CARTA AOS COMPANHEIROS

"Fora da Caridade não há Salvação." (Allan Kardec)
Compreensível e mesmo aceitável que valorosos companheiros de lides espiritistas, influenciados pelas conquistas das Ciências e da tecnologia modernas, pensem em transferir, para imediata aplicação nos arraiais do Movimento Espírita, os melhores recursos, bem como a metodologia mais atuante, objetivando resultados felizes, que respondam por uma coerente divulgação e vivência da Doutrina. Nenhuma restrição nos parece passível de oposição a cometimento tão valioso, desde que não exorbite dos justos limites do bom senso.
O Espiritismo permite ser favorecido, na sua atuação, com as conquistas feitas através dos tempos, em considerando as aberturas que faculta aos estudiosos dos diversos ramos do conhecimento humano.
Um certo excesso de entusiasmo, porém, vem tomando corpo entre respeitáveis trabalhadores da Doutrina Espírita a favor da adaptação do Movimento a correntes da Informática, num apressar de colocações nem sempre feliz.
Excedem-se no uso de técnicas sofisticadas de administração e de ensino; organizam-se quadros de. tarefas, Inspirados em grandes realizações; traçam-se diretrizes de segurança para os serviços; discute-se quanto à validade ou não dos labores assistenciais; consultam-se especialistas, que opinam e determinam, dando-se, porém, exagerado valor a organogramas e gráficos, estatísticas e mapas, em detrimento do caráter cristão da Doutrina, que não pode ser perdido de vista ou posto à margem como de natureza secundária, em nosso ministério.
O Espiritismo revive o Cristianismo, na sua pureza primitiva, em "espírito e verdade".
Nenhum pieguismo deflui deste postulado, nem receio algum há quanto ao aproveitamento das atribuladas conquistas tecnológicas.
Indispensável, no entanto, tornar o indivíduo espírita antes de outro qualquer tentame, ou seja, mais do que mero conhecedor dos postulados doutrinários, a fim de poder contribuir com o seu conhecimento técnico em favor de uma aplicação realmente valiosa.
O excesso e rigorismo em matéria de organização podem matar a alma do ideal, formando um corpo frio, inexpressivo, que, embora dotado de muita boa apresentação, candidata-se apenas a um movimento competitivo a mais, disputando com os demais ainda vigentes e já falidos, a cujo idêntico risco também se expõe.
Não adotamos a posição de manter-se um Movimento Espírita estanque, a viver as conquistas do passado, infenso aos empreendimentos modernos.
Todavia, os cúmulos de organização e zelo são tão perniciosos quanto a ausência deles.
Discute-se qual a obra mais importante e que merece maior atenção e urgência, olvidando-se os que debatem a palpitante questão a da reforma íntima, intransferível, no indivíduo, essencial dever este que não pode ser considerado como passadismo...
Crêem alguns que a palavra caridade esta intrinsecamente comprometida e, precipitados, propõem terminologia nova, consentânea, afirmam, com a cultura contemporânea.
Atribui-se ao labor de amparo aos necessitados - seja na assistência Imediata ou no serviço social de profundidade -, uma validade discutível, afirmando-se a urgência da divulgação doutrinária como exclusiva meta essencial...
Não estranhemos que a empáfia, em breve, proscreva, também, o caráter essencialmente cristão do Espiritismo, mediante concessões outras absurdas e conexões extravagantes com outras doutrinas, a soldo da Insensatez.
O compromisso de divulgar o Espiritismo é de emergência e relevância, nunca, todavia, em prejuízo da ação da Caridade.
Não foi outro o fenômeno acontecido com o pensamento cristão, ao assimilar as técnicas pagãs e o culto externo do politeísmo, no passado, fazendo causa comum com as suas exterioridades.
Cuidar de estabelecer programas de trabalho e pugnar por um comportamento disciplinado, nas tarefas, sem as Improvisações perniciosas, é dever de todos. Extrapolar deste objetivo para a Implantação de regras e Imposição de decisões personalistas, mediante o perigoso predomínio de um grupo dominador, culturalmente melhor dotado, quiçá sem qualquer vivência doutrinária, que se erige em hierarquia de destaque, convém evitado antes que se agravem as circunstâncias e que a cizânia divida lamentavelmente os trabalhadores e as Entidades, na gleba da Doutrina libertadora.
Há lugar para todos trabalharem; não, porém, como pretensos chefes, hierarquizados perigosamente, com uma deplorável hipertrofia dos valores legitimes interiores e uma Inconseqüente supervalorização dos títulos e conquistas mundanos...
A "realeza" é, sempre espiritual. A superioridade, em nossos labores, é de qualidade moral, merecendo respeito todos os esforços que visem à meta sempre Ingente: melhorar o homem e a comunidade humana, guiando-os para Jesus.
Não sejam esquecidas as origens evangélicas nem desdenhados os humildes, os sofredores, os "filhos do Calvário", o nobre ministério do intercâmbio mediúnico, a utilização das terapias hauridas na vivência da mensagem espírita.
Há excesso de teorias engenhosas, sem dúvida, como de teóricos de alto coturno Intelectual, enquanto escasseiam os operários da ação e se multiplicam as necessidades em toda parte...
Espíritas! Vigiemos, a fim de que mentes hábeis e arguciosas da Espiritualidade negativa, na urdidura e manobra de planos discursivos da realidade do Evangelho, não nos alcancem, relegando-nos à sombra perturbadora da vaidade, quanto da ambição injustificável, em nossas fileiras!
Oremos juntos, meditando nas nossas responsabilidades, oferecendo o melhor ao nosso alcance, sem jactância, não olvidando que o "maior" sempre aquele que, conforme afirmou Jesus, é servo" do seu Irmão menor.
José Petitinga e Vianna de Carvalho
(Página psicografada pelo médium Divaldo P. Franco, em 20-11-1978, no Centro Espírita "Caminho da Redenção", em Salvador, Bahia)
REFORMADOR, FEVEREIRO, 1979
publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 02:50
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