversos ensaios, para examinar-se a sua qualidade e possibilidades na edificação da nova escola dos seres. As descargas elétricas em proporções jamais vistas da humanidade, despertam estranhas comoções no grande organismo planetário, cuja formação se processa nas oficinas do infinito.

Nessa computação de valores cósmicos em que laboram os operários da espiritualidade sob a orientação misericordiosa do Cristo, delibera-se a formação do satélite terrestre. O programa de trabalhos a realizar-se no mundo requeria o concurso da Lua, nos seus mais íntimos detalhes. Ela seria a âncora do equilíbrio terrestre nos movimentos de translação que o globo efetuaria em torno da sede do sistema; o manancial de forças ordenadoras da estabilidade planetária e, sobretudo, o orbe nascente, necessitaria de sua luz polarizada, cujo suave magnetismo atuaria decisivamente no drama infinito da criação e da reprodução de todas as espécies, nos variados reinos da natureza. Na grande oficina surge então a diferenciação da matéria ponderável, dando origem ao hidrogênio. As vastidões atmosféricas são amplo repositório de energia elétrica e de vapores que trabalham as substâncias torturadas no orbe terrestre. Essa fase corresponderia ao primeiro dia da Gênese mosaica: “No princípio Deus criou o céu e a terra. A terra era uniforme e toda nua; as trevas cobriam a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava sobre as águas. Ora, Deus disse: Faça-se a luz e a luz se fez. Deus viu que a luz era boa, e separou a luz das trevas. Deu a luz o nome de dia, e às trevas chamou noite; e da tarde e da manhã se fez o primeiro dia”.

 O frio nos espaços atua sobre esse laboratório de energias incandescentes e a condensação dos metais verifica-se com a leve formação da crosta solidificada. É o primeiro descanso das tumultuosas comoções geológicas do globo. Formam-se os primitivos oceanos, onde a água tépida sofre pressão difícil de descrever-se. A atmosfera está carregada de vapores aquosos e as grandes tempestades varrem, em todas as direções a superfície do planeta, mas sobre a Terra o caos fica dominado como por encanto. As paisagens aclaram-se, fixando o luz solar que se projeta nesse novo teatro de evolução e vida. As mãos de Jesus haviam descansado, após o longo período de confusão dos elementos físicos da organização planetária. Encontramos aqui o segundo dia da gênese mosaica: “Faça-se o firmamento no meio das águas, haja separação entre águas e águas. E Deus fez o firmamento; e separou as águas que estavam embaixo das que estavam em cima do firmamento. E assim foi. E Deus deu ao firmamento o nome de céu; e foi a tarde e a manhã do dia segundo”.

