VONTADE
Dentre tantos atributos essenciais da alma humana tais como livre-arbítrio, consciência de si mesma, inteligência, racionalidade, percepções, a vontade é, inquestionavelmente, um dos principais.
O ser humano, embrutecido em suas origens, tem sido ajudado a caminhar na esteira do tempo por sua vontade. Das brumas do passado aos dias atuais aprendeu a discernir e poder alcançar o senso moral mas ainda hoje não conseguiu adaptar-se à observância das leis naturais. Caminha em largas passadas em inteligência, porém arrasta-se lentamente em moralidade. Transgride reincidentemente as normas divinas, notadamente o postulado universal do amor ao próximo descerrado ao Mundo pelo Divino Mestre. O cediço hábito de ferir é ainda frequente entre as pessoas.
Jesus desceu das luzes do infinito para viver entre os homens arrostando imperfeições, e aflições de toada ordem, sem jamais deixar de tolerar incompreensões, de socorrer, aliviar, curar e encaminhar as criaturas no meio das trevas mais densas do Planeta. Para implantar no solo da Terra a Sua Doutrina recomendou a seus discípulos: “Ide e pregai”.
Hoje, próxima do terceiro milênio da Era Cristã, a Humanidade necessita urgentemente assimilar as verdades da Doutrina Consoladora e Esclarecedora por Ele enviada para se libertar do erro, da ignorância, dos sofrimentos. Fincada definitivamente a bandeira do Espiritismo Cristão, incumbe a seus adeptos conscienciosos espalhar as luzes da sublime candeia da Nova Revelação sob o lema de Deus, Cristo e Caridade.
O Espiritismo é a senda da verdade, a luz que clareia a via do destino. As almas desviadas dos rumos do bem se entediarão de errar e sofrer e serão despertadas do longo letargo da ignorância e das maldades. Suas vontades as conduzirão aos pagos onde se edifica o bem. As que obram com Deus encontram o lenitivo para os sofrimentos, a medicação contra os males.
A sociedade humana exibe muitas chagas morais abomináveis: o egoísmo, a cobiça e ambição delirantes, as guerras, a violência de várias feições, o consumo e o mercado de drogas, vícios e desregramentos diversos, e tantas outras. A descrença em Deus, o desconhecimento de Suas leis fazem com que os portadores dessas nódoas ignorem que têm encontro marcado com a Soberana Justiça Divina.
Por outro lado, grande parte dos homens se esquece de que pequena parcela do supérfluo do que possui é suficiente para minorar a fome, amparar crianças órfãs e desvalidas, idosos desprotegidos e vítimas dos infortúnios. A dureza dos corações é, muitas vezes, o carrasco do erro e da injustiça. Bastaria que se unissem as vontades de socorrer, não com simples esmolas, mas com a ajuda efetiva ou seja, o desejo de cumprir o dever de fraternidade. A certeza da vida futura e a consciência de que somos irmãos, filhos do Pai eterno, sustentam os esforços nesse sentido.
Nossas ações devem estar voltadas para o futuro. Não devemos perder de vista em nenhuma delas que as suas consequências são inexoráveis. Passado, presente e futuro são sempre solidários. O porvir mais próximo ou mais distante nos reserva o efeito das nossas práticas de hoje, isso rigorosamente em decorrência do bem ou do mal que delas resultem, tudo de conformidade com as leis da Divina Providência.
A descrença na vida futura é uma das principais causas do egoísmo, do orgulho e das vicissitudes deles decorrentes. Quando as pessoas somente praticarem o bem não haverá necessidade dos resgates dolorosos. Numa sociedade fraterna em que todos se ajudarem mutuamente, todos serão venturosos. Isso não é utopia. A razão pura nos informa que é perfeitamente realizável. Para tanto o imprescindível é a evolução, a educação em sentido amplo a nos conduzirem às verdades da existência de Deus, da imortalidade da alma, das vidas sucessivas, das leis naturais.
Pelo progresso já feito verifica-se, sem dificuldade, que a evolução não tem termo. Fácil é, pois, entender que há mundos ditosos onde impera a fraternidade e a prática do bem é usual, sendo os sofrimentos limitados à transformação natural da matéria, excluídos, portanto, os resultantes da prática do mal.
Desde que se alcance a consciência da verdade, o desejo de progredir é a poderosa alavanca da evolução e quanto mais se oferece à vida mais ela devolve.
A expressão da vontade varia de um para outro indivíduo. Sendo manifestação da alma revela-se de acordo com o seu grau de adiantamento. Na erraticidade pode não ser a mesma a vontade do Espírito quando encarnado, podendo, também, ser superior às suas forças.
