DA EXISTÊNCIA DE DEUS
Teomatia
Do grego: Théos – Deus; mathein – conhecimento.
Quando se formula um novo estudo, não há dúvida de que se torna necessário da r as devidas denominações às coisas e às ideias e não se permitir que usem conceitos dúbios ou que sirvam para definir outros aspectos distintos do que se vá estudar, para que não se misturem esses conceitos.
Na atualidade, com o rigorismo, não se admite a existência de um mesmo termo para definir ideias distintas ou que não sejam afins, embora muitos, por ignorância, reajam contra as mudanças que se tenham de fazer; no rigor, chega-se a ponto de padronizar conceitos e delimitá-los, excluindo noções extensivas que não correspondam com precisão à conceituação estabelecida.
Na Teologia, o capítulo referente ao estudo da existência de Deus é denominado Teologia Dogmática, completamente incompatível com os princípios espíritas que não aceitam nenhum dogma, por impositivo. A razão acima de tudo, apesar dos teólogos espíritas.
De qualquer forma, pode-se analisar a existência de Deus pelos três aspectos, o religioso, o filosófico e o científico.
Aspecto religioso
De um modo extensivo, todas as religiões, mesmo as d itas politeístas, admitem um Deus único, supremo, reinando sobre os demais, que não passam de seus vassalos ou seres subordinados inferiores. O mesmo ocorre com as seitas e religiões monoteístas, só que nestas, os demais componentes da corte celestial não têm regalias de deuses nem prerrogativas desse jaez.
Contudo, um conceito geral une todas as ideias: – Deus seria um Ente todo poderoso, responsável por tudo o que exista no imenso Universo.
Para algumas correntes, Deus cria os seres e as coisas pelo simples sopro; seria uma sopradela geral.
Outras dão atributo de “obreiro” e, com esses predicados, Deus faz tudo. E mais, governa o Universo, deleita-se com isso, determina o que deva ocorrer, até a hora em que as folhas das árvores devam cair, predispõe as coisas e manda que isso aconteça com poderes absolutistas. É o Deus antropomórfico, afinal teríamos sido feitos à sua imagem.
Em ambos os casos, trata-se de um Deus pensante que fala com privilegiados, que consagra a seita que o venera, denotando preferência s em detrimento das demais, que dispõe e repõe que comete toda série de vontades, mas que, ao mesmo tempo, é Pai. Pai da Criação: castiga os maus ou os ímpios, os que não se guiam através da respectiva seita e manda punir os hereges.
Bastante discricionário, convenhamos.
O Deus religioso é capaz de cometer uma série de iniquidades em nome da Religião que o professe e ser violento com aqueles que não o aceitem. Não é, pois, de se admirar que o ateísmo tenha sérios argumentos para se contrapor à existência de tão ignóbil criatura; ademais, Ele nunca foi encontrado no Universo pelos pesquisadores, senão pelos religiosos, inspirados, ungidos, potentados da Religião, que chegam a conversar com Ele, tudo sem comprovação, sem esteio, pelo prisma dogmático da aceitação tácita, porque foi o inspirado que o revelou. Deus que chegou a escrever livros, inclusive a Bíblia.
O erro, porém, está nos homens sacerdotais que impingem tal balela e nos fanáticos que a aceitam sem discutir.
Uma outra grave incorreção religiosa é achar que Deus só se preocupa com a Terra, como se fôramos o centro do Universo – influência ptolomaica – e das atenções do Criador, daí a ideia de que tenhamos sua similitude, e todo o resto cósmico, existindo, apenas, para nosso deslumbramento.
Destaca-se ainda um aspecto de circunspecção e adoração a Deus; algumas seitas limitam-se à veneração, outras chegam ao exagero de afirmar que o princípio da sabedoria é temer a Deus – Timor Domini –; enfim, o medo de desagradá-Lo como se o Criador fosse atreito a susceptibilidades dessa natureza, predicado assaz peculiar a muita gente. E temos que amá-Lo adorá-Lo, divinizá-Lo, enfim, arrastarmo-nos submissos a um Senhor que, por essas lendas, exigiria do homem uma subserviência extrema.
Entretanto, o mais curioso, a inda, é dar-Lhe personalidade humana.
Justifica-se tudo isso com uma única explicação: o desconhecimento total do que venha a ser o Supremo Criador. Junte-se a isso uma necessidade imperiosa e premente de se acreditar no Poder extranormal de um Ente que esteja acima de tudo, com predicados humanos, que governe com pulso firme nossos destinos, dispondo a seu bel entender, com um critério duvidoso de justiça, misto de vontades e determinações. E que possa nos ajudar em nossos momentos de aflição, mesmo, por simples apelo do sofredor.