Jesus e os Trabalhadores Divinos haviam vencido todos os pavores das energias desencadeadas, lançando o escopro da sua misericórdia sobre o bloco de matéria informe, que a Sabedoria do Pai deslocara do Sol para as sua mãos augustas e compassivas. Operou a escultura geológica do orbe terreno, talhando a escola abençoada e grandiosa, na qual o seu coração haveria de expandir-se em amor, claridade e justiça. Com os seus exércitos devotados, estatuiu os regulamentos dos fenômenos físicos da Terra, organizando-lhes o equilíbrio futuro na base dos corpos simples de matéria, cuja unidade substancial os espectroscópios terrenos puderam identificar por toda a parte no universo galáxico. Organizou o cenário da vida sob as vistas de Deus, o indispensável a existência dos seres do porvir. Fez a pressão atmosférica adequada ao homem, antecipando-se ao seu nascimento no mundo, no curso dos milênios; estabeleceu os grandes centros de força da ionosfera e da estratosfera, onde se harmonizam os fenômenos elétricos da existência planetária, e edificou as usinas de ozone a 40 e 60 quilômetros de altitude, para que filtrassem convenientemente os raios solares, manipulando-lhes a composição precisa à manutenção da vida organizada no orbe. Definiu todas as linhas de progresso da humanidade futura, engendrando a harmonia de todas as forças físicas que presidem ao ciclo das atividades planetárias. A ciência do mundo não lhe viu as mãos augustas e sábias na intimidade das energias que vitalizam o organismo do Globo. Substituíram-lhe a providência com a palavra natureza, em todos os seus estudos e análises da existência. E quando serenaram os elementos do mundo nascente, quando a luz do Sol beijava em silêncio a beleza melancólica dos continentes e dos mares primitivos, Jesus reuniu nas alturas os intérpretes divinos do seu pensamento. Viu-se então descer sobre a Terra, das amplidões dos espaços ilimitados, uma nuvem de forças cósmicas, que envolveu o nosso imenso laboratório planetário em repouso. A imensa fornalha atômica estava habilitada a receber as sementes da vida e, sob o impulso dos Gênios Construtores, que operavam no orbe nascituro, vemos o seio da Terra recoberto de mares mornos, invadido por gigantesca massa viscosa a espraiar-se no colo da paisagem primitiva. Daí a algum tempo, na crosta solidificada do planeta, como no fundo dos oceanos, podia-se observar a existência de um elemento viscoso que cobria toda a Terra. Estavam dados os primeiros passos no caminho da vida organizada. Com essa massa gelatinosa, nascia no orbe o protoplasma, embrião de todas as organizações do globo terrestre, dessa geléia cósmica, verte o princípio inteligente, em sua primeiras manifestações. Trabalhadas, no transcurso de milênios, pelos operários espirituais que lhes magnetizam os valores, permutando-os entre si, sob a ação do calor interno e do frio exterior, as mônadas celestes exprimem-se no mundo através da rede filamentosa do protoplasma de que se lhes derivaria a existência organizada no Globo constituído. Séculos de atividade silenciosa perpassam, sucessivos...

Aparecem os vírus e com eles, surge o campo primacial da existência, formado por nucleoproteínas e globulinas, oferecendo clima adequado aos princípios inteligentes ou mônadas fundamentais, que se destacam da substância viva, por centros microscópicos de força positiva, estimulando a divisão cariocinética. Evidenciam-se, desde então, as bactérias rudimentares, cujas espécies se perderam nos alicerces profundos da evolução, lavrando os minerais na construção do solo, dividindo-se por raças e grupos numerosos, plasmando, pela reprodução assexuada, as células primevas, que se responsabilizariam pelas eclosões do reino vegetal em seu início. Milênios e milênios chegam e passam...

Sustentado pelos recursos da vida que na bactéria e na célula se constituem do líquido protoplásmico, o princípio inteligente nutre-se agora na clorofila, que revela um átomo de magnésio em cada molécula, precedendo a constituição do sangue de que se alimentará no reino animal. O tempo age sem pressa em vagarosa movimentação no berço da humanidade, e aparecem as algas nadadoras, quase invisíveis, com as suas caudas flexuosas, circulando no corpo das águas, vestidas em membranas celulósicas, e mantendo-se à custa de resíduos minerais, dotadas de extrema motilidade e sensibilidade, como formas monocelulares em que a mônada já evoluída se ergue a estágio superior. Todavia, são plantas ainda e que até hoje persistem na Terra, como filtros de evolução primária dos princípios inteligentes em constante expansão, mas plantas superevolvidas nos domínios da sensação e do instinto embrionário guardando o magnésio da clorofila como atestado da espécie. Sucedendo-as, por ordem, emergem as algas verdes de feição pluricelular, com novo núcleo a salientar-se, inaugurando a reprodução sexuada e estabelecendo vigorosos embates nos quais a morte comparece, na esfera de luta, provocando metamorfoses contínuas, que perdurarão, no decurso das eras, em dinamismo profundo, mantendo a edificação das formas do porvir. Aqui temos o terceiro dia da Gênese mosaica: Que as águas que estão sob o céu se reunam em um só lugar, e que surja o elemento árido. E assim se fez. Deus deu ao elemento árido o nome de terra, e chamou mares as águas reunidas. E viu que era bom. Disse ainda Deus: Que a terra produza erva verde que dê grãos, e árvores frutíferas que dêem frutos cada um segundo sua espécie, e nelas mesmas encerrem sementes para se reproduzirem sobre a terra. E assim foi feito. A terra produziu pois ervas verdes que traziam grãos segundo sua espécie, e árvores frutíferas que encerravam suas sementes em si mesmas, cada uma segundo sua espécie. E Deus viu que era bom. E da tarde e da manhã se fez o terceiro dia”.

