NINGUÉM VEM AO PAI SENÃO POR MIM
No Evangelho segundo Mateus encontramos está orientação de Jesus: “Sede vós logo perfeitos, como também vosso Pai celestial é perfeito (Mateus, 5:48)” para nos indicar a direção correta de chegar até o Pai.
Em João, 14:6 através desta frase "Ninguém vem ao Pai senão por mim" Jesus indica que ninguém vai evoluir se não agir conforme os ensinos que ele nos trouxe, ou seja, ninguém poderá crescer espiritualmente se não fizer da maneira como ele nos ensinou.
Muitos dizem que há uma certa arrogância em tais palavras, mas é que no atual estágio evolutivo em que nos encontramos ainda nos comunicamos através de palavras articuladas, e os pronomes como “eu” ou “mim” soam como uma forma egoística, quando em determinados casos é só um sinal de identificação ou de uma convicção adquirida e estruturada dentro do ser que a pronuncia. Jesus, por sua evolução espiritual, já tinha moral e autoridade suficientes para falar dessa forma. O momento e as circunstâncias exigiram esse discurso. O mesmo não aconteceria se já nos comunicássemos por pensamento, pois que seríamos sempre transparentes e não haveria como esconder o que quer que fosse. Assim, não haveria impressão negativa, e sim a manifestação do sentido intrínseco. O pronome “eu”, apesar de em muitos casos ser simplesmente uma maneira de nos identificarmos, é própria dos mundos como o nosso, onde a maioria ainda nasce com o ego exacerbado. Assim é a Terra. Estamos aqui exatamente para transformar este (e todos os outros defeitos, naturalmente) em qualidades. Um ensino é bom quando se percebe a sua universalidade, ou seja, quando ele não abrange uma única pessoa, um único grupo, um único povo, servindo seu conteúdo para todo e qualquer lugar do Universo, ou quando ele puder ao menos abranger o maior número de seres. E o ensino de Jesus é universalista. E nos coloca sempre em direção a esta hierarquia natural universal do cumprimento dos deveres, dita por São Vicente de Paulo in O Livro dos Espíritos, em resposta à q. 888a.
“NÃO ESQUEÇAIS NUNCA de que o Espírito, QUALQUER QUE SEJA O GRAU DE SEU ADIANTAMENTO, sua situação como encarnado, ou na erraticidade, está sempre colocado entre um superior, que o guia e aperfeiçoa, e um inferior, para com o qual tem que cumprir esses mesmos deveres.” Por isto é que fora da Caridade não há salvação. Aliás, Pedro, em sua primeira epístola 4:8 «Mas sobretudo tende ardente caridade uns para com os outros porque a caridade cobre a multidão de pecados.», também disse igual, embora as novas versões da Bíblia tragam a palavra 'amor' em lugar de 'caridade', alterando o significado original. Ora, se o homem não se colocar dentro dessa hierarquia universal de solidariedade no mais alto grau que é a caridade, não poderá haver harmonia, e conseqüentemente não há como estar com Deus e por Deus; assim, não há como se salvar, já que se coloca numa posição isolada e não de conjunto.
Quando buscamos o verdadeiro significado do amor podemos observar que ele não é um sentimento, mas uma força. E, em se tratando de Deus, o AMOR É A FORÇA QUE REGE O UNIVERSO, e a CARIDADE é um ato de relação (ver resposta a q. 886 in LE) pelo qual deixamos fluir este amor sempre que nos encaixarmos nesta hierarquia universal.
Assim, (LE 888a) amai-vos uns aos outros, é a lei máxima pela qual Deus governa os mundos. O AMOR, por ser uma força, cria um magnetismo que atrai os seres afins e organizados a agirem de maneira harmônica, e a auxiliar os que lhes estão na retaguarda ou mesmo com os seres inorgânicos para desenvolver a Criação primeira de Deus em todos os sentidos. É por isso que tudo se encadeia no Universo, desde o átomo (ou partícula menor que átomo) até o arcanjo. Admirável lei de harmonia, cujo mecanismo somente agora nosso Espírito ainda limitado começa a compreender. (q. 540 de LE).
O homem sempre evolui, praticando o mal ou o bem, pelo mal antes tem que ir até o fundo do poço (ver parábola do filho pródigo) para se conscientizar de que deve buscar o bom caminho. Pelo bem porque é a forma natural e a melhor maneira de crescer. Mas o sofrimento maior são daqueles que ficam sempre em cima do muro (ver parábola dos talentos e q. 642 de LE ), daqueles que têm a oportunidade de fazer o bem e não o fazem por medo ou por comodismo; esses são os que Jesus dizia que haveria choro e ranger de dentes, pois que o remorso é o pior dos sofrimentos já que é a cobrança da própria consciência.
Tudo é uma questão de buscar o sentido pela qual são ditas ou escritas as palavras, frases ou textos, assim como a frase dita por Jesus "...ninguém vem ao pai senão por mim"; com isto concluímos que não se tratou de uma arrogância de Jesus, e sim como uma orientação de estímulo para que o esforço do homem se concentre em conquistar a sua perfeição (através do autoconhecimento contínuo) e assim chegar mais próximo de Deus. Ora, na outra frase que antecede a esta Jesus disse: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida;..." (João, 14:6), onde podemos perceber melhor a sua certeza (fé, convicção), e que lhe dava autoridade moral para se expressar dessa forma. Lendo-se o capitulo 14 do evangelho segundo João em sua totalidade a percepção da autoridade moral de Jesus ficará mais acentuada.
Aliás, Jesus nos conclama em muitas passagens dos Evangelhos a termos esperança e fé, como esta colocada logo no início do capítulo 14 de João: "Não se turbe o vosso coração. Crede em Deus, crede também no que estou vos dizendo - Há muitas moradas na casa do Pai. Se assim não fosse, eu vo-lo teria dito, pois vou preparar-vos o lugar." (João, 14, 1-2) já que através do processo da reencarnação teremos muitas outras oportunidades de refazer o nosso caminho, e se soubermos aproveitar bem cada uma delas nossa evolução se fará sempre mais tranqüila. E uma vez conquistada através das múltiplas reencarnações, tanto a moral como a fé inabalável semelhante à de Jesus, também poderemos dizer com convicção e autoridade moral, indicando um bom caminho para aqueles que estiverem sobre a nossa responsabilidade de orientar: "Eu sou isto ou aquilo", "ninguém conseguirá seguir adiante se não seguir minha orientação."
Em verdade nem sempre podemos nos apegar ao sentido literal das palavras, nem mesmo ao mito ou aparência de ninguém, e sim à essência das coisas, principalmente das lições que as grandes criaturas que passaram pela Terra nos legaram, se desejamos realmente com eles aprender.
Bibliografia:Bíblia sagrada - diversas traduçõesO Livro dos Espíritos - Allan Kardec