Justifica-se, pois, isso porque o homem, na sua fragilidade, precisa de algo que, para ele, defenda–o contra tudo, até mesmo contra seus defeitos.
Há, contudo, uma conclusão categórica: Deus é eterno.
Aspecto filosófico
Do fanatismo religioso ao pragmatismo filosófico relativo à existência de Deus, a distância é mínima, porque, apesar de usar a razão, escopo da lógica, para garantir que exista um Criador como causa e o Universo como efeito, o filósofo que reflete não encontra explicação para sua afirmativa. Simplesmente assevera que existe. Apesar de usar o critério da verdade pela verdade em seu valor prático, não admitindo que ela seja absoluta, pelo menos, dentro dos nossos conhecimentos, tem Deus absolutista.
Não lhe dá predicados teológicos nem personalidade humana, não lhe cria barbas, deixando à razão de cada um aceitá-Lo como aprouver ou entender.
Surgem, assim, inúmeros pensadores emitindo opiniões em grande parte gritantemente antagônicas, o que não permite que se tenha com exatidão a posição específica da interpretação filosófica a respeito da existência de Deus. Justificam-se: trata-se de correntes de pensadores.
Ele criou as suas leis, afirmam uns; alguns que outros defendem a ideia de que Deus só existe dentro de nós, que Ele seja mero princípio matemático que regulamenta a existência de tudo; há os que O tenham com poderes específicos para dispor o Universo; destaca-se, ainda, o pensamento de que possa ser uma divindade criadora que tudo faz a seu prazer.
Na Teodicéia, a grande preocupação é provar que Deus é justo, em tudo o que ocorre, como já foi dito. E finalmente, para Immanuel Kant, a própria vida em si supõe a existência de Deus; para Blaise Pascal, opondo-se ao jesuitismo da sua época, não entendíamos Deus porque ele é perfeito; David Hume, no seu empirismo, contrapondo-se à razão pura, achava que era uma questão de fé; René Descartes apresentava a prova ontológica para justificar Deus; sem falar no célebre conceito anônimo de que Deus seria o próprio universo.
Aspecto científico
Atualmente, o materialista ateu é tido como a negação da cultura, a desatualização do conhecimento, o pedestal da vaidade; um contraste, sem dúvida, com a posição científica de algumas poucas décadas atrás.
As ciências exatas provam que o Universo não veio do nada, que, por si só, a energia cósmica não poderia se alterar para formar os seres e as coisas; sem ser um princípio espiritualista existencial, garantem que, para que a vida biológica possa existir, por trás dela haverá uma inteligência que transcende à energia dita material, pois a matéria só poderá se apresentar como ser vivo se tiver uma causa (ou agente) atuando sobre ela.
O grande problema tem sido conciliar a concepção do Deus religioso, dominante e predominante na nossa imaginação, prepotente e absoluto, com o que tenha tido o poder e a capacidade de instituir um sistema sideral tão perfeito, com leis imutáveis que nenhuma Vontade Superior seja capaz de modificá-lo.
Daí o grande escrúpulo de designar este ser criador perfeito p elo epíteto religioso e personalístico de Deus.
Há, portanto, o Deus em que os religiosos acreditam o Ente Supremo de que filósofos cogitam e o Agente Estruturador que a ciência admite. No final, são o mesmo, com conotações distintas.
Talvez, por isso, a fim de não ferir susceptibilidades, os maçons, os rosa cruzes e os templários prefiram chamá-lo de Grande Arquiteto do Universo.
A opinião científica que possa se ter desse Supremo Arquiteto do Universo, ou o Agente Criador Maior, ou ainda, a Causa Suprema da formação universal – para evitar chamá-Lo escrupulosamente de Deus e confundi-Lo com a forma religiosa –, parte do discutido e contestado Big-Bang, apesar disso, teoria mais aceita para a formação dos mundos, destinada a justificar a formação cósmica:
Antes da existência do nosso universo (poderia haver outros com outros deuses), admite-se que toda essa energia que se acha em expansão – e que não provém do nada – dando origem às nossas existências, deveria estar integrando outro sistema dominial físico a partir do que um Agente Físico Estruturador – o Deus –, com seus predicados específicos que fogem a qualquer conhecimento do qual possamos dispor, passou a reuni-la sob forma de implosão, num fulcro central (admitido por todos como origem da expansão) até os limites suportáveis de implosão, a partir do qual teria havido a grande explosão ou qualquer outro fenômeno de partida.
