NECESSIDADE DA DOR

O sofrimento, é como um processo de limpeza psíquica, e ainda se torna necessário por muito tempo, no tipo de planeta que habitamos. O espírito encarnado é entidade que exige a dor como elemento de apressamento para a Luz! Muito cedo ele se submete ao exercício gradativo de condicionamento à dor, a fim de mais tarde poder enfrentar com êxito o sofrimento cruciante, que é mais comum na fase adulta da expurgação tóxica procedida do perispírito.

A infância do corpo físico, na terra, também é de expurgação dos fluidos perniciosos da alma, quando esta enfrenta as moléstias tradicionais como o sarampo, a varicela, a coqueluche, a caxumba, a furunculose, fenômeno da dentição, etc.

Na verdade, embora muitos possam descrer, tais situações aflitivas tornam-se verdadeiro treinamento que experimenta e gradua a preliminar do descenso mais vigoroso das toxinas psíquicas , prenunciando maiores sofrimentos no futuro; é bem a fase preparatória, que adestra e habilita o espírito para os padecimentos porvindouros; no entanto, infelizmente, as criaturas enquanto expurgam certa dose maléfica de sua carga psíquica, praticam. novos desatinos na vida atual, do que sempre lhes resulta novo acúmulo deletério, que conduzem para a encarnação seguinte, prosseguindo-se o circulo vicioso...

Não convém encarar de modo dogmático as diversas manifestações do sofrimento nas criaturas, pois ele se exerce mais por força de necessidade espiritual do ser, e independente de idade ou qualquer outra imposição pessoal. As moléstias características da infância, e que podem também atacar os adultos, são verdadeiros ensaios que preparam o espírito para a sua maioridade terrena.

A dor, que varia de espírito para espírito, não é específica de certa idade ou época, mas se manifesta de conformidade com as causas íntima de cada criatura, independentemente de raça, cor, credo, temperamento, sexo ou idade. Os germes causadores das enfermidades humanas só proliferam perigosamente quando no organismo do homem se estabelece o terreno eletivo para a eclosão da enfermidade. O êxito microbiano depende fundamentalmente da condição mórbida ou "miasmática", que o próprio espírito cria no corpo devido à sua desarmonia psíquica.

É o miasma da mente doente que atrai os germes patogênicos e os alimenta, fazendo-os acumular-se em certos órgãos ou sistemas do corpo físico. Os microrganismos, na realidade, são os elos intermediários que constituem em pontes virulentas e ajudam os espíritos a despejar na carne torturada os seus venenos psíquicos, de cuja ação e presença estão se identifica um tipo de moléstia característica e devidamente classificada na terminologia médica.

Geralmente a enfermidade, que depois é assinalada pelo médico, quase sempre vem eclodindo insidiosamente durante anos e até séculos nas encarnações do espírito. Pouco importa, pois, que se assegure um diagnóstico e se detalhe com minúcias o curso evolutivo da doença, ou que o conhecimento acadêmico saiba que a coqueluche é afecção produzida pelo germe de Pertussis, o sarampo uma doença exantemática e cutânea, a escarlatina fruto do estreptococo, a meningite do meningococo, a difteria do bacilo de Klebs, a tuberculose oriunda do bacilo de Koch ou que a caxumba é morbo proveniente de estranho vírus.

Sem dúvida, tais explicações técnicas e médicas ajudam muito o facultativo a restringir a moléstia e a evitar os perigos do contágio, combatendo os tipos de germes atraídos pelo terreno subvertido e reforçando a defesa orgânica, todavia, nada disso impede ou soluciona a verdadeira causa mórbida psíquica, que nutre o corpo enfermo e alimenta o micróbio invasor. A harmonia psíquica é a saúde do corpo físico; Não consta em nenhum escrito que Jesus houvesse sido perturbado em sua infância por doenças que a medicina classifica em suas tabelas patogênicas. Também não se sabe que Francisco de Assis houvesse desencarnado vítima de qualquer moléstia adquirida pelo contágio entre os infelizes que ele atendia cotidianamente, pois é indubitável que esses espíritos sublimes não produziam o terreno eletivo e favorável para a nutrição patogênica!

Aqueles que sobrecarregam o perispírito com tóxicos lesivos ao corpo carnal, quando se encarnam tanto podem faze-los eclodir no berço de nascimento físico, como durante a sua infância, na fase adulta, ou na velhice. Assim como as flores e as plantas só brotam e repontam em épocas apropriadas, obedecendo aos ciclos lunares e às estações peculiares do ano; os germes também proliferam no organismo de acordo com certas condições e leis. Desde que eles encontrem fluídos mórbidos que se possam nutrir, então se reproduzem com facilidade. Conforme seja esse fluido enfermiço ou tipo de miasma, tanto pode-se plasmar a coqueluche, a escarlatina, o sarampo, a varicela, o câncer ou a tuberculose.