 Mais tarde, assinalamos o ingresso da mônada, a que nos referimos, nos domínios dos artrópodos, de exoesqueleto quitinoso, cujo sangue diferenciado acusa um átomo de cobre em sua estrutura molecular, para, em seguida, surpreendê-la, guindada à condição de crisálida da consciência, no reino dos animais superiores, em cujo sangue – condensação das forças que alimentam o veículo da inteligência no império da alma – detém a hemoglobina por pigmento básico, demonstrando o parentesco inalienável das individuações do espírito, nas mutações da forma  que atende ao progresso incessante da Criação Divina. A atmosfera ainda está saturada de umidade e vapores, e a terra sólida está coberta de lodo e pântanos inimagináveis. Todavia, as derradeiras convulsões interiores do orbe localizam os calores centrais do planeta, restringindo a zona das influências telúricas necessárias à manutenção da vida animal. Esses fenômenos geológicos estabelecem os contornos geográficos do globo, delineando os continentes e fixando a posição dos oceanos, surgindo desse modo as grandes extensões de terra firme, aptas a receber as sementes prolíficas da vida. Os primeiros crustáceos terrestres são um prolongamento dos crustáceos marinhos. Seguindo-lhes as pegadas, aparecem os batráquios, que trocam as águas pelas regiões lodosas e firmes. Nessa fase evolutiva do planeta, todo o globo se veste de vegetação luxuriante, prodigiosas, de cujas florestas opulentas e desmesuradas as minas carboníferas dos tempos modernos são os petrificados vestígios.

 “Haja luminares no firmamento do céu, a fim de que separem o dia da noite; e que eles sirvam de sinais para marcar o tempo e as estações, os dias e os anos. E sejam para luzir nos céus, e que eles clareiem a terra. E assim se fez. Deus fez, pois, dois grandes corpos luminosos, o maior para presidir o dia, e o menor para presidir a noite; fez também as estrelas. E as colocou no firmamento do céu para luzir sobre a terra. Para presidir o dia e a noite, e para separar a luz das trevas. E Deus viu que era bom. E da tarde e da manhã se fez o quarto dia”.

Nessa altura os artistas da criação inauguram novos períodos evolutivos no plano das formas. A natureza torna-se uma grande oficina de ensaios monstruosos. Após os répteis, surgem os animais horrendos das eras primitivas. Os trabalhadores do Cristo analisavam a combinação prodigiosa dos complexos celulares, cuja formação eles próprios haviam delineado, executando com as suas experiências, uma justa aferição de valores, prevendo todas as possibilidades e necessidades do porvir. Todas as arestas foram eliminadas. Aplainaram-se dificuldades e realizaram-se novas conquistas. A máquina celular foi aperfeiçoada no limite do possível, em face das leis físicas do globo. Os tipos adequados à Terra foram consumados em todos os reinos da natureza, eliminando-se os frutos teratológicos e estranhos, do laboratório de suas perseverantes experiências. A prova da intervenção das forças espirituais nesse vasto campo de operações, é que, enquanto o escorpião, gêmeo dos crustáceos marinhos, conserva até hoje, de modo geral a forma primitiva, os animais monstruosos das épocas remotas, que lhe foram posteriores, desapareceram para sempre da fauna terrestre, guardando os museus do mundo as interessantes reminiscências de suas formas atormentadas.“Que as águas produzam animais viventes que nadem nas águas, e pássaros que voem sobre a terra, sob o firmamento do céu. Deus criou pois, os grandes peixes, e todos os animais que têm vida e movimento, que as águas produziram cada um segundo a sua espécie, e criou também todos os pássaros segundo a sua espécie. E viu que isso era bom. E os abençoou dizendo: Crescei e multiplicaivos e enchei  as águas do mar; e que os pássaros se multipliquem sobre a terra. E da tarde e da manhã se fez o quinto dia”.

O reino animal experimenta as mais estranhas transições no período terciário, sob as influências do meio e em face dos imperativos da lei de seleção. Mas, o nosso raciocínio ansioso procura os legítimos antepassados das criaturas humanas, nessa imensa vastidão do proscênio da evolução anímica.