Lembra o efeito de um motor a diesel onde este combustível é borrifado dentro de um pistão limitado e comprimido por seu êmbolo; no ponto máximo de compressão o diesel explode, sem necessidade de nenhuma centelha.
Qualquer raciocínio lógico parte da premissa de que, para que se tenha a implosão, necessário se torna a existência do agente implosor. A Ele dá-se, apenas, um predicado muito simples: foi capaz de realizar o fenômeno criando o universo.
É mais do que claro de que esse Deus científico está muito longe do que os religiosos elaboram em sua mente porque Ele não comanda com punhos de ferro, como se fora o timoneiro de um barco, levando-o a seu destino, contra as intempéries das correntezas. O dito Agente Físico, apenas, teria criado o Universo com leis imutáveis, as quais têm que ser rigorosamente cumpridas por tudo e por todos os que possam integrar seu orbe sideral.
O que se oponha a elas será imediatamente corrigido, configurando o que se possa ter como punição contra um ato de rebeldia. Apenas, a cosmo física não admite esse conceito de punição: tudo ocorre segundo os desígnios da lei de equilíbrio que rege o Espaço celeste à qual também estamos sujeitos em nossas prerrogativas existenciais conhecidas como livre-arbítrio.
E, se lembrarmos que, segundo Werner Heisenberg, as partículas também têm vontade própria, não é de se pasmar que o homem, possuidor de uma personalidade mais altiva, incomparavelmente superior, possa também tê-la; e que arque com ela.
Um outro aspecto importante da concepção científica é que o Deus Criador não possui nenhuma identidade com os homens já que, provavelmente, nessa imensidão universal existam seres bem superiores a nós e, como tal, não estando sujeitos à nossa mediocridade, seriam incompatíveis com um Criador antropomórfico. Ou estariam acima Dele, o que se torna inadmissível.
Também se considera que seu domínio de existência – habitação – não seja o ambiente cósmico, isto é, não esteja Ele em seu interior, nem se manifeste à criatura humana, por incompatibilidades de correspondência dominial. Algo matemático.
Veja-se que, em qualquer religião, o seu Deus particular – já que cada uma tem o seu, distinto – está sempre em contato com o missionário que prega a respectiva seita, fala com ele, dá-lhe orientações e determina como deva ensinar seus seguidores. Por vezes, como no caso do Pentateuco, ouve, até, conselhos de Moisés, para que se volva da sua ira.
Nada disso existe em Ciência, porque Deus não tem nem pode ter defeitos humanos, ou seja, os predicados que lhe sejam imputados, mesmo anexos ao prefixo oni que O tornaria superior a tudo. Não pode, ainda, ter privilégios nem ser monopólio de nenhuma corrente ou de nenhuma seita, não se envolve com casos particulares e, como o próprio nome da criação indica, universaliza tudo dentro de um mesmo princípio.
Para isso, há que estar por fora da Criação; eis porque nenhum telescópio, nenhum aparelho de sondagem irá localizar sua habitação. E nenhum cientista terá a infantilidade de colocá-Lo num monte ou numa constelação inatingível como fizeram os gregos com o Olimpo, na treda ilusão de que seus aparelhos jamais possam alcançar tal ponto para verificar a irrealidade da afirmativa.
Conclusivamente, pode-se dizer que esse Agente, o Deus científico, nada se assemelha ao homem, possui predicados próprios compatíveis com seu poder criador, estabeleceu, no ato da formação, todas as leis de equilíbrio universal. Por ser externo ao Universo, não pode ser compreendido pelos humanos nem pesquisado por seus aparelhos.
E, considerando-se que os Espíritos desencarnados são personalidades com os mesmos predicados do encarnado, sem as vestes corpóreas, também eles – que somos nós quando libertos do corpo – não têm esse acesso à compreensão superior.
Universo pulsante e anisotrópico
Ao contrário do que diz a Bíblia e do que afirmam as religiões, as novas descobertas astrofísicas a partir dos estudos de Edwin Powell Hubble, astrofísico norte-americano natural do Missouri, a respeito da curvatura do Universo, este, na forma por que se apresenta, não pode ter sido criação de nenhum Deus, principalmente antropomórfico porque ele é apenas uma fase de uma existência pulsante e que, como tal, vem a ser a repetição de outras existências.
Por que pulsante?