Não é a classificação acadêmica, nem o tipo de germe isolado com êxito, o que realmente se responsabiliza pela natureza essencial da doença, mas é o espírito enfermo, repetimos: que é pela descarga psíquica deletéria que produz as condições favoráveis para a eclosão da moléstia.

Na história da humanidade, através do tempo, rola a triste melopéia dos sofrimentos humanos; o lamento dos enfermos sobe com uma intensidade dilacerante; a dor segue todos os nossos passos; espreita-nos em todas as voltas do caminho. E, diante desta esfinge que o fita com seu olhar estranho, o homem faz a eterna pergunta:

Por que existe a dor?

A dor é uma lei de equilíbrio e educação. Sem dúvida, as faltas do passado recaem sobre nós com todo o seu peso e determinam as condições do nosso destino. O sofrimento é, muitas vezes, a repercussão das violações das leis cometidas.

A dor física produz sensações; o sofrimento moral produz sentimentos. Mas, no íntimo, sensação e sentimento confundem-se e são uma só e a mesma coisa. O prazer e a dor estão, pois, muito menos nas coisas externas do que em nós mesmos; incumbe, pois a cada um de nós, regulando suas sensações, disciplinar seus sentimentos, dominar umas e outras e limitar-lhes os efeitos. Epicteto dizia: "As coisas são apenas o que imaginamos que são". Assim, pela vontade podemos domar, vencer a dor ou, pelo menos, faze-la redundar em nosso proveito, fazer dela meio de elevação...

É muito difícil as vezes entender que o sofrimento é bom. Cada qual quer refazer e embelezar a vida à sua vontade, adorna-la com todos os deleites, sem pensar que não há bem sem dor, ascensão sem suores e esforços. A tendência geral consiste em fecharmo-nos no estreito circulo do individualismo, do cada um por si; por esta forma, o homem abate-se, reduz a estreitos limites tudo quanto nele é grande, quanto está destinado a desenvolver-se, a estender-se, a dilatar-se, a desferir vôo; o pensamento, a consciência, numa palavra, toda a sua alma.

Os gozos, os prazeres e a ociosidade estéril não fazem mais do que apertar esses limites, acanhar nossa vida e nosso coração. Para quebrar esse círculo, para que todas as virtudes ocultas se expandem à luz, é necessária a dor. As provações fazem jorrar em nós as fontes de uma vida desconhecida e mais bela. A tristeza e o sofrimento fazem-nos ver, ouvir, sentir mil coisas delicadas ou fortes, que o homem feliz ou o homem vulgar não podem perceber. Obscurece-se o mundo material; desenha-se outro, vagamente a princípio, mas que cada vez se tornará mais distinto, `a medida que as nossas vistas se desprenderem das coisas inferiores .

A dor não fere somente os culpados. Em nosso mundo, o homem honrado sofre tanto como o mau, o que é explicável. Em primeiro lugar, o espírito virtuoso é mais sensível por ser mais adiantado o seu grau de evolução; depois, estima muitas vezes e procura a dor, por lhe conhecer todo o valor. Há desses espíritos que só vêm a este mundo para dar o exemplo da grandeza no sofrimento; são, os missionários e sua missão não é menos bela e comovedora que dos grandes reveladores. Encontram-se em todos os tempos e ocupam os planos da vida.

Admiramos Jesus, Sócrates, Antígono, Joana d’Arc e muitos outros; todavia, quantas vítimas obscuras do dever ou do amor caem todos os dias e ficam sepultadas no silêncio e no esquecimento ! Entretanto, não são perdidos seus exemplos; eles iluminam toda a vida dos poucos homens que os presenciaram.

Para que uma vida seja completa e fecunda, não é necessário que nela superabundem os grandes atos de sacrifício, nem que a remate uma morte que a sagre aos olhos de todos. Tal existência, aparentemente apagada e triste, indistinta e despercebida, é , na realidade, um esforço continuo, uma luta de todos os instantes contra a desgraça e o sofrimento. Não somos juizes de tudo o se que passa no fundo das almas; muitas, por pudor, escondem chagas dolorosas, males cruéis, que as tornariam tão interessantes aos nossos olhos como os mártires mais célebres. Seus triunfos ficam ignorados, mas todos os tesouros de energia, de paixão generosa de cada dia, construir-lhes-ão um capital de força, de beleza moral que pode, no além, faze-las iguais às mais nobres figuras da História.

A dor física é, em geral um aviso da natureza, que procura preservar-nos do excessos. Sem ela, abusaríamos de nossos órgãos até ao ponto de os destruirmos antes do tempo. É falso dizer-se que a saúde é um bem e a doença é um mal. As almas fracas, a doença ensina a paciência, a sabedoria, o governo de si mesmas. Às almas fortes pode-se oferecer compensações de ideal, deixando ao espírito o livre vôo de suas aspirações até ao ponto de esquecer os sofrimentos físicos.

 

publicado por SÉRGIO RIBEIRO às 20:20
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