Onde está Adão com sua queda do paraíso? Debalde nossos olhos procuram, aflitos, essas figuras legendárias, com o propósito de localiza-las no espaço e no tempo. Compreendemos afinal, que Adão e Eva constituem uma lembrança dos Espíritos degredados na paisagem obscura da Terra, como Caim e Abel são dois símbolos para a personalidade das criaturas.

Examinada, porém a questão nos seus prismas reais, vamos encontrar os primeiros antepassados do homem sofrendo os processos de aperfeiçoamento da natureza. No período terciário a que nos reportamos, sob a orientação das esferas espirituais notavam-se algumas raças de antropóides, antepassados do homem terrestre, e os ascendentes dos símios que ainda existem no mundo, tiveram a sua evolução em pontos convergentes, e daí os parentescos sorológicos entre o organismo do homem moderno e o do chimpanzé da atualidade. Não houve propriamente uma  descida da árvore, no início da evolução humana. As forças espirituais que dirigem os fenômenos terrestres, sob a orientação do Cristo, estabeleceram, na época da grande maleabilidade dos elementos materiais, uma linhagem definitiva para todas as espécies, dentro das quais o principio espiritual encontraria o processo de seu  acrisolamento, em marcha para a racionalidade. Os peixes, os répteis, os mamíferos, tiveram suas linhagens fixas de desenvolvimento e o homem não escaparia a essa regra geral.

Compreendendo-se porém que o princípio divino aportou na Terra emanado da Esfera Espiritual, trazendo em seu mecanismo o arquétipo a que se destina, qual a bolota de carvalho encerrando em si a árvore veneranda que será de futuro, não podemos circunscrever-lhe a experiência ao plano físico simplesmente considerado, porquanto através do nascimento e morte da forma, sofre constantes modificações nos dois planos em que se manifesta, razão pela qual variados elos da evolução fogem à pesquisa dos naturalistas, por representarem estágios da consciência fragmentária fora do campo carnal propriamente dito, nas regiões extrafísicas, em que essa mesma consciência incompleta prossegue elaborando o seu veículo sutil, então classificado como protoforma humana, correspondente ao grau evolutivo em que se encontra.

É assim que dos organismos monocelulares aos organismos complexos, em que a inteligência disciplina as células, colocando-as a seu serviço, o ser viaja no rumo da elevada destinação que lhe foi traçada do Plano Superior, tecendo com os fios da experiência a túnica da própria exteriorização, segundo o molde mental que traz consigo, dentro das leis de ação, reação e renovação em que mecaniza as próprias aquisições, desde o estímulo nervoso à defensiva imunológica, construindo o centro coronário no próprio cérebro, através da reflexão automática de sensações e impressões em milhões e milhões de anos, pelo qual, com o auxílio das Potências Sublimes que lhe orientam a marcha, configura os demais  centros energéticos do mundo íntimo, fixando-os na tessitura da própria alma. É assim que, atingindo os alicerces da humanidade, o corpo espiritual do homem infraprimitivo demora-se longo tempo em regiões espaciais próprias, sob a assistência dos Instrutores do Espírito, recebendo intervenções sutis nos petrechos da fonação para que a palavra articulada pudesse assinalar novo ciclo de progresso.

Contido, para alcançar a idade da razão, com o título de homem, dotado de raciocínio e discernimento, o ser, automatizado em seus impulsos, na romagem para o reino angélico, despendeu para chegar aos primórdios da época quaternária, em que a civilização elementar do sílex denuncia algum primor de técnica, nada menos de um bilhão e meio de anos. Isso é perfeitamente verificável na desintegração natural  de certos elementos radioativos na massa geológica do Globo. E entendendo-se que a Civilização aludida floresceu a mais ou menos duzentos mil anos, preparando o homem, com a bênção do Cristo, para a responsabilidade, somos induzidos a reconhecer o caráter recente dos conhecimentos psicológicos, destinados a automatizar na constituição fisiopsicossomática do espírito humano as aquisições morais que lhe habilitarão a consciência terrestre a mais amplo degrau de ascensão à Consciência Cósmica. “Que a terra produza animais viventes, cada um segundo sua espécie, os animais domésticos, os répteis e os animais selvagens da terra segundo suas diferentes espécies. E assim se fez. Deus fez, pois, as bestas selvagens da terra segundo suas espécies, os animais domésticos e todos os répteis, cada um segundo sua espécie. E Deus viu que era bom.

Disse em segunda: Façamos o homem à nossa imagem e semelhança, e que ele domine sobre os peixes do mar, os pássaros do céu, as bestas, a toda a terra e aos répteis que se movem sobre a terra. Deus criou então o homem à sua imagem, e o criou à imagem de Deus, e os criou macho e fêmea. Deus os abençoou e lhes disse: Crescei e multiplicai-vos, enchei a terra e a submetei, e dominai sobre os peixes do mar, sobre os pássaros do céu, e sobre os animais que se movem sobre a terra. Deus disse ainda: Eu vos dei todas as ervas que trazem seus grãos sobre a terra e todas as árvores que encerram nelas mesmas sua semente cada uma segundo sua espécie, a fim de que vos servissem de alimento. E a todos os animais da terra, a todos os pássaros do céu, a tudo quanto se move sobre a terra, e que seja vivente e animado, a fim de que tenham do que se nutrir. E assim se fez. Deus viu todas as coisas que havia feito; e eram muito boas. E da manhã e da tarde se fez o sexto dia.”

Os dias da Criação, assinalados nos livros de Moisés, equivalem a épocas imensas no tempo e no espaço, porque o corpo espiritual que modela o corpo físico e o corpo físico que representa o corpo espiritual constituem a obra de séculos numerosos, pacientemente elaborada em duas esferas diferentes da vida, a se retomarem no berço e no túmulo com a orientação dos Instrutores Divinos que supervisionam a evolução terrestre.

 

 

GÊNESE ORGÂNICA.

FORMAÇÃO DOS SERES ORGÂNICOS.

 

A Ciência Natural divide a Natureza em três grandes reinos: mineral, vegetal e animal. Os reinos vegetal e animal são estudados pelas ciências biológicas que subdividem os seres vivos em sub-reinos. O reino inorgânico é composto de seres que não possuem vitalidade nem movimentos próprios, sendo formados apenas pela agregação da matéria: os minerais, a água, o ar etc...Na formação primária dos seres orgânicos, isto é, dos animais e das plantas, não entra nenhum corpo especial que não seja igualmente encontrado no reino mineral, dos quais os principais elementos constitutivos são o oxigênio, o hidrogênio, o nitrogênio e o carbono, combinados em diferentes proporções.

Os seres orgânicos são aqueles que absorvem e assimilam o princípio vital, e por esta razão trazem em si uma atividade íntima, que lhes dá a vida; nascem, crescem, reproduzem-se e morrem.

Os seres vivos apresentam uma diversidade muito grande; conhecemos hoje mais de um milhão de espécies animais e cerca de 350.000 espécies vegetais; cada ano que passa, novas

espécies  vêm sendo descritas. Fica compreensível a necessidade de os biólogos disporem de um sistema de classificação que organize esta diversidade.

Em 1735, um botânico sueco, Karl Von Linné (Lineu), publicou um trabalho, o Systema naturae.

Nele propôs um plano de classificação baseado em dois princípios:

1-  O uso de palavras latinas para denominar os grupos de organismos;

2-  O uso de categorias de classificação, constituindo uma hierarquia.

As categorias propostas por Lineu foram:

Reino

Classe

Ordem

Gênero

Espécie

No sistema de Lineu há dois grandes conjuntos: Reino Animal e Reino Vegetal, nos quais ficam incluídos subconjuntos cada vez menores. Neste sistema, dentro de um reino cabem várias classes; numa classe cabem várias ordens; em cada ordem, alguns gêneros e, num gênero, diversas espécies. O critério da classificação era a semelhança entre os organismos.

É importante entender que Lineu, como a maioria dos naturalistas de sua época, era fixista, isto é, acreditava que o número de espécies na natureza fosse fixo, tendo permanecido constante desde sua criação. Achava ele ainda que as espécies permaneciam sem modificação ao longo dos tempos.

Desde o tempo de Lineu, muitos biólogos acumularam dados minuciosos de observação sobre os organismos, em particular informações de anatomia comparada. Além disso um número muito grande de espécies novas foi descrito.

Kardec, em “A Gênese “, capítulo X, item 28,  menciona que “por pouco que se observe a escala dos seres vivos, do ponto de vista de seu organismo, reconhece-se que, desde o líquen até a árvore, e do zoófito ao homem, há uma cadeia que se eleva por graus, sem solução de continuidade, e da qual todos os elos têm um ponto de contato com o elo precedente; seguindo passo a passo a série dos seres, dir-se-ia que cada espécie é um aperfeiçoamento, uma transformação da espécie imediatamente inferior”.

Sabe-se que a natureza não dá saltos, logo, não há demarcações aparentes entre os reinos vegetal e animal, registrando nitidamente esta grande transição. Os zoófitos, ou animais plantas, têm algo dos dois reinos: é o traço de união.

Todos os biólogos atuais aceitam a teoria evolucionista, segundo a qual as diversas espécies de organismos existentes na Terra evoluíram a partir de ancestrais comuns por modificação. Aceita-se hoje que o esquema geral de classificação mais útil deve refletir correlações evolutivas entre os grupos estudados. Os sistemas contemporâneos focalizam então a classificação sob um ponto de vista evolutivo, bem diferente portanto do enfoque fixista de Lineu. Mesmo assim as linhas gerais da classificação lineana continuam sendo usadas. Assim, atualmente usam-se:

Reino

Filo

Classe

Ordem

Família

Gênero

Espécie

Em certos casos, os especialistas acham que estes grupos não são suficientes; usam-se então categorias adicionais, como subfilo, superclasse, subespécie.

Até há pouco tempo, os seres vivos eram reunidos em dois grandes reinos: vegetal e animal. Recentemente surgiu uma nova proposta agrupando os seres em quatro reinos:

1-  Monera - reúne os seres mais simples, unicelulares, sem núcleo diferenciado (procariontes), sem plastos e sem mitocôndrias. São as bactérias e as algas azuis (cianofíceas).

2-  Protista - reúne os seres com núcleo diferenciado (eucariontes) com ou sem plastos e com mitocôndrias, sem tecidos verdadeiros. Há espécies unicelulares, coloniais e pluricelulares.  São as algas, os fungos e os protozoários.

3-  Metaphyta - inclui os vegetais com tecidos verdadeiros, fotossintéticos e com reprodução sexual sempre presente.

4-  Metazoa – inclui todos os seres pluricelulares heterótrofos (sem clorofila) e sem celulose.

 A ciência estuda as diferenças nos corpos físicos e as justificam pelas suas mutações, seleção natural, etc..., mas os Espíritos mostram que as causas estão no corpo espiritual, na presença do fluido vital e, principalmente, do princípio inteligente atuando sobre a matéria. Assim, não foi o primata que desceu da árvore no início da evolução do homem, mas uma nova espécie descendente daquele, o qual permaneceu como tal. Foi seu corpo espiritual que sofreu modificações, dando origem à nova espécie. André Luís relata a evolução dos corpos dos seres orgânicos, a partir dos primórdios da vida terrena, desde os mais simples, os vírus, dando origem ao reino vegetal, até o mais complexo, o homem atual, mostrando que as formas físicas das diferentes espécies são meros filtros de evolução do princípio inteligente, sempre associado ao corpo espiritual.

Todos os órgãos do corpo espiritual e, conseqüentemente, do corpo físico, foram, portanto, construídos com lentidão, atendendo-se á necessidade do campo mental em seu condicionamento e exteriorização no meio terrestre.

É interessante lembrar, ainda, que esta progressão infinita do princípio espiritual, utilizando diferentes corpos, não se processa somente na Terra, mundo físico, mas também no mundo espiritual e em outros mundos. 

Disse Paulo de Tarso (I Cor.,15:44): “Semeia-se corpo animal, ressuscitará corpo espiritual. Se há corpo animal, há também corpo espiritual.” Esta afirmação de Paulo, hoje, é perfeitamente explicada pelo espiritismo.

O princípio inteligente é que faz a viagem evolucional. O embrião humano encerra todos os seus conhecimentos em outros reinos da vida, na potência da sua organização entrópica (o quantum de energia para a vida). O homem corporal, do ponto de vista antropológico, pertence ao Reino Animal, sub-reino Metazoa, classe dos Mamíferos, ordem dos Primatas-Antropóides, família Hominídeos, gênero Homo, espécie Sapiens.

 

Bibliografia:

Curso de Aprendizes do Evangelho 1º Ano ( Edições FEESP)

A Gênese – Allan Kardec (LAKE)

A Caminho da Luz – Francisco Cândido Xavier (FEB)

Evolução Em Dois Mundos – Francisco Cândido Xavier (FEB)

Biologia 2 – César e Sezar (Editora Atual - 6º edição)

O Evangelho Segundo o Espiritismo – Allan Kardec (LAKE)

publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 00:01
link do post | comentar
Domingo, 09 De Maio,2010

ABSURDOS BÍBLICOS

 

a.     Quando eu queimo um touro no altar como sacrifício, eu sei que isso cria um odor agradável para o Senhor (Levíticos 1:9). O problema são os meus vizinhos. Eles reclamam que o odor não é agradável para eles. Devo matá-los por heresia?

b.     Eu gostaria de vender minha filha como escrava, como é permitido em Êxodo 21:7. Na época atual, qual você acha que seria um preço justo por ela?

c.     Eu sei que não é permitido ter contato com uma mulher enquanto ela está em seu período de impureza menstrual (Levíticos 15:19-24). O problema é: como eu digo isso a ela? Eu tenho tentado, mas a maioria das mulheres toma isso como ofensa.

d.     Levíticos 25:44 afirma que eu posso possuir escravos, tanto homens quanto mulheres, se eles forem comprados de nações vizinhas. Um amigo meu diz que isso se aplica a mexicanos, mas não a canadenses. Você pode esclarecer isso? Por que eu não posso possuir canadenses?

e.     Eu tenho um vizinho que insiste em trabalhar aos sábados. Êxodo 35:2 claramente afirma que ele deve ser morto. Eu sou moralmente obrigado a matá-lo mesmo?

f.     Um amigo meu acha que mesmo que comer moluscos seja uma abominação (Levíticos 11:10), é uma abominação menor que a homossexualidade. Eu não concordo. Você pode esclarecer esse ponto?

g.     Levíticos 21:20 afirma que eu não posso me aproximar do altar de Deus se eu tiver algum defeito na visão. Eu admito que uso óculos para ler. A minha visão tem mesmo que ser 100%, ou pode-se dar um jeitinho?

h.     A maioria dos meus amigos homens apara a barba, inclusive o cabelo das têmporas, mesmo que isso seja expressamente proibido em Levíticos 19:27. Como eles devem morrer?

i.     Eu sei que tocar a pele de um porco morto me faz impuro (Levíticos 11:6-8), mas eu posso jogar futebol americano se usar luvas? (as bolas de futebol americano são feitas com pele de porco).

j.     Meu tio tem uma fazenda. Ele viola Levíticos 19:19 plantando dois tipos diferentes de vegetais no mesmo campo. Sua esposa também viola Levíticos 19:19, porque usa roupas feitas de dois tipos diferentes de tecido (algodão e poliester). Ele também tende a xingar e blasfemar muito. É realmente necessário que eu chame toda a cidade para apedrejá-los (Levíticos 24:10-16)? Nós não poderíamos simplesmente queimá-los em uma cerimônia privada, como deve ser feito com as pessoas que mantêm relações sexuais com seus sogros (Levíticos 20:14)?

 

publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 01:19
link do post | comentar

mais sobre mim

pesquisar

 

Maio 2010

D
S
T
Q
Q
S
S
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
16
21
23
29
31

últ. comentários

  • Também não gosto dessas igrejas evangélicas (prote...
  • Este texto bonito. escrever é uma terapia natural ...

mais comentados

subscrever feeds

blogs SAPO


Universidade de Aveiro