Em decorrência dos estudos, pôde-se verificar que o Universo é uma certa massa de energia em expansão e que, como tal, para se expandir, inicialmente, ela teria que ser implodida em um fulcro central, o que definiria, então, duas etapas, a de implosão e a de expansão que ocorrerá até que se esvaia sua condição de massa de energia comprimida.
Por que anisotrópica?
Porque a implosão não é inversa da expansão. Ou seja, o caminho percorrido nu m caso não é o caminho inverso do outro. O pêndulo vai e volta num movimento isotrópico.
Já o Universo, para ter toda sua energia concentrada no fulcro central, teve algum Agente Supremo atuante que a teria implodido até este fulcro central para dar-lhe condição de existência. Este Agente substituiria o Deus religioso e por ser puramente físico acima de tudo o que exista no Universo, sem sentimentos humanos, teria a perfeição que o Deus antropomórfico não possui. Assim, é capaz de estruturar o Universo a partir do momento em que, depois de reunida no aludido fulcro central, a energia passa a se expandir, segundo leis imutáveis. Eis a perfeição.
Há duas hipóteses, ainda em vigor, a respeito da origem desta etapa em que vivemos. A mais antiga, defendida, dentre outros, por Stephen Hawking, baseia-se na existência dos buracos negros que se transformam em estrelas novas. O Universo seria algo como um buraco negro cuja propriedade vem a ser a de atrair toda energia universal para seu interior, explodindo, em seguida. É o Big-bang analisado sob diversos aspectos e a partir dessa explosão, durante a expansão, seria desencadeada uma série de reações produzidas pelo efeito explosivo, reações essas capazes de estruturar os astros e a vida em si, formando os mundos.
Peca pela própria definição, porque a expansão universal é homogênea e contínua, enquanto que a grande explosão faria dela irregular por causa do distúrbio provocado pela mesma. O fenômeno que se vê quando ocorre qualquer explosão que libere fumaça: ela não s ai de forma constante e uniforme, em todas as direções e sentidos, mas, em catadupa, que não é o que ocorre com a energia universal.
A segunda hipótese surgiu depois que Murray Gell Mann, à frente do acelerador de partículas (FermiLab) da Stanford University, descobriu que as partículas atômicas sofrem influência de agentes – ditos estruturadores – externos ao Universo e que comandam suas ações.
Estes agentes – atualmente chamados de frameworkers – justificariam a formação da partícula sem necessidade de nenhuma outra ação. Viria a ser “a alma” da mesma e que, atuando sobre a energia amorfa do Universo, teria essa capacidade estrutural.
O fenômeno se enquadra na famosa equação de Einstein: E = mc²
Estes agentes pertenceriam a um domínio externo – provavelmente o que chamamos de mundo espiritual – intimamente ligado ao domínio dito material e, como tal, comandaria a existência de tudo, inclusive da “vida” biológica.
Ambas as teorias se encaixam perfeitamente dentro do conceito de existência do Universo, quer pulsante, quer anisotrópico.
Com isso, toda reformulação religiosa se faz necessária para que não se tenha a ideia de que um “Espírito” Supremo, antropomórfico, seja o grande e único responsável por tudo o que existe no espaço sideral. Essa estrutura do Universo está muito acima de qualquer concepção divina e de qualquer super dote de um simples Deus religioso.
O Universo atual seria mera consequência de um outro anterior que, como o nosso, todavia, teria se expandido até esvair-se, quando, então, entraria a “mão de Deus” para fazer com que novamente ele implodisse para recomeçar um novo ciclo de existência.
Esta hipótese elimina a incoerência de um Deus onipotente a fazer tudo a partir da formação do Universo (atual estágio de existência, que seria único) para seu gáudio e prazer, senão, pela necessidade da dar prosseguimento ao processo evolutivo da existência em si.
É difícil aceitar tal hipótese para quem se imbuiu das teses religiosas, só que ela está estribada em observações científicas que comprovam que existem agentes externos à energia cósmica atuando sobre ela e modulando-a, sem dúvida, não só para elaborar um novo sistema planetário – como é o caso do que o observatório Keck II do Haway detectou – em torno da estrela Alfa Centauro, agregando a poeira cósmica, como ainda, a partir da comprovação da curvatura celeste, a conclusão de que este Universo terá fim, quando sua energia atingir à expansão máxima.
E o que resultaria da existência de tudo o que está contido dentro dele? Extinguir-se-ia segundo a “vontade” de um Deus religioso? Ou teria continuidade, como prevê a hipótese científica? E como ficaríamos todos nós?
Na hipótese de se extinguir, para que, então, o processo evolutivo, se tudo acabaria? É, portanto, mais lógico admitir-se que tudo isso terá que ser reaproveitado em nova existência; e se isto é mais provável a ocorrer, também o será como antecedente ao atual estágio por que atravessa todo o sistema cósmico.
Tal posição científica é cômoda para o Espiritismo primeiro, porque, admitindo a existência de um outro domínio externo ao material onde habitariam os estruturadores, assim, estaria a um passo de reconhecer a Espiritualidade como causa de tudo. Destruiria, porém, a hipótese de que o princípio de existência se restringiria apenas à espiritual das criaturas humanas e incluiria, também, os vegetais, os minerais até as partículas subatômicas mais elementares como possuidores deste mesmo princípio, guardadas as equivalências. Isto é assunto para outro capítulo.
E o mais importante de tudo é que obedeceria à lei reencarnatória, ou seja, até a vida do Universo se daria por etapas e formações distintas de novo corpo de existência.
Dessa hipótese, o que não se pode contestar são as descobertas científicas, principalmente as de Gell Mann, que destrói por completo qualquer hipótese materialista da existência das coisas, como supõe Hawking e seus colegas de ideia.
Porém, a necessidade que têm as criaturas em crer num Deus absoluto, onipotente, tido como “pai amantíssimo”, feito à imagem e semelhança do homem, como reza na Bíblia, é que impede que a grande massa humana possa antever nos estudos científicos uma verdade para que se medite no porquê de nossa existência decorrente da formação do Universo a partir de ciclos evolutivos e não mais como uma “criação” divina feita para satisfazer a vontade do Criador.
É mais fácil, contudo, e mais cômodo, bem como conveniente, admitir-se um Deus de “ternura e bondade” capaz de perdoar todos os nossos defeitos, do que nos curvarmos ante a realidade de que teremos que nos reformular por esforços próprios, como admite Kardec ao pregar a “reforma íntima” para que possamos acompanhar a fase evolutiva das existências. Esta hipótese obriga-nos a resgatar os erros para compensá-los – como determina a lei do equilíbrio universal –, o que não é deveras nada agradável.
O homem gosta de se iludir.
Aspecto espirítico (ou teonômico)
Quando Allan Kardec afirmou que Deus seria a causa primária de todas as coisas, apenas, antecedeu-se ao estudo científico, admitindo que nada exista sem que tenha sido por Ele estruturado.
Evidentemente, a grande influência do Cristianismo na formação doutrinária de espíritas fá-los seguir, quase integramente, os preceitos doutrinários estabelecidos pela corrente predominante, mesmo sem o devido amparo filosófico científico.
Kardec foi sóbrio e prudente e, como são suas obras a base natural do Espiritismo, é nelas que temos que buscar a concepção de Deus, contida em O Livro dos Espíritos (LE). Temos que levar em conta, ainda, que nosso estudo se restringe ao nosso Universo e tudo o que se refira a ele, posto que, a existência de algo mais fora dele é mera hipótese.
Assim, Deus, perante o universo, é Incriado, pois é seu criador.
Se Ele existe, deve haver uma causa; mas, se nem sequer conseguimos imaginá-Lo, quanto mais do que decorra!? Além disso, há que se partir de um ponto referencial. Para nós, este é Deus.
Os conceitos de Infinito e Eterno são inteiramente impróprios, por serem, como consta no LE, abstratos e indefinidos perante a concepção humana que não conhece o que possam ser ambas as coisas por inexistentes em seu domínio. Mesmo sendo matematicamente explicáveis, são figuras e, como tais, abstracionistas.
O grande predicado de Deus, conhecido por nós, é ser Único. Evidencia-se isso pela coerência universal: tudo obedece à mesma lei de equilíbrio. Se tivéssemos uma obra feita por diversos autores notar-se-ia, de imediato, a contribuição individual de cada um e não uma unidade contínua. E tudo é válido independente da forma pela qual o Universo tenha surgido.
Os outros predicados são mera formalidade, como explica o aludido livro de Kardec:
Imaterial - todo Espírito o é; só a energia condensada, como se sabe atualmente, é que se transforma em matéria. De qualquer forma, tem-se como mundo material a tudo o que seja formado pela energia (cósmica) em expansão.
Todo poderoso - conceito medíocre que se Lhe dá o homem porque, sendo único e criador, tudo tem que girar em função do seu poder de criação.