A vontade dos maus está costumeiramente voltada para a inveja, a cobiça, a vaidade, para as más tendências, valendo notar, contudo, que não há seres votados permanentemente ao mal, como entendem algumas crenças, o que atentaria contra a Justiça e a Sabedoria das leis naturais.
Submeter-se à vontade de Deus é o meio seguro de incrementar o progresso, vencer as provas e expiações. Devemos, pois, nos esforçar para aproximar da d’Ele a nossa vontade, já que essa comunhão de propósitos somente nos fará ditosos.
A Doutrina Espírita ensina também que a vontade do Espírito se modifica à medida que ele evolui, podendo apressar ou retardar o próprio progresso.
Bem ou mal dirigida, a vontade gera alegrias ou arrependimentos. Incumbe a cada criatura, portanto, esforçar-se para se aproximar das virtudes, absorvê-las e cultivá-las a fim de sentir a abençoada presença divina em sua vida. O amor, sumário de todas elas, é o agente e o poder capazes de construir e sustentar a vida, de fecundar e fertilizar a alma.
Muitas vezes as pessoas perdem o ânimo de viver por motivos e razões variados. Chegam mesmo a atentar contra a própria vida. Isso constitui afronta gravíssima às leis de Deus a proporcionar padecimentos futuros angustiosos.
Por outro lado, imenso contingente humano tem pavor da morte, quase sempre devido à descrença na vida futura. Santo Agostinho nos lembra que morremos todos os dias. A morte é, na realidade, a passagem para uma vida melhor sob o ponto de vista de que nos livra dos males da matéria. Contudo, não nos livra dos sofrimentos. Para o homem de bem a morte é ensejo de júbilo que o corpo físico não pode proporcionar. A morte é para os bons o encontro da paz enquanto que para os que se desviam do caminho do bem significa a entrada para o suplício.
As pessoas marginalizadas da sociedade, crianças, adolescentes e adultas, que vagueiam pelas vias públicas em grande número, espalhadas pelos recantos da imensa Nação Brasileira, compõem um quadro de penúria. Muitas, estiradas no chão da Pátria, sem teto e sem alimento, em situação degradante, inferior mesmo à dos animais irracionais. Estômagos vazios ulcerados pela carência de alimentação, pulmões minados pela fome, o corpo exibindo chagas. Já não se trata de pobreza aquela que acompanha o homem há milênios, mas de absoluta miséria. Todas as vistas devem voltar-se para essa realidade aviltante. Há necessidade urgente e imperiosa de enfrentar essa questão, fazer cessar a indiferença, pôr cobro em tal situação ou pelo menos minorar tal degradação.
Criam-se programas e impostos, destacam-se verbas para outras destinações, mas esse problema não tem sido solucionado nem mesmo considerado, não faz parte do sentimento das criaturas, não há vontade de resolvê-lo. Não se trata de retirar das ruas desocupados e mendigos para que não criem embaraços à vida e aos olhos dos transeuntes. Trata-se de encarar um realidade que atenta contra a dignidade da pessoa humana. É tema que diz respeito a todos, governantes e governados, religiosos ou não. A comunidade inteira tem obrigação irrecusável de dar solução a essa questão, venham de que fonte for os recursos necessários.
Queiram ou não os orgulhosos e os insensíveis, essas criaturas em infamante miséria são nossas irmãs e como tais devem ser consideradas e tratadas. Que se tribute com eqüidade a coletividade, até mesmo os próprios beneficiados, mas que encontre termo esse panorama desolador que envilece qualquer civilização.
Nem só de pão vive o homem. Entretanto, não se pode nem pensar em fazer discurso ou pregação de qualquer natureza ou procedência para os que têm permanentemente o estômago vazio e o corpo dilacerado pelos pedrouços da vida. É inelutável a necessidade de combate às causas profundas que dão origem a esses quadros tristes. Mas não há como esperar os resultados de outras medidas que possam ter repercussão sobre esses casos. O socorro e o amparo a essas criaturas devem ser urgentes. Quem não prestar colaboração nesse sentido está cometendo infração moral contra a Humanidade.
Neste momento não devemos levar em consideração se merecem ou não ser socorridas todas essas criaturas. Embora saibamos da existência das que preferem morrer na indigência a trabalhar, jamais devemos esquecer que também essas devem ser socorridas, eis que são portadoras de enfermidades da alma e que, por sua vez, serão um dia curadas. A distribuição da infalível justiça cabe às leis de Deus. A nós, filhos do Senhor da Vida, segundo as mesmas leis, incumbe a prática da caridade. .
Reformador Jan.99