PANTEÍSMO
Do grego: pan – tudo; théos – Deus, o Panteísmo é um sistema de doutrina que identifica Deus e o mundo e cuja expressão máxima é Baruc Spinoza (1632 -77), filósofo holandês de origem portuguesa, para o qual não há diferença entre Deus e o mundo, pensamento pontificado em sua obra Tractatus theologico-politicus.
O Panteísmo manifesta-se sob uma forma religiosa e grandiosa nas doutrinas da Índia, segundo a Enciclopédia e, entre os gregos, define uma doutrina filosófica para o estoicismo e o neoplatonismo.
Contudo, ainda é Spinoza que encontra sua expressão mais vigorosa e mais coerente com a ideia de que Deus é único em tudo; é necessariamente uno infinito, independente, simples e indivisível. Em si, possui dois atributos conhecidos por nós: o pensamento e o entendimento. Os seres são nódulos desse atributo.
As substâncias divinas desenvolvem-se conforme as leis essenciais da natureza. Deus é determinado por si próprio, mas dentro de um senso único e irrevogável.
Com Spinoza, tem como consequência o determinismo universal.
Outros autores importantes e de destaque a admitirem o panteísmo são John Gottlieb Fichte (1762 - 1814), alemão de Berlim, discípulo de Kant e Hegel (1770 -1831) – alemão de Stutgart – com seu monismo, considerado uma doutrina científica e que mais recentemente vem apresentar uma hipótese relativista que reconhece os resultados da crítica e do conhecimento.
A eles junta-se Friedich Willelm Joseph Schelling (1775 -1854), também alemão, de Wurtenberg que segue a mesma escola dos compatriotas.
O panteísmo é considerado uma doutrina metafísica que ultrapassa a experiência e pretende atender a essência das coisas. Popularizou-se culpando Deus de tudo.
Sua grande dificuldade é a de não distinguir a causa e seus efeitos. Além do mais, não se pode aceitar a hipótese de que tudo esteja sob-responsabilidade de Deus e nada aconteça sem que Ele o determine (para cada caso) ou assim o queira, pois fere, dentre outros aspectos, o livre-arbítrio. E, ainda, determina que seja ele o responsável, também, pela dor do que sofre.
É um absurdo supor que Deus se preocupe com tudo e com cada coisa, minuciosamente, que possa ocorrer e que venha a dar uma solução para cada caso, de acordo com seu julgamento, o que tornaria um paradoxo ter um Criador perfeito reunindo predicados antagônicos: ser onipotente e não evitar que ocorram fatos contrários à sua doutrina, como o religioso o prega. Fazer com que tudo aconteça segundo Sua vontade é negar a própria lei de criação, é admitir que permita a maldade a seu prazer, e que o destino de cada um seja por Ele traçado e determinado.
E onde ficaria a lei universal? Seria contrariada a cada instante, como se fosse uma lei de trânsito que se possa desrespeitar impunemente, se o guarda não vir. Enfim, por absurdo e contrário ao determinismo e ao livre arbítrio, os conceitos panteísta s são antagônicos ao que se tenha como perfeito.
Conclusão – Finalmente, é tácito, como afirmaram os Espíritos a Kardec, que o homem não pode compreender nem fazer ideia do que seja Deus porque, para tanto, falta-lhes sentido. Estamos restritos, segundo os pesquisadores modernos, a dezoito deles, faltando uma série já caracterizada, como o sentido que detectaria a quarta dimensão energética e, com estes, restringimo-nos ao que nos cerca. E tudo indica que essa situação prevaleça na Erraticidade.
Quanto às dimensões, basta lembrarmos que, se perdermos um dos três aneizinhos de nossos ouvidos, perderemos também a noção dimensional a ele correspondente. Nós não possuímos os anéis dimensionais necessários para penetrarmos no domínio de existência de Deus.
Em Teonomia teremos que nos contentar com as especulações científicas e as prudentes observações do LE.
Resumindo, o que se pode afirmar é que Deus está acima de tudo e de qualquer compreensão humana.
Suas leis imutáveis comandam a existência universal dentro do que todos nos enquadramos e que, como tal, a elas estaremos sujeitos. Tudo o que possa ocorrer conosco se restringe ao cumprimento único de tais leis. A perfeição será esse fiel cumprimento. Enfim, o que se define como sofrimento não é senão a consequência natural das determinações de equilíbrio a que estamos sujeitos e que nos leva às devidas correções do que tenhamos feito de errado.
Carlos Imbassahy – obra: E... Deus